Revista Exame

Os inimigos têm de ajudar Steinbruch a comprar a CSA

O empresário Benjamin Steinbruch vem tocando uma intrincada negociação para convencer velhos desafetos a ajudá-lo na compra da CSA


	 

	Benjamin Steinbruch: ele só não está tentando compor com o governador do Rio
 (Murillo Constantino/EXAME.com)

  Benjamin Steinbruch: ele só não está tentando compor com o governador do Rio (Murillo Constantino/EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 8 de abril de 2013 às 06h00.

São Paulo - Ninguém em sã cons­ciên­cia pode acusar o empresário Benjamin Steinbruch de apatia na hora de defender seus interesses. Nos últimos 15 anos, o controlador da siderúrgica CSN acumulou uma série de inimigos em brigas empresariais notórias. Foi dono da mineradora Vale e, na negociação para deixar o controle da empresa, enfrentou os fundos de pensão de estatais e deixou, ainda, sua cota de desafetos na própria Vale.

Em outra briga famosa, Steinbruch entrou na Justiça contra o todo-poderoso BNDES exigindo uma indenização de 700 milhões de reais, um imbróglio ainda em curso.

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, é seu inimigo declarado. Com Dilma Rousseff a coisa também não anda muito bem: Steinbruch toca obras da ferrovia Transnordestina, caras ao governo federal. Após uma desgastante negociação, recentemente obteve do governo um aumento no valor do contrato e no prazo de entrega da obra. 

Até aí, jogo jogado — não fossem exatamente esses os personagens que podem decidir se Steinbruch fecha ou não um dos negócios mais importantes de sua vida: a compra da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), colocada à venda em 2012 pela alemã ThyssenKrupp.

A CSN fez uma oferta de cerca de 3,8 bilhões de dólares pela CSA, que está sendo vendida em conjunto com uma laminadora da Thyssen nos Estados Unidos. Steinbruch é o único que topa comprar o pacote completo.

A siderúrgica argentina Ternium, que faz parte do grupo de controle da Usiminas, quer apenas a CSA e ofereceu cerca de 500 milhões de dólares. A indiana Arcelor Mit­tal quer só a laminadora americana, por 2 bilhões de dólares.

Aí entra em cena o plantel de inimigos de Steinbruch. O BNDES, maior credor da CSA, tem o poder de vetar o negócio. A Vale, sócia minoritária da siderúrgica, tem o direito de preferência em caso de venda. Os fundos de pensão poderiam entrar como sócios na empreitada. E o governo federal, neste Brasil de hoje, pode fazer o pêndulo ir para um lado ou para o outro.

Nos últimos meses, Steinbruch fez uma peregrinação para seduzir ou driblar seus inimigos. O mais importante  deles é o BNDES. Além de poder vetar o negócio, o banco é fundamental para que a CSN faça a aquisição sem se endividar demais.

Em tese, a siderúrgica tem em caixa 15 bilhões de reais e pode recorrer facilmente a empréstimos. O problema é que, se tomar mais crédito agora, a CSN acenderá a luz amarela em sua classificação de risco.

Hoje, a empresa é considerada grau de investimento, o que indica baixo risco e reduz os custos de sua dívida. Mas, para a agência Standard & Poor’s, com uma dívida já correspondente a quatro vezes seu resultado operacional a CSN está no limite para manter essa nota. “Um aumento relevante da dívida poderia desencadear uma revisão negativa”, diz Rafaela Vitoria, diretora da agência.  


A proposta inicial de Steinbruch para resolver esse problema bateu na trave. Ele queria que o BNDES fosse sócio de uma nova holding siderúrgica, que incluiria a CSN e a CSA, mas a ideia foi rejeitada. O primeiro contato de Steinbruch com o BNDES ocorreu em dezembro, quando o empresário foi até a sede do banco, no Rio de Janeiro, para uma reunião com o presidente, Luciano Coutinho, e alguns diretores.

O banco avisou que não entrará no negócio se Steinbruch não desistir da ação que move contra o BNDES — o processo está no Superior Tribunal de Justiça. Ao mesmo tempo, o empresário bateu na porta dos fundos de pensão. A Petros, fundo dos funcionários da Petrobras, disse não.

