Revista Exame

Um guia para entender a revolução no setor financeiro

O livro "O Guia Essencial das Fintechs" mostra como startups de finanças estão transformando o mercado e a vida do investidor. Leia um trecho

Sede do Nubank, em São Paulo: competição direta com os grandes bancos  (Germano Lüders/Exame)

Sede do Nubank, em São Paulo: competição direta com os grandes bancos (Germano Lüders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 12 de setembro de 2019 às 05h30.

Última atualização em 17 de setembro de 2019 às 14h53.

Por volta de 2010, começou no Brasil uma revolução no setor financeiro. Surgiram as primeiras fintechs, startups especializadas em finanças. A mudança ainda era silenciosa, mas hoje essas empresas comandam uma grande transformação nesse mercado. Talvez você só tenha ouvido falar do Nubank ou do Guiabolso, mas o Brasil já tem mais de 600 fintechs, de acordo com a Associação Brasileira de Fintechs. Nas plataformas digitais, elas prestam uma gama variada de serviços, como contas, cartões, empréstimos e  investimentos. Mais do que vender produtos diferentes, essas empresas viram do avesso a forma de oferecer serviços financeiros. Elas querem que a relação das pessoas com o dinheiro seja mais fácil e barata. Qualquer semelhança com aplicativos de transporte, como o Uber, ou com plataformas de streaming, como o Spotify, não é mera coincidência.

As centenas de fintechs exploram um mercado em que os bancos são pouco amados, porque as taxas cobradas dos clientes são altas. As fintechs viraram moda. Mas é preciso ficar atento, pois muitas empresas que se consideram fintechs não necessariamente o são. As fintechs são startups — empresas de tecnologia nascentes com alto potencial de escalabilidade — que desenvolvem produtos ou serviços financeiros. Esse conceito, que se originou no Vale do Silício, é subjetivo. Afinal, o que é uma empresa recém-nascida que pode crescer muito?

Não há um marco preciso, mas muitos especialistas consideram o PayPal a primeira fintech do mundo. Fundado em 1999 nos Estados Unidos, o site permite fazer pagamentos e transferir dinheiro sem a intermediação de bancos, bastando cadastrar um cartão. No entanto, a geração fintech ganhou força há menos de dez anos, depois da crise financeira global de 2008. O setor de finanças sempre foi um dos mais poderosos, regulados e concentrados, mas, quando o banco de investimento Lehman Brothers decretou falência, o mundo percebeu o tamanho do problema. Ao falir, a instituição colocou em dificuldades outros bancos, empresas e investidores e gerou uma reação em cadeia. Depois do desastre, o mundo se assustou e deixou para trás o estigma de que o banco é sempre o lugar mais seguro para guardar o dinheiro. A pressão para as instituições financeiras se tornarem mais transparentes aumentou e a concentração financeira virou um problemão.

Tudo isso aconteceu quando a revolução digital estava em pleno curso. Surgia mão de obra qualificada e a Apple e o Google criavam um ecossistema de tecnologia móvel. Logo as pessoas se acostumaram a pedir comida, chamar táxi e alugar filmes pelo smartphone. Resultado? No mundo inteiro, novas empresas passaram a oferecer produtos e serviços financeiros mais fáceis, transparentes e baratos, por plataformas digitais. Hoje, elas querem ganhar dinheiro melhorando a experiência do cliente, não lançando mais produtos. Com o uso das tecnologias, elas conseguem ser mais ágeis e ter custos menores do que os bancos.

As maiores fintechs do mundo ficam nos Estados Unidos, e o Brasil ocupa a posição de protagonista na América Latina, segundo um relatório da Global Fintech Hubs Federation e da consultoria Deloitte. As startups financeiras ganham espaço em um mercado que antes era impenetrável, concentrado há décadas em cinco grandes bancos.

Hoje, as fintechs sobrevivem de duas maneiras: concorrendo com os bancos tradicionais e atuando como parceiras, preenchendo o espaço deixado por eles. Maior fintech brasileira, o Nubank chegou para concorrer diretamente com as grandes instituições, oferecendo cartão de crédito, mas de um jeito diferente. Já outras fintechs vieram para atender quem não tem acesso aos bancos e ajudar a renegociar dívidas ou comparar a infinidade de novos serviços, por exemplo. A maioria das fintechs no Brasil atua em meios de pagamento e crédito, nessa ordem. Este livro não trata das fintechs de meios de pagamento porque a maioria delas é focada em empresas, não em pessoas físicas.

A mudança está só no início

Se fosse um jogo de futebol, a revolução das fintechs estaria ainda nos primeiros minutos do primeiro tempo. Essas empresas são pequenas em comparação com os bancos. O Nubank, maior fintech do Brasil, tinha 5 milhões de clientes em 2018, enquanto o Itaú contava com 70 milhões. Por isso, o impacto das fintechs na economia ainda é limitado. A maioria das empresas opera no vermelho e menos de 20% dizem faturar acima de 10 milhões de reais por ano. Gigantes como Amazon ficaram anos no prejuízo antes de começar a dar lucro. Ou seja: ainda há muito chão para percorrer.

Agência bancária: as instituições tradicionais estão sob pressão | Germano Lüders

Ninguém sabe exatamente quanto e como as fintechs vão crescer. Serão compradas pelos bancos? Abrirão o capital na bolsa? Conseguir investimentos e ganhar escala ainda é difícil. Com verba escassa, elas são especializadas em poucos produtos e serviços financeiros, uma desvantagem para quem está acostumado a resolver tudo no banco. Porém, a tendência é que as fintechs agreguem cada vez mais produtos e serviços e até se tornem bancos, ainda com a promessa de melhorar a experiência do cliente. Por enquanto, elas atraem quem gosta de fazer tudo pelo smartphone, mas devem ganhar fãs à medida que a revolução digital avançar.

O maior desafio das fintechs é conquistar a confiança das pessoas, assim como fizeram Google, Amazon, Facebook e Apple no início das atividades. Só que a tarefa é bem mais complexa no caso das finanças. Afinal, é seu dinheiro que está em jogo. Os gigantes da tecnologia já têm o amor dos usuários, mas, por enquanto, usam o sistema de pagamento dos bancos. E se as fintechs oferecessem serviços financeiros de um jeito que nenhuma empresa fez ainda e competissem com as instituições tradicionais? Aí, sim, tudo poderia mudar. Uma pesquisa realizada pela consultoria Accenture mostra que um terço das pessoas estaria disposto a abrir uma conta no Facebook, no Google ou na Amazon. No Brasil, essa taxa sobe para 50%.

Como toda inovação, a revolução financeira é descentralizada. Ninguém sabe quando e como a mudança vai acontecer, ela simplesmente acontece. ‘Estamos começando a entender o tipo de coisa que podemos fazer’, diz Marcelo Bradaschia, fundador do FintechLab e professor na Fundação Getulio Vargas de São Paulo. O certo é que a transformação está só no início. Para você, pouco importa se os melhores produtos e serviços virão do Google, da Amazon, das fintechs ou dos bancos. Quanto mais concorrência, melhor.” 

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