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Turismo — O que é que Salvador tem?

A capital baiana se renova com a construção de hotéis em prédios históricos, restaurantes de comida contemporânea e bares de coquetelaria

O novo hotel Fasano: edifício art déco de 1930 restaurado por Isay Weinfeld  (Hotel Fasano/Divulgação)

O novo hotel Fasano: edifício art déco de 1930 restaurado por Isay Weinfeld (Hotel Fasano/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 28 de fevereiro de 2019 às 05h32.

Última atualização em 28 de fevereiro de 2019 às 05h32.

Ambientada em Salvador, Segundo Sol bem que tentou. Empenhada em retratar a capital baiana como uma cidade cosmopolita e conservada, a última novela das 9 da Globo esmerou-se na pós-produção das infindáveis tomadas aéreas para disfarçar os carcomidos edifícios que marcam o entorno do Elevador Lacerda. Mas a verdade é que eles continuam lá, esmaecidos pelo tempo, muitos inabitados, e que a primeira capital do Brasil, prestes a completar 470 anos, ainda tem um hercúleo trabalho pela frente para repaginar suas áreas degradadas.

A boa notícia é que novos atrativos têm despontado no horizonte. Somados à revitalização do Pelourinho, que enfim restaurou a extraordinária Igreja do Passo, entre outras joias arquitetônicas do século 18, prometem rejuvenescer a cidade que ainda abriga nosso maior Carnaval de rua (no ano passado, 15 milhões de foliões aglomeraram-se em Salvador, ante 9 milhões em São Paulo e 6 milhões no Rio de Janeiro).   

A novidade mais recente rouba a cena na Praça Castro Alves, perto da saída superior do Elevador Lacerda. Trata-se da antiga sede do jornal A Tarde, um edifício de 11 andares e estilo art déco que foi inaugurado em 1930 e, na última década, restaurado sob a supervisão do arquiteto paulistano Isay Weinfeld. A fachada, revestida de argamassa misturada a pó de pedra, ganhou toldos vermelhos que poupam do sol as janelas, antirruído, de madeira. Iluminado por lâmpadas bem amarelas, o letreiro informa que o novo inquilino é o Fasano.

Quem entra no lobby do sétimo hotel do grupo — o próximo será em Trancoso, prometido para o segundo semestre — depara com o mesmo piso de mármore de Carrara e as paredes adornadas com granito verde da época do jornal, que ali se manteve por 45 anos. A porta à direita dá acesso à recepção, com sofás azuis e paredes revestidas de madeira, e a da esquerda revela uma filial do restaurante que dá nome ao grupo e é encabeçado pelo restaurateur Rogério Fasano.

Parece ser o ambiente no qual Isay mais se esmerou. As paredes foram cobertas com fibra de bananeira e enfeitadas com obras de arte garimpadas em ateliês locais. Recipientes de latão originalmente usados na produção de açúcar foram transformados nos majestosos lustres do bar. Predominantemente italiano, o cardápio abre espaço para alguns pratos regionais assinados pela chef Tereza Paim, uma das maiores autoridades em comida baiana.

Sorvete de carvão com creme de limão, do Origem: reinvenção de sabores locais | Tomas Rangel

Inaugurado em dezembro, o hotel estava em obras desde 2014. A demora se deve ao tombamento da fachada e de alguns ambientes pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia. “Vigas e pilares precisaram ser reforçados, o que tornou o trabalho ainda mais minucioso”, lembra Constantino Bittencourt, sócio-diretor do Fasano. Com a mesmerizante Baía de Todos os Santos como pano de fundo, a cobertura abriga uma das piscinas mais convidativas do grupo. As diárias partem de 1.050 reais. 

Outro alento para a hotelaria soteropolitana, que teve 21 baixas nos últimos quatro anos, o Fera Palace Hotel abriu as portas em 2017. Fica na mesma rua do Fasano e ocupa o edifício de 1934 que abrigou o Palace Hotel, tido como o primeiro do gênero no estado a merecer a alcunha de luxuoso. Com arquitetura triangular similar à do icônico Flatiron Building, de Nova York, foi revitalizado por iniciativa do empreendedor mineiro Antonio Mazzafera. Coube ao arquiteto dinamarquês Adam Kurdahl, do escritório Spol Architects, a intrincada reforma do edifício, que incluiu a recuperação da fachada original, da escada principal, de mármore, e de mais de 280 adornos art déco. Também localizada na cobertura, a piscina ombreia com a do Fasano. As diárias são bem parecidas.

Ainda no Pelourinho, a Casa do Carnaval da Bahia virou escala imperiosa mesmo para quem não se imagina dentro de um abadá sacolejando pela cidade ao som de axé e companhia. Aberto em fevereiro de 2018, o memorial tem curadoria do cenógrafo Gringo Cardia, que caprichou na seleção de itens v-isuais, e presta um tardio tributo à folia local. Explica, de maneira didática e surpreendentemente não laudatória, como Salvador acabou virando sinônimo de festa — com as devidas homenagens, claro, a Dodô e Osmar, Luiz Caldas, à turma do Timbalada e demais figuras-chave.

Gabriel Guerra, dono do LariBar | Ligia Skowronski
O restaurante Mistura Contorno: contemporâneos | Ligia Skowronski

O empreendimento Cloc Marina Residence, no Largo 2 de Julho, é mais uma novidade que poupou do abandono uma construção histórica. Foi erguido a partir do casarão que abrigou nos anos 70 a conhecida Boate Cloc. As arcadas de tijolo que dividem o salão do Mistura Contorno, principal chamariz do complexo, datam do século 19. Aberto há três anos, o restaurante de peixes e frutos do mar é uma filial bem mais sofisticada do Mistura, que a chef Andréa Ribeiro mantém em Itapuã há 27 anos. Do teto pendem lustres de cristal Baccarat e as mesas sustentam toalhas de linho e talheres italianos. Um janelão de vidro escancara a vista da Baía de Todos-os-Santos.

O posto de chef baiano do momento pertence a Fabrício Lemos. Determinado a reinventar a culinária local, ele abriu há três anos o contemporâneo Origem, no qual trabalha só com menu-degustação, com 14 etapas. Um shot de cachaça incrementada com alguma fruta da época, como caju e jenipapo, costuma abrir a refeição. Na sequência pode vir o abarajé, um abará frito depois de empanado, e terminar com um sorvete de carvão com creme de limão. “Não sou contra o acarajé ou as roskas, como chamamos as caipiroskas, mas chegou a hora de Salvador reinventar seus sabores”, diz Lemos, que abriu o segundo restaurante em dezembro. Trata-se do Ori, no Horto, especializado em snacks requintados.

E ainda há boas novas etílicas, a exemplo do intimista LarriBar, em Garcia, especializado em drinques e em atividade desde 2017. Desmembrado do restaurante vizinho Larriquerrí, resume-se a um balcão de cimento que serpenteia por boa parte do acanhado salão. Quem faz as vezes de mixologista é o proprietário, Gabriel Guerra, de 31 anos, formado em artes visuais. Ele faz questão de produzir o próprio gelo, cristalino, moldado num recém-adquirido ice ball maker, vários dos bitters e tanto o molho inglês quanto o suco de tomate que vão no bloody mary. “Até há pouco, ninguém dava bola para a coquetelaria aqui”, diz Guerra. “Hoje, todos parecem ávidos por novidades.”

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