Chanel: entre as marcas sofisticadas que abriram recentemente suas primeiras lojas no Brasil (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h38.
Em 1971, uma imigrante belga naturalizada americana lançou nos Estados Unidos a grife de moda que viria a se tornar uma das mais influentes da história. Batizada de Diane von Furstenberg, o nome de sua criadora, a marca de roupas e acessórios femininos foi responsável por sucessos como o wrap-dress, o vestido-envelope, cruzado com um decote em V na altura dos seios e arrematado por um laço traspassado na cintura. A peça chegou ao mercado em 1972 e vendeu 5 milhões de unidades apenas nos três primeiros anos. Ao longo do tempo, o wrap-dress foi ganhando outras versões e até hoje está em todas as coleções e pode ser visto na relação de modelos exibidos por personalidades como Michelle Obama e Madonna. Atualmente, a DVF, sigla pela qual a grife ficou conhecida, tem lojas em mais de 70 países e fatura anualmente mais de 200 milhões de dólares.
No final de março, a empresa abriu seu primeiro ponto de venda no Brasil, no shopping Iguatemi de São Paulo, com a presença da fundadora. "O país é extremamente inspirador e aberto a novidades", disse a EXAME Diane von Furstenberg, hoje com 63 anos. A DVF quer se posicionar no mercado brasileiro num segmento chamado pelos especialistas de "luxo acessível". Na loja brasileira da marca, há modelos de comprimento médio em jérsei de seda por pouco mais de 1 200 reais. O valor não é pequeno, mas vira uma verdadeira pechincha quando comparado aos preços de outras grifes de luxo, inclusive nacionais. Segundo os executivos da marca, nos primeiros meses de funcionamento da DVF no Iguatemi, o investimento superou as expectativas. "Vendemos cinco vezes mais que o esperado no início da operação", afirma Patrícia Assui, executiva que é responsável pelos negócios da DVF no Brasil, sem revelar o faturamento do negócio.
A grife americana faz parte de uma nova onda de companhias de luxo que fincaram suas bandeiras no país nos últimos meses, investindo em lojas próprias (veja o quadro na página anterior). No ramo da indústria automobilística, elas são representadas pelas sofisticadas marcas britânicas Bentley e Aston Martin, que abriram operações próprias em São Paulo nos meses de março e maio, respectivamente. A Bentley chegou a vender seus carros no Brasil durante um curto período na década de 90, por meio da representação dos irmãos empresários Toni e Reginaldo Regino. O atual bom momento da economia brasileira e o potencial de consumo interno do país foram os combustíveis que levaram os representantes da Volkswagen, hoje controladora da Bentley, a abrir recentemente a primeira loja própria da marca no Brasil. No campo da moda e da indústria de cosméticos, empresas como Carolina Herrera e Chanel seguiram o mesmo caminho por razões semelhantes. "Há um natural crescimento e amadurecimento do nosso mercado. Hoje, é importante para a maior parte dessas companhias estar no Brasil, um lugar onde cresce o número de pessoas capazes de consumir de forma diferenciada", afirma Carlos Ferreirinha, consultor em mercado de luxo.
O estouro da bolha financeira acelerou a mudança de geografia das vendas mundiais dos produtos de luxo. Durante os anos 80, era enorme a dependência dessas marcas em relação ao mercado japonês (cerca de 70% do faturamento de algumas delas vinha do Japão). Na década seguinte, a estagnação da economia japonesa impingiu um período de dificuldades às corporações do luxo. Nos anos 2000, o grande mercado mundial é a China. Os ensinamentos da recessão do Japão, porém, parecem ter sido aprendidos. Apesar da relevância da China para esses negócios, as empresas buscam a diversificação dos mercados e a diluição dos riscos. A estratégia da maioria delas é expandir ao máximo a carteira de clientes - e o Brasil aparece como a grande bola da vez, como demonstra a nova onda de empresas do circuito do luxo chegando ao país. Em 2009, mesmo com a crise mundial, o faturamento do segmento superou por aqui a marca de 6 bilhões de reais. E, de acordo com estimativas recentes, as vendas de produtos sofisticados devem crescer 50% no Brasil até o final deste ano.