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Drones revolucionam a logística. Claro, se a burocracia não atrapalhar

Os drones aceleram as entregas de comida, bebidas e remédios mundo afora. Mas a legislação pode atrasar o avanço dessa tecnologia

Drone da Rakuten: noodles e frango frito entregues por via aére (Rakuten/Divulgação)

Drone da Rakuten: noodles e frango frito entregues por via aére (Rakuten/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 24 de maio de 2018 às 05h00.

Última atualização em 24 de maio de 2018 às 05h00.

O silêncio na área rural da pacata Minamisoma, cidade japonesa de 55 000 habitantes, 280 quilômetros ao norte de Tóquio, tem sido interrompido desde outubro por um zumbido que vem dos ares. Por ali, pelo menos duas vezes por semana, drones cruzam o céu para lá e para cá com pacotinhos pouco maiores do que uma caixa de sapatos e que pesam até 2 quilos. O que vai dentro? Alimentos e bebidas escolhidos entre 300 opções para consumo rápido, vendidas via celular pela unidade local da Lawson, uma das maiores redes de conveniência do Japão.

No cardápio, há copos de noodles preparados na hora, refrigerantes e até porções de karaage, frango frito tipicamente japonês empanado num molho com muito alho e gergelim. A entrega de comida feita pelo ar é uma aposta recente da gigante de comércio eletrônico Rakuten, fundada em Tóquio em 1997 e que hoje fatura mais de 8 bilhões de dólares por ano. Ainda na casa das dezenas por mês, as entregas vão a domicílios de idosos ou a áreas de difícil acesso na região, evacuada em 2011 após o vazamento nuclear da usina de Fukushima, a poucos quilômetros dali, e que tem sido repovoada aos poucos — por isso, faltam mercados para atender os novos moradores. “Queremos dar um senso de conveniência às pessoas nessas localidades”, diz Koji Ando, executivo da Rakuten para o desenvolvimento de novos negócios. O plano é implantar o mesmo sistema para facilitar a vida dos jogadores de golfe de Chiba, município nos arredores de Tóquio com dezenas de campos do esporte.

O investimento da Rakuten nos drones é mais um de uma revoada de anúncios sobre o uso de tecnologias de veículos autônomos em logística. Em dezembro de 2016, a concorrente Amazon realizou um teste semelhante, embora numa escala menor: apenas dois potenciais clientes numa área selecionada para o voo dos drones, escondida nos campos do interior da Inglaterra. No ano passado, o cofundador do Google, Larry Page, anunciou em carta aos investidores que a empresa divulgaria em breve “novidades excitantes” sobre entregas feitas por drones. Na China, o JD.com, segundo maior shopping virtual do país, está testando o uso de drones com capacidade para carregar até 1 tonelada em rotas fixas entre seus centros de distribuição. Em Reykjavik, capital da Islândia, cuja mancha urbana é cortada ao meio por uma baía, drones da startup israelense Flytrex sobrevoam as águas num serviço de entrega de comida e remédios. O percurso demorava 30 minutos se feito por caminhão — agora, com drone, leva apenas 5.

De acordo com uma projeção do banco de investimento Goldman Sachs, a venda de aeronaves não tripuladas para entregas deverá movimentar 9 bilhões de dólares até 2020 — 10% do mercado total estipulado para os drones no período. Embora ainda esteja levantando voo, esse é um investimento estratégico para resolver um dos maiores gargalos logísticos mundo afora: o enrosco que é atender às expectativas de um cliente cada vez mais ansioso para receber logo o que comprou pela internet. De acordo com um estudo da consultoria McKinsey, 25% dos consumidores online dos Estados Unidos e da China estariam dispostos a pagar mais de frete por uma entrega que não leve mais do que algumas horas.

A maior ameaça para esse mercado, até agora, é a falta de legislação específica ou leis muito restritivas, que podem reduzir o potencial da tecnologia. No Brasil, por exemplo, a regulamentação da Agência Nacional de Aviação Civil impede o voo de aviões não tripulados sobre pessoas — o que torna inviável o uso de drones em bairros residenciais. No Japão, por lei, as entregas aéreas da Rakuten só podem circular em trajetos preestabelecidos e monitorados, a olho nu, por um funcionário em solo. Na prática, a medida restringiu as entregas a residências a 2 quilômetros da loja da Lawson, de onde partem os produtos. E acabou com uma das belezas da logística 4.0: a automação completa do serviço. Por ora, as entregas por drones têm gerado mais expectativas do que resultados. Mas isso tende a mudar.

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