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Fila de banco para quê?

A crise bancarizou milhões de brasileiros — só no Nubank 530.000 receberam auxílio. Simplicidade e autonomia vieram para ficar

 (Moment/Getty Images)

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BC

Beatriz Correia

Publicado em 2 de julho de 2020 às 05h30.

Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 12h09.

Crises podem ser grandes aceleradoras de mudanças de comportamento. As restrições da covid-19, somadas às facilidades das tecnologias digitais de hoje, têm potencial para mudar significativamente a maneira como vivemos. Nossa vida financeira, em especial, também experimentará um “novo normal”. Pagar, receber, transferir, emprestar, investir — nada será como antes, como a própria EXAME vem revelando em suas últimas edições.

Desde que a pandemia começou, o brasileiro está fazendo mais compras online, usando mais cartões ­contactless e aprendendo a fazer diversas transações pela internet. Uma pesquisa realizada pela consultoria Kantar em junho deste ano mostra que 75% dos brasileiros fizeram mais pagamentos digitais durante a quarentena. Usando seus aplicativos no celular, 72% dos pesquisados realizaram transferências, 68% pagaram contas e 75% consultaram extratos ou saldos.

Outro estudo, elaborado pela Mastercard em abril, revelou que 69% dos brasileiros se sentiram encorajados a utilizar pagamentos por aproximação após a pandemia. No Brasil, 63% reduziram significativamente a utilização de dinheiro vivo desde que a crise teve início.

No Nubank as compras com o cartão virtual cresceram desde o começo do isolamento social no país e já representam 30% de todas as transações de nossos cartões de crédito. Também realizado em abril, um levantamento da consultoria Bain mostra que quase metade dos brasileiros ficou mais disposta a usar cartões e celular para fazer pagamentos depois da pandemia. Entre o grupo de baixa renda, esse percentual é de 55%.

Com a crise, muitos dos que não tinham conta bancária acabaram abrindo contas digitais por aplicativo do celular devido a uma questão de força maior: receber o auxílio emergencial do governo. As pessoas que não conseguiram transferir os recursos para bancos digitais ou outras instituições, em alguns momentos, ficaram impossibilitadas de movimentar o dinheiro pelo aplicativo do governo. Resultado: tiveram de se aglomerar em filas na porta dos bancos para poder sacar o recurso.

Quase metade dos brasileiros que obtiveram o auxílio — cerca de 23 milhões — não possuía uma conta bancária até aquele momento, conforme dados da Caixa Econômica Federal. Em outras palavras: muita gente no país se bancarizou com a crise. Só no Nubank mais de meio milhão de pessoas recebeu os 600 reais até o mês de junho. Até 2019 aproximadamente 45 milhões de pessoas eram desbancarizadas no Brasil.

Trata-se de cidadãos que construíam sua renda, compravam, vendiam e emprestavam o equivalente a 817 bilhões de reais por ano — sem que nem um centavo passasse até então por uma conta bancária, segundo números do Instituto Locomotiva. Agora eles estão acessando serviços financeiros pela primeira vez, e já com meios digitais. Nesse contexto, muitos se perguntam: fazem sentido o constrangimento para passar pela porta giratória, as filas quilométricas para ser atendido, o cafezinho com o gerente do banco?

No Brasil, um quarto das pessoas já acredita que as agências bancárias serão extintas até o fim da década, como indica uma sondagem recente da Kantar feita a pedido da Mastercard. Sempre se pensou na figura do cliente de mais idade indo até a agência para bater um papo e sair de casa, mas em época de pandemia esse é outro hábito que está fadado ao esquecimento.

Além de esse cliente despender um tempo que poderia ser empregado em algo mais útil, ele corre um risco desnecessário em termos de saúde. Quase 70.000 pessoas com mais de 60 anos passaram a ser clientes do Nubank entre março e maio, durante a pandemia. E inclusive milhares dessas contas foram abertas por clientes com mais de 90 anos. Esse é um caminho sem volta.

Essas transformações estão desafiando estruturas culturais em diversas partes do mundo. Na Alemanha, por exemplo, onde — por razões ligadas ao trauma do pós-guerra — há um apego ao dinheiro vivo, estudos preliminares já apontam para um aumento de quase 60% no uso de cartões em relação ao ­perío­do pré-pandemia. Não é à toa que os bancos digitais estão assumindo a liderança da inclusão financeira — eles oferecem um produto fácil de usar, na palma da mão, com atendimento digno e sem tarifas escondidas.

A burocracia, os altos custos e a dificuldade de acesso físico a uma agência mantiveram milhões de brasileiros à margem do sistema bancário. Até o fim de 2019, cerca de 17 milhões de brasileiros viviam em cidades sem agências bancárias. Dados da Ipsos do ano passado, levantados a pedido do Nubank, mostram que três em cada cinco brasileiros precisavam dirigir-se a uma agência para pagar contas. E metade dos entrevistados ainda tinha necessidade de ir ao banco para resolver problemas. Isso acontece porque muitas vezes as ferramentas online disponibilizadas pelos bancos não funcionam.

Na prática, para muitos brasileiros, isso significa ter de andar quilômetros para resolver questões que pode­riam ser solucionadas facilmente por telefone ou celular. Afinal, 70% dos brasileiros estão conectados à internet e há mais de 220 milhões de dispositivos móveis no país. Com tecnologia de ponta e estrutura flexível, os bancos digitais têm capilaridade para chegar a todos os municípios do Brasil e oferecer às pessoas aquilo de que precisam e o que merecem: simplicidade e autonomia para administrar seu dinheiro da forma que bem entenderem.


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