Revista Exame

O negócio do flerte na web com o Badoo

O Facebook reúne amigos. Sites de namoro servem para compromissos sérios. Com um modelo inovador, o Badoo é uma das redes sociais que mais crescem no mundo

Badoo: rede social para conhecer pessoas sem compromisso (Reprodução)

Badoo: rede social para conhecer pessoas sem compromisso (Reprodução)

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Da Redação

Publicado em 21 de novembro de 2011 às 17h36.

São Paulo - Entre os grandes trunfos da internet, a criação de maneiras antes impensáveis de conectar computadores e máquinas ocupa lugar hoje incontestável. Mas ainda mais importante é a conexão entre as pessoas. As modalidades de relacionamento entre pessoas na rede sempre orbitaram em torno de dois modelos.

O mais popular deles, representado por empresas como Facebook ou LinkedIn, apoia-se na ideia de reunir amigos e gente conhecida. O outro, pelo contrário, busca aproximar gente que não se conhece, mas que procura alguém para relacionamento duradouro — categoria em que se encaixam os sites de namoro.

Ambos os modelos fazem estrondoso sucesso. De um lado o Facebook, com seus quase 800 milhões de usuários; de outro, sites como o Match.com, que sozinho afirma ser responsável por 6 000 uniões bem-sucedidas por ano. Mas isso será tudo o que a internet tem a oferecer aos relacionamentos pessoais?

É muito provável que não. Considere a trajetória recente do Badoo, um site um tanto desconhecido do grande público, mas que hoje é uma das redes sociais que mais crescem em todo o mundo. Fundada em 2006, a companhia possui atualmente mais de 127 milhões de usuários em 180 países — um terço deles conquistados nos últimos 12 meses.

Ao ritmo de cerca de 125 000 novos cadastros por dia, o Badoo deve terminar o ano com 140 milhões de usuários, mantendo-se à frente do LinkedIn, rede social para profissionais. Com 15 milhões de cadastros, o Brasil é o primeiro país do Badoo em número de usuários.

O sucesso do site é atribuído justamente à descoberta de um ponto intermediário entre os modelos de redes de relacionamento predominantes até agora. Seus objetivos são claros: se os sites de namoro são um espaço para gente de intenções sérias, e o Facebook, uma grande reunião de amigos, o Badoo quer ser a balada da internet.

“Converse, paquere, socialize e divirta-se!”, diz um slogan na abertura do site. Logo acima, surgem sugestões com fotos e informações sobre novos amigos e contatos em potencial. Gente como Rubia, de 24 anos (“Quer beber champanhe com um rapaz”), ou Giovanni, de 32 anos (“Quer ir à praia com uma garota”). 

Uma vez dentro do site, fica-se sabendo quantas pessoas, homens ou mulheres, estão cadastradas em sua região (em algumas cidades do país, o número chega a centenas de milhares). Preencha detalhes sobre suas intenções no site (sugestões incluem “andar de bicicleta”, “contar piadas”, “ir num encontro”) e poderá ver fotos privadas de outros usuários.


A partir daí, como em uma festa regada a música e bebida, logo começam as primeiras tentativas de aproximação entre desconhecidos. Com a diferença, claro, de que todos estão online. 

Trajetória

A história do Badoo lembra pouco a de outras redes sociais de sucesso. Há cinco anos, o site foi lançado no mercado espanhol por Andrey Andreev, um empresário russo. Antes de fundar o Badoo e se mudar para a Espanha, Andreev acumulou experiência em empreendimentos de internet em seu país de origem.

Até pouco tempo atrás, porém, quase nada se sabia sobre ele. Em 2010, a revista Forbes da Rússia o chamou de “um dos homens de negócios mais misteriosos do Ocidente”. No início de 2008 o Badoo recebeu investimento de 30 milhões de dólares do grupo Finam, com sede na Rússia.

Em setembro de 2010, o executivo Bart Swanson, que cuidou da expansão da Amazon na Europa, foi recrutado para ser presidente da operação. Londres tornou-se a sede oficial da empresa. Alçado subitamente ao título de criador de uma das empresas de internet mais badaladas da Europa, Andreev resolveu dar as caras.

“Não acredito que minha imagem possa ajudar nos negócios”, disse ele recentemente em uma rara entrevista. “Mas com o Badoo é diferente. O site funciona, as pessoas adoram e a companhia cresce loucamente.”

Criar na internet um lugar para encontros casuais entre desconhecidos a princípio pode parecer uma ideia simples, fácil de ser copiada. Mas, quando se trata de um negócio que envolve a imagem e a relação entre pessoas na rede, nuances fazem toda a diferença. Um dos principais trunfos de Andreev e sua equipe foi modernizar algumas práticas dos primeiros sites de namoro.

Ao contrário de serviços como Match.com ou eHarmony, o Badoo apostou desde o início em um perfil de usuário interessado em pessoas novas e com pouco comprometimento para assumir um romance sério. Nesse percurso, o Badoo acumula algumas façanhas. 

Em muitos países, Brasil incluído, há mais registros de mulheres do que homens no site (um pequeno milagre se considerado o histórico de sites de namoro tradicionais). Mais do que isso, o Badoo aprendeu a lidar com a vaidade das pessoas no ambiente online — e também a lucrar com isso.


Ao contrário de sites de namoro, que em geral baseiam seus negócios em assinaturas mensais, o Badoo ganha dinheiro com créditos pré-pagos, que dão aos usuários “superpoderes” como visualizar outros perfis sem deixar rastro.

Do lado comercial, a grande vitória do Badoo foi criar um mecanismo semelhante ao sistema de anúncios AdWords, do Google, em que usuários pagam para colocar seu perfil em evidência. A cada segundo, o sistema faz uma espécie de leilão em tempo real para ver quem fica no topo das pesquisas em uma determinada cidade ou região.

Sobe aquele que está disposto a gastar mais dinheiro. Estima-se que cerca de 10% dos usuários hoje aceitem pagar para elevar seu status na rede. Para 2011, o faturamento da empresa é estimado em 100 milhões de dólares. 

Com serviços como esse, o Badoo se inclui no grupo de companhias que apostam em uma relação cada vez mais forte entre os mundos online e offline. Fazem parte desse time, por exemplo, empresas como a rede de geolocalização Foursquare e o site de descontos Groupon.

Para seguir nesse caminho, a nova aposta do Badoo são os smartphones e as plataformas móveis. O aplicativo desenvolvido para iPhone já é um dos mais baixados do mundo para as redes sociais. A ideia é que os celulares tragam ainda mais espontaneidade ao processo.

Onde estiver, em instantes o usuário pode engatar uma conversa com alguém desconhecido, que pode estar a menos de 1 quilômetro de distância. “O que fazemos é acelerar experiências e vivências naturais das pessoas”, afirma Lloyd Price, diretor de marketing do Badoo.

Com sorte, conseguir um encontro com alguém no restaurante mais próximo se transforma em uma questão de minutos. Por outro lado, levar um fora pode levar o tempo de digitação de uma frase: “Não quero”. Não que casos como esse, claro, possam atrapalhar o negócio do Badoo. Muito pelo contrário.

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