As escolas públicas ainda sofrem com a implementação da internet quando uma série de países já está proibindo o uso de smartphones (Westend61/Getty Images)
Fundadora e CEO da RM Cia 360
Publicado em 18 de outubro de 2024 às 06h00.
A inteligência artificial pode ser um grande impulso para países como o Brasil encurtarem a diferença para países desenvolvidos. O desafio, como mostro neste artigo, é investir em educação e na formação de mão de obra para que os trabalhadores e empreendedores brasileiros tenham a tecnologia como aliada. O risco da inação é ficar definitivamente para trás.
A boa notícia é que somos uma nação que adora tecnologia e que está sempre no topo dos rankings de adoção de novas ferramentas e de uso de redes sociais. O desafio é adotar uma postura mais estratégica dentro das pequenas, médias e grandes empresas.
Para este texto achei pertinente compartilhar o conhecimento de um amigo, Carlos Alberto Kubota, que tem ampla experiência no mercado tecnológico e, assim como eu, anseia por um Brasil de oportunidades. Administrador de empresas com práticas e graduações em comércio internacional, marketing, matemática e processamento de dados, ele também tem pós-graduação em administração de empresas pela FGV, mestrado em comércio internacional pela FEA-USP e MBA em negociação internacional pela Harvard Business School.
Kubota atuou em projetos significativos de implementação de empresas multinacionais no Brasil, como LG Electronics, Honda, Toyota e Hyundai, contribuindo para o desenvolvimento econômico e a geração de empregos no estado de São Paulo. Em suas considerações ele enfatiza que a educação tecnológica e o investimento em mão de obra qualificada trarão a estabilidade necessária para um futuro que já se manifesta. Nossas trocas renderam conteúdos que devem ser compartilhados e sem dúvida alguma aplicados, para que os desafios se transformem em oportunidades.
No Brasil, 161,6 milhões de pessoas com mais de 10 anos de idade utilizaram a internet em 2022, segundo dados apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa também mostra que o meio de acesso segue disparado pelo smartphone, com 98,9%. Esses dados são relevantes para pensarmos sobre a importância da inovação nesse processo tecnológico e sobre como é preciso olhar para o futuro para desenvolver novos formatos.
A educação digital tem gerado certa preocupação. As escolas públicas ainda sofrem com a implementação da internet quando uma série de países já está proibindo o uso de smartphones, numa retomada de uma educação mais pautada pelo mundo físico. Eles já foram ao futuro e escolheram um meio do caminho, enquanto o Brasil continua preso ao século 20, o que mostra que a realidade do país ainda está aquém quando o assunto é ofertar conhecimento tecnológico. Ir ao encontro das mudanças que estão acontecendo é necessário para a evolução das práticas sociais e econômicas que tanto almejamos. Kubota também acredita nas vastas possibilidades e faz uma crítica sobre a falta de investimento na área.
“O Brasil é reconhecidamente um país hoje dependente do agronegócio para a busca do equilíbrio de sua balança comercial. Agora temos de voltar para o futuro que se baseia na inovação tecnológica do universo das clouds e dos dados. Precisamos investir mais na educação com foco na formação dessa mão de obra que é escassa em nosso país”, ressalta Kubota.
Pensando no contexto nacional, é importante frisar que temos recursos para impulsionar práticas de inclusão digital, assim como para inovar na maneira como se faz uso da internet e dos meios de comunicação e de serviços eletrônicos. A expansão dos bancos digitais é um exemplo disso, e ressalto também os cursos digitais, muitos gratuitos e ofertados com a possibilidade de atender um grande número de pessