Revista Exame

O MIT no poder

Alguns dos homens mais poderosos da economia mundial — entre os quais Ben Bernanke, do Federal Reserve, e Mario Draghi, do Banco Central Europeu — passaram pelo mítico Massachusetts Institute of Technology

Ben Bernanke, Ph.D. pelo MIT em 1979 e Presidente do Federal Reserve Bank fala discursa para formandos do instituto (Darren McCollester/Getty Images)

Ben Bernanke, Ph.D. pelo MIT em 1979 e Presidente do Federal Reserve Bank fala discursa para formandos do instituto (Darren McCollester/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 19 de março de 2012 às 09h14.

São Paulo - Ben Bernanke, presidente do Federal reserve americano, Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, Mervyn King e Charles Bean, respectivamente presidente e vice-presidente do Banco Central da Inglaterra, Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI, Duvvuri Subbarao, presidente do Banco Central da Índia, Stanley Fischer, ex-número 2 do FMI e atual presidente do Banco Central de Israel.

Além de ocupar cargos que os tornam algumas das autoridades mais influentes sobre os rumos da economia internacional, esses senhores guardam outra semelhança entre si. Todos são egressos do departamento de economia do Massachusetts Institute of Technology (MIT) — alguns apenas como alunos de doutorado, outros também como professores.

O MIT sempre teve, é verdade, influên­cia no debate econômico. Tanto Paul Samuelson quanto Robert Solow, dois vencedores do Prêmio Nobel e pilares decisivos na consolidação do departamento de economia do instituto, trabalharam para o presidente John F. Kennedy nos anos 60.

“Mas o que vemos agora é algo novo”, diz James Poterba, professor do MIT e presidente do National Bureau of Economic Re­search, principal organização de pesquisa econômica nos Estados Unidos. “Nunca tivemos tantas pessoas em posição de poder quanto hoje.” 

A forte presença do MIT no cenário macroeconômico atual ficou especialmente visível nos últimos meses. Em novembro, quando a crise fiscal europeia ameaçava ferir ainda mais seriamente o sistema financeiro da região, o presidente do Banco Central da Inglaterra, Mervyn King, convocou uma reunião com os banqueiros centrais das principais economias para decidir o que fazer.

Como resultado da conversa às pressas, seis autoridades monetárias consultadas (além de Bernanke, Draghi e King, Masaaki Shirakawa, do Japão, Mark Carney, do Canadá, e Philipp Hildebrand, da Suí­ça) anunciaram ações coordenadas para injetar liquidez no sistema financeiro — por exemplo, baratearam as linhas existentes de intercâmbio de dólares entre os países.

A decisão reanimou as bolsas de todo o mundo instantaneamente. Na ocasião, King afirmou que a decisão rápida só foi possível porque os banqueiros em questão “confiam uns nos outros”. “Na época em que essas autoridades frequentaram o MIT, as turmas eram muito pequenas e unidas. Ben Bernanke, Olivier Blanchard, Paul Krugman, entre outros grandes economistas da atualidade, estudavam, faziam festa e viajavam juntos”, diz Eliana Cardoso, professora de economia na Fundação Getulio Vargas.

Eliana fez doutorado no MIT entre 1975 e 1978, foi colega de Bernanke e de Kenneth Rogoff, que mais tarde seria economista-chefe do FMI. Após concluir seu curso, Eliana se casaria com Rudiger Dornbusch, uma das estrelas do departamento de economia do MIT, e continuaria a conviver com os grandes nomes da instituição, como Samuelson, Solow, Franco Modigliani e Stanley Fischer.

Não é coincidência que o MIT ganhe proeminência no momento atual. Historicamente, as universidades americanas se dividem em duas vertentes em termos de crenças econômicas. O MIT é atualmente a estrela mais vistosa no espectro onde estão as universidades Harvard, Berkeley, Princeton e Yale, as chamadas escolas de “água salgada”, assim referidas por ser instituições banhadas pelo mar.


Do outro lado estão as escolas de “água doce”, cujo time é formado principalmente pelas instituições da região dos Grandes Lagos americanos, com amplo destaque para a Universidade de Chicago.

Em essência, as escolas de água salgada seguem o que se poderia chamar, com alguma licença poética, de tradição keynesiana — nas palavras do prêmio Nobel Modigliani, um dos pioneiros do departamento de economia do MIT, ser keynesiano é saber que o sistema não converge automaticamente para o pleno emprego na ausência de políticas adequadas.

Banqueiros centrais, por exemplo, estão sempre procurando suavizar os ciclos econômicos, levando bebida quando a festa está no começo e cortando quando a animação ameaça passar do ponto. Os economistas de água doce tendem a defender com mais vigor o laissez-faire na economia.

Na visão moldada em Chicago, largamente influenciada pelo trabalho de outro prêmio Nobel, Milton Friedman, preços e salários se ajustam em resposta aos eventos reais da economia, como mudanças tecnológicas, e políticas anticí­cli­cas apenas geram ruído na economia.

“Os mais puristas chegam até a questionar a própria existência do Banco Central”, diz Carlos Viana de Carvalho, professor da PUC-Rio e ex-economista sênior do Fed de Nova York.

Apesar do domínio dos economistas de água salgada em cargos de gestão, as divergências ideológicas estão no dia a dia dentro e fora da academia. “O debate é acalorado e, como é desejável, existem representantes de ambas as correntes mesmo dentro do Fed”, diz Tiago Cou­to Berriel, professor assistente da Fundação Getulio Vargas, com doutorado em Princeton.

“Enquanto Bernan­ke defende a tentativa agressiva de estimular a economia, Narayana Kocherlakota, presidente do Fed de Minneapolis, teme que um grande desequilíbrio seja gerado por essas políticas.” Trata-se de uma discussão que pode até definir as eleições americanas.

O principal candidato do Partido Republicano, Mitt Romney, é um crítico feroz das políticas de estímulo fiscal colocadas em ação no governo de Barack Obama. Os economistas brasileiros seguem esse debate de perto. O maior temor por aqui é que a resposta americana à crise — com suas­ políticas de estímulo — seja mal-entendida.

O que por lá é visto como uma solução emergencial pode ser usado aqui para justificar uma nova versão do capitalismo de Estado. Não é isso o que se ensina no MIT.

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