Revista Exame

A guerra dos classificados online

A empresa argentina OLX abre escritório no Brasil e desafia o líder Mercado Livre com anúncios gratuitos na internet

Oxenford, um dos fundadores do OLX: startup com presença global (.)

Oxenford, um dos fundadores do OLX: startup com presença global (.)

DR

Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 12h37.

A catarinense Joyce Scheifer é dona de uma lan house no Balneário Camboriú. Como vários moradores da cidade praiana, aluga apartamentos na alta temporada para aumentar a renda do ano. Joyce poderia recorrer a uma imobiliária, mas, ligada em internet, por causa de seu negócio, procurou no Google uma forma de anunciar gratuitamente os imóveis. Descobriu um novo site de classificados online, o OLX, em meados de novembro do ano passado, e foi surpreendida pelo número de retornos. "Metade dos contratos veio por meio do site", diz. A anunciante e seus clientes se encontraram graças ao Google porque o OLX, uma empresa de origem argentina, ainda é relativamente desconhecido no Brasil. Apesar disso, os números contam uma história diferente: o OLX já figura como segundo colocado entre os sites da categoria leilões e classificados, do Ibope NetRatings, a principal medida de audiência da internet no país. Seu crescimento se explica em parte por uma estratégia agressiva de publicidade online (anúncios da empresa têm aparecido com frequência em sites do país) e também graças a uma boa colocação nas pesquisas do Google. Mas existe outro fator que pode mudar a cara dos classificados online no país. O OLX não cobra nada de quem anuncia. Tampouco exige comissão caso a negociação seja finalizada. O modelo de negócios vai de encontro ao do líder Mercado Livre, uma empresa de dez anos e pioneira do mundo ponto-com por aqui. Com a abertura de um escritório em São Paulo, o OLX promete agitar um dos segmentos mais movimentados da web no país: o comércio eletrônico, por onde já passa metade dos internautas brasileiros.

A Online Exchange, nome completo do OLX, é uma empresa jovem em um dos mercados mais antigos da web. Fundado em 2006 por Alec Oxenford, um argentino, e Fabrice Grinda, um americano, o OLX surgiu quando o principal site de classificados gratuitos do mundo, o Craigslist, já tinha uma década de vida. Mas, embora seja dominante nos Estados Unidos, as versões estrangeiras do Craigslist nunca prosperaram (existe até mesmo uma versão dedicada ao Brasil, mas ela nunca decolou). De olho no crescimento da internet nos mercados emergentes, Oxenford e Grinda, colegas de Harvard, decidiram ocupar o vazio. "Somos uma startup global desde o primeiro instante", diz Oxenford. O OLX já recebeu 28,5 milhões de dólares em fundos de capital de risco e, além de Argentina, Brasil e Estados Unidos, tem escritórios também na China, na Índia e na Rússia. Seu faturamento ainda é modesto. Foram mais de 10 milhões de dólares no ano passado. O Mercado Livre, que tem presença em 12 países da América Latina, faturou 123,8 milhões de dólares nos nove primeiros meses de 2009, para um total de 1,9 bilhão de dólares em negócios fechados por intermédio do site.

O MERCADO DE CLASSIFICADOS online cresce a um ritmo estarrecedor. Entre dezembro de 2008 e o mesmo mês de 2009, o segmento cresceu três vezes mais rápido que a população que usa internet no Brasil. "A previsão é que o ritmo continue acelerado, com usuários que deixam de usar somente as redes sociais e os e-mails para usar ferramentas de comércio eletrônico", diz Alex Banks, vice-presidente da empresa de pesquisas em internet comScore para a América Latina. O comando do OLX no país fica a cargo de Rodrigo Ribeirão, ex-gerente de marketing do Mercado Livre. Apesar da diferença de porte das duas empresas, os executivos do OLX acreditam que os usuários serão atraídos justamente pelos anúncios gratuitos. Outra aposta de Oxenford é conquistar um tipo de anúncio que hoje não aparece no concorrente, como classificados pessoais. As receitas do site vêm de anúncios inseridos pelo Google, com o programa AdSense, e também de taxas cobradas de vendedores que queiram dar mais destaque a seus produtos - no Mercado Livre, com algumas exceções, as transações fechadas no site pagam comissão.

A tarefa do OLX, porém, não será simples. O site Que Barato, dos criadores do Buscapé, também oferece classificados gratuitos há quase dois anos e não chegou a incomodar os líderes. Outro ponto importante diz respeito ao efeito de rede. Os vendedores querem estar junto dos compradores, e vice-versa. A liderança do Mercado Livre nesse aspecto é incontestável. Igualmente, um dos maiores desafios para os serviços que facilitam as vendas entre pessoas físicas é a confiança. Ao longo de dez anos, o Mercado Livre criou uma estrutura de atendimento e de segurança que hoje chega a 350 pessoas. O OLX pode mudar a cara dos classificados da web no país - mas antes terá de vencer a guerra contra um adversário de peso. 

Da América Latina para o mundo

O OLX foi criado em 2006 e quer ser o maior site de classificados gratuitos fora dos Estados Unidos

-> Tem 45 milhões de anúncios ativos no mundo
-> Mais de 100 milhões de visitantes únicos por mês
-> Está em 90 países, com escritório em seis deles
-> Já arrecadou 28,5 milhões de dólares em investimentos de empresas de venture capital
-> O site já tem no Brasil a segunda maior audiência na categoria de leilões e classificados

Fontes: empresa e Ibope NetRatings

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