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Da Redação
Publicado em 17 de novembro de 2011 às 14h21.
O mercado de academias de ginástica pode parecer desanimador até para os empreendedores mais otimistas. Muito pulverizado e informal, com pouca rentabilidade e altos custos de funcionamento, esse nunca foi um setor popular entre investidores.
Ao anunciar recentemente a compra da rede paulistana Fórmula, em julho, o carioca Alexandre Accioly e seus sócios mostraram que estão dispostos a provar o contrário. A aquisição, feita por um valor estimado em 40 milhões de reais, foi a primeira ação visível de um plano para montar a maior rede nacional de academias e levar a Body Tech, grupo resultante dessas aquisições, à bolsa de valores em 2011.
Accioly e seus sócios, entre os quais o herdeiro do grupo Pão de Açúcar João Paulo Diniz e o ex-banqueiro Luiz Urquiza, planejam desembolsar 400 milhões de reais em cinco anos para ter 90 unidades e 200 000 alunos em todo o país. Sem exemplos para seguir no Brasil, o grupo replica por aqui a estratégia do britânico Richard Branson, do grupo Virgin.
Nos últimos três anos, Branson comprou academias em vários países da Europa e já é dono da segunda maior rede do continente. Hoje, a Virgin Active tem 170 academias, 900 000 alunos e fatura cerca de 600 milhões de dólares por ano. "O negócio tem uma imagem sólida, associada ao bem-estar e à qualidade de vida, e tornou-se uma das unidades mais bem-sucedidas do grupo Virgin", diz Accioly.
Diante de um conglomerado como o de Branson, que fatura 20 bilhões de dólares por ano com empreendimentos tão variados como ferrovia, aviação e telefonia celular, um negócio de 600 milhões de dólares ainda é pequeno.
Mas o excêntrico Branson tem um plano de expansão bem definido. Além da Europa, sua rede deve crescer nos Estados Unidos e na Austrália e trabalha para lançar ações na bolsa de Londres já no ano que vem. Em poucas linhas, essa poderia ser também a descrição do que Accioly e seus sócios estão fazendo no Brasil.
Com a diferença que, no caso de Accioly, que tem negócios em ramos como o de restaurantes, hotelaria e entretenimento, as academias de ginástica são, no momento, sua aposta principal.
Depois de enriquecer com a venda de sua empresa de call center, a 4A, para o grupo Telefônica, o empresário carioca tem colhido alguns reveses em seus últimos empreendimentos. A última tentativa de faturar alto, com megaeventos, foi sepultada depois de problemas com a venda de ingressos do show da banda irlandesa U2, há dois anos, e do cancelamento da apresentação do tenor Luciano Pavarotti. "Agora ele só quer saber de academias", diz, em tom de brincadeira, João Paulo Diniz.
A Body Tech não é a primeira academia a planejar uma expansão nacional. Em 2000, a paulista Runner iniciou uma trajetória parecida, que previa até mesmo a oferta de ações na bolsa, mas foi interrompida apenas dois anos depois. A rede chegou a investir na reestruturação societária e na contratação de executivos de mercado.
Tudo parecia ir bem, mas os resultados não apareceram de imediato, os custos de uma estrutura profissional ficaram altos demais e os investidores, alguns deles ex-executivos do Bradesco, se retraíram. Resultado: os planos foram engavetados e a Runner, hoje, só tem academias em São Paulo.
A favor de Accioly está o fato de que ele tem mais capital disponível e o momento econômico do país é outro, bem mais favorável. Tanto é assim que alguns grupos estrangeiros já vêm investindo, com sucesso, por aqui.
O principal deles é a rede americana Curves, que chegou ao Brasil há cinco anos e já tem 50 000 alunas (a rede só admite mulheres entre seus clientes). A própria Runner, atualmente com 13 unidades, tem sido sondada por redes do exterior. Será que, no futuro, o grupo de Accioly terá de enfrentar Richard Branson, seu inspirador, numa competição pelo mercado brasileiro?