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Erdogan reeleito tem missão de estabilizar economia turca, com efeitos para o Brasil

O quebra-cabeça que o presidente da Turquia precisa montar daqui para a frente exige peças com encaixe perfeito, a começar pela taxa de juro

Istambul: poder de compra da população diminuiu nos últimos anos. (Ed Ram/Getty Images)

Istambul: poder de compra da população diminuiu nos últimos anos. (Ed Ram/Getty Images)

Gilson Garrett Jr.
Gilson Garrett Jr.

Repórter de Lifestyle

Publicado em 14 de junho de 2023 às 06h00.

Etiquetas de preços sobrepostas indicando oscilações diárias no valor de produtos básicos vendidos no supermercado. Filas, dificuldades para encontrar itens e prateleiras vazias. O cenário que parece o Brasil da ­hiperinflação dos anos 1980 é na verdade a Turquia em maio de 2023, durante a eleição que reconduziu o presidente Recep Tayyip Erdogan para um terceiro mandato, somando 20 anos no poder. A inflação recorde, que chegou a 58% no ano passado, corrói o poder de compra da população, afeta as reservas internacionais e desvaloriza a lira turca em relação ao dólar.

O quebra-cabeça que o presidente precisa montar daqui para a frente exige peças com encaixe perfeito, a começar pela taxa de juro. Contrariando os manuais econômicos, ele baixou a taxa — na marra — ao menor nível em quase dois anos: 8,5%. O valor deve mudar no curto prazo, avaliam analistas. “Aumentar as taxas de juro para combater a alta inflação apresentaria um impacto negativo no crescimento e, provavelmente, elevaria o nível de desemprego, prejudicando a popularidade de Erdogan”, afirma Emre Peker, da consultoria ­Eurasia Group.

A popularidade é um tema especialmente relevante. Mesmo controlando a mídia, o sistema judiciá­rio e o Parlamento, pela primeira vez o líder disputou um segundo turno, alcançando 52% dos votos válidos. A oposição saiu fortalecida. Ainda assim, não deve promover embates significativos com Erdogan. Tudo depende de quanto ele pesará a mão em temas ligados a direitos humanos e cidadania.

“Assim como o Brasil, o país sai da eleição muito dividido, com o lado da sociedade que não votou nele receoso de que a Turquia se encaminhe cada vez mais para uma autocracia”, afirma Maurício Moura, sócio do fundo Zaftra, da Gauss Capital, e professor da Universidade George Washington, nos Estados Unidos.

O primeiro movimento pós-eleição foi um sinal econômico. Erdogan nomeou Mehmet Simsek ministro das Finanças. Simsek reassume o posto, no qual implementou medidas econômicas convencionais no país de 2009 a 2015. “Eu comparo esse movimento a quando a ex-presidente Dilma Rousseff [PT] indicou Joaquim Levy para a Fazenda, em 2014, mas no fim voltou a ter uma política econômica heterodoxa”, avalia o professor de economia da Faap Sillas de Souza Cezar.

Situação econômica da Turquia

(Arte/Exame)

A dúvida é se Erdogan vai deixar sua popularidade cair para encaixar as peças da economia no lugar correto. Esse movimento pode afetar sua credibilidade com seu principal eleitorado: a classe média, que enriqueceu com o crescimento a galope do produto interno bruto (PIB), com salto de 11,4% registrado em 2021. “O alto custo de vida e as pressões sobre a moe­da estão diminuindo a riqueza das famílias dia após dia e criando um ambiente instável para as empresas locais”, diz Emre Peker.

Reflexos para o Brasil

O colapso da economia turca não seria nada bom para o Brasil. Investidores internacionais, que buscam fundos emergentes, podem sentir uma contaminação e fugir para mercados mais seguros. Além disso, interessa ao mundo a estabilidade política turca. Afinal, o país, mesmo parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), tem uma posição ambígua no contexto da invasão da Rússia sobre a Ucrânia. O cenário e suas possíveis consequências deixam esse quebra-cabeça ainda mais complexo, difícil de ter um encaixe perfeito.  

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