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As pessoas se vão. As informações ficam. Uma nova onda de empresas aposta no mercado do pós-vida digital

Fundadores do 1000memories: 2,5 milhões de dólares em investimentos (Drew Kelly)

Fundadores do 1000memories: 2,5 milhões de dólares em investimentos (Drew Kelly)

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Da Redação

Publicado em 28 de setembro de 2011 às 06h00.

São Paulo - Existe vida após a morte? No mundo virtual, muitas vezes, é possível dizer que sim. Todos os anos, milhões de contas em redes sociais e outras centenas de serviços online continuam ativas depois que seus donos passam para o outro lado.

Sem os dados que dão acesso às contas, quase sempre protegidas por senhas, amigos e familiares pouco podem fazer para apagar ou cuidar de fotos, mensagens e perfis de alguém que morreu. O resultado são os mais variados infortúnios.

O Facebook avisa sobre aniversários daqueles que já morreram; blogs pessoais continuam recebendo comentários tempos depois de um fim abrupto; o LinkedIn sugere adicionar contatos de gente que já se foi.

Estima-se que cerca de 5,7 milhões de contas do Facebook, a maior rede social do mundo, sejam de pessoas que não estão mais entre os vivos.

Até o final de 2011, cerca de 1,7 milhão de cadastros deverão ficar na mesma situação. “Quando criam contas, as pessoas não pensam no que vai acontecer se morrerem”, diz Gil Giardelli, professor de redes sociais da ESPM.

Mas há quem enxergue aí boas oportunidades de negócio. Nos últimos cinco anos, pelo menos 40 startups de internet foram criadas para lidar com informações pessoais deixadas por usuários na rede. Uma delas é a Entrustet, com sede em Wisconsin, nos Estados Unidos.

O serviço funciona como uma espécie de cofre digital. Dentro do site, clientes cadastram dados de acesso a suas contas de e-mail ou redes sociais.

No momento do registro, cada cliente tem direito a apontar beneficiários para as informações. Os valores do serviço variam entre 5 e 300 dólares e podem ser pagos através  de pacotes mensais, anuais ou por toda a vida.


Quando um cliente morre, seus dados são liberados a seus herdeiros mediante apresentação de alguns documentos, como certidão de óbito. “O mercado está crescendo rápido”, diz Nathan Lustig, cofundador da Entrustet.

“Cada vez mais, as pessoas percebem a importância de se preparar para o inesperado.” Em todo o mundo, a empresa soma hoje mais de 5 000 clientes.

Enquanto essas são soluções para um problema exclusivo do mundo virtual, o mercado do pós-vida digital também se ocupa de reproduzir cerimônias comuns fora da rede. Fundada em 2010, a 1000Memories oferece espaço para criação de uma espécie de santuário virtual.

Em um site, parentes e amigos podem reunir lembranças, álbuns de fotos e depoimentos sobre a vida dos que morreram. O serviço representa um avanço em relação a uma função lançada pelo Facebook em 2009, que permite transformar perfis de mortos em “memoriais”. No final de 2010, a 1000Memories recebeu investimento de 2,5 milhões de dólares do fundo de venture capital Greylock Partners.

Apesar do crescente interesse de empreendedores, usuários e investidores em negócios como esses, ainda é difícil estimar o tamanho que o mercado de serviços digitais pós-vida pode alcançar.

“Há muitos investidores de olho nessa indústria, mas a maioria ainda está esperando para ver qual modelo será mais promissor”, afirma Evan Carroll, pesquisador e coautor do livro Your Digital Afterlife (“Seu Pós-Vida Digital”, numa tradução livre), lançado recentemente.

Mas, diferentemente de outros negócios na internet, segundo Caroll, esse é um mercado que tem clientela potencial garantida. Basta estar vivo — e ser usuário de internet.

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