Após a trombada inicial, Steinbruch começou a elaborar uma proposta que diminuísse a quantidade de arestas. Nas últimas semanas, as negociações evoluí­ram para uma nova alternativa. O empresário avisou que desistiria da ação se o BNDES entrasse no negócio.

De acordo com a proposta de Steinbruch, o BNDES não se tornaria seu sócio, mas concederia um crédito de 1,5 bilhão de reais diretamente à CSA, e não à CSN, evitando a piora de indicadores financeiros da empresa controlada por Steinbruch.

Bradesco e Banco do Brasil concederiam, então, 2 bilhões de reais em empréstimos à CSN. Nessa estrutura, inicialmente a CSN compraria apenas uma fatia de 26% na CSA. A Thyssen continuaria com 47% por um período, mas daria a gestão a Steinbruch.

Dessa forma, a CSA não seria consolidada no balanço da CSN, evitando aumentar o endividamento da empresa de Steinbruch. Essa estrutura valeria apenas para o negócio no Brasil: a CSN compraria 100% da laminadora nos Estados Unidos, que não tem um endividamento preocupante. A proposta deve ser avaliada pelos alemães nas próximas semanas.

Driblando Cabral

Comprar inicialmente uma partici­pação minoritária na CSA seria uma forma de driblar as resistências de Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro. O histórico de desavenças entre ele e Steinbruch é antigo. Apesar de instalada na cidade de Volta Redonda, no Rio, a CSN tem sua sede em São Paulo e está em constante pé de guerra com o prefeito de Volta Redonda, que milita no PMDB de Cabral.

O governo do Rio deu à Thyssen incentivos fiscais para que instalasse sua fábrica no estado — e cabe ao governador renovar ou não as isenções em caso de troca de controle. Cabral já avisou que optará por não renová-las se Steinbruch comprar a CSA.

Mas, se sua proposta mais recente for aceita pelos alemães, não haverá troca de controle, pelo menos por enquanto. Assim, Cabral poderá espernear à vontade, mas vai ficar mais difícil justificar a revogação das isenções fiscais.


Nada ajuda mais Steinbruch do que a percepção de que a CSA é um mico do qual todos querem fugir. Para as sócias Thyssen e Vale, arranjar uma solução para o enrosco é a prioridade número 1. No caso da Vale, o que importa é manter os contratos de longo prazo de fornecimento de minério de ferro à CSA.

O presidente da empresa, Murilo Ferreira, disse estar acompanhando o processo de venda para “preservar os direitos” da Vale. Inicialmente, temia-se que Steinbruch pretendesse cancelar esses contratos para usar seu próprio minério de ferro (extraído da mina de Casa de Pedra, em Minas Gerais). Mas a equipe do empresário fez chegar à Vale que não pretende mexer nos contratos atuais.

E o governo federal? De acordo com um integrante da cúpula do Ministério do Desenvolvimento, o governo não ajudará Steinbruch — mas, mesmo após as brigas na Transnordestina, não atrapalhará. 

Pelo menos no caso da ThyssenKrupp, a sorte está do lado de Steinbruch. Há motivos de sobra para que os alemães resistam ao brasileiro, já que os dois lados — surpresa! — também têm um passado de brigas (veja quadro ao lado). Mas, hoje, a Thyssen não tem a menor condição de  esnobar ofertas.

A empresa afundou 8 bilhões de dólares na CSA, um projeto que começou a dar errado ainda nas obras iniciais e gerou no ano passado 1 bilhão de reais de prejuízo. As perdas custaram o cargo do presidente da Thyssen, Gerhard Cromme, que renunciou no início de março.  O resultado do périplo de Steinbruch junto a seus desafetos será conhecido nas próximas semanas.

Acompanhe tudo sobre:Benjamin SteinbruchCSACSNEdição 1038EmpresáriosEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasSiderurgiaSiderurgia e metalurgiaSiderúrgicasThyssenkrupp

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda