Revista Exame

A OGX deve continuar no Ibovespa, valendo centavos?

O Ibovespa é um dos únicos índices de ações do mundo que dão importância a empresas como a OGX, cujo papel vale centavos. Não é melhor mudar?


	Painel de cotações da bolsa: um comitê discute se é o momento de alterar o Ibovespa
 (Alexandre Battibugli/EXAME)

Painel de cotações da bolsa: um comitê discute se é o momento de alterar o Ibovespa (Alexandre Battibugli/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 15 de agosto de 2013 às 22h29.

São Paulo - Em 1968, o Brasil tinha mais de dez bolsas de valores, todas irrelevantes para o mercado mundial. Ocorriam, em média, apenas 10 000 negócios por dia nas bolsas do Rio de Janeiro e de São Paulo, então as duas principais do país. As empresas não eram obrigadas a publicar balanços nem a informar quantas ações tinham em circulação.

Calcular o valor de mercado de uma companhia era uma saga. Foi nesse ambiente que surgiu o Índice Bovespa. O objetivo era reunir as ações mais negociadas do país para criar uma referência de desempenho para os investidores. Idealizado pelo economista Mário Henrique Simonsen, o Ibovespa seguiu uma metodologia comum na época.

Os índices de bolsa mais famosos do mundo foram mudando ao longo dos anos. Mas o Ibovespa continuou exatamente igual. E foi criticado por isso. Mas, recentemente, as críticas tornaram-se mais ácidas — e alguns gestores deixaram de usar o indicador como referência.

O declínio das empresas de Eike Batista ajudou a afundar a bolsa brasileira — e evidenciou os problemas da metodologia criada por Simonsen há 45 anos. A principal distorção é provocada pela empresa de petróleo de Eike, a OGX. A companhia abriu o capital em 2008 e passou a fazer parte do Ibovespa à medida que suas ações se tornaram mais negociadas.

Quando a empresa valia muito, ninguém via problema nisso. Hoje, porém, chegou-se a uma situa­ção absurda. A OGX perdeu 90% de seu valor de mercado só neste ano. Suas­ ações valem centavos. Apesar disso, ela responde por 5% do Ibovespa — é a terceira ação mais importante, atrás apenas de Petrobras e Vale.

Acontece um fenômeno semelhante com a incorporadora PDG, que vale 2 bilhões de reais e  representa 2,6% do Ibovespa — mais que a fabricante de bebidas Ambev, maior empresa aberta do país, com valor de mercado de cerca de 260 bilhões de reais. 

Distorções como essas ocorrem porque o volume negociado é o único critério de seleção de empresas para integrar o Ibovespa. Hoje, há 71 papéis representados no índice — os mais negociados têm participação maior. Outras variáveis, como valor de mercado, não são consideradas.

Era assim que funcionavam os índices de ações de quase todas as bolsas no passado, quando era mais difícil obter informações sobre o porte das companhias. Mas, nas últimas décadas, eles mudaram ou foram substituídos por outros indicadores que colocam  o  tamanho da empresa na conta.


Foi o que ocorreu na Inglaterra com o lançamento do FTSE-100, em 1984, e nos Estados Unidos com o S&P 500. Com a crise de 2008, as ações de um ícone americano como a montadora General Motors foram excluí­das do índice depois que passaram a custar menos de 1 dólar. Pelos critérios reinantes no resto do mundo, as ações da OGX já teriam saído do Ibovespa. 

Quem comprou ações da OGX e de outras empresas fundadas por Eike Batista sabia (ou deveria saber) que estava embarcando num investimento de alto risco. O problema é que, quando a OGX começa a ter um peso tão expressivo no principal índice de ações do mercado, esse risco passa a ser de milhares de outros investidores que aplicaram em fundos que seguem o desempenho do Ibovespa.

No começo de julho, o patrimônio desses fundos somava 2,3 bilhões de reais, segundo a consultoria Economática. Se o peso da OGX fosse ponderado por seu valor de mercado, sua participação seria inferior a 0,5% — é o que ocorre no IBrX, índice calculado pela Bovespa que leva em conta o valor de mercado das ações que estão no pregão.

“De forma geral, índices que consideram o tamanho das companhias tendem a representar melhor o mercado”, diz Masha Gordon, vice-presidente responsável pelos fundos de ações de países emergentes da gestora Pimco, que administra 2 trilhões de dólares.

O problema é que o Ibovespa se tornou um termômetro do humor geral da economia brasileira. Ou seja, quanto mais o índice cai, menos confiantes ficam empresários e investidores, o que empurra a economia para baixo. 

Então, por que o Ibovespa continua sendo usado como referência? Não é melhor mudá-lo? Questões como essa vêm sendo discutidas há meses por executivos da bolsa e profissionais de mercado, reunidos num comitê da BM&F Bovespa que tem o objetivo de propor mudanças no Ibovespa — ou incentivar a popularização de outros índices, como o IBrX.

“O Ibovespa tem defeitos, mas ele se tornou uma referência. É o único indicador da bolsa brasileira negociado com liquidez no mercado futuro, e é preciso levar isso em consideração antes de mudá-lo”, diz Armínio Fraga, sócio da gestora Gávea e ex-presidente do conselho de administração da bolsa (procurada, a BM&F Bovespa não comentou o assunto).

Eis o dilema: se o Ibovespa não mudar, aos poucos perderá relevância; mas mudá-lo afetará um parâmetro vital do mercado brasileiro. Qual o caminho menos doloroso para os investidores brasileiros? É o X da questão.

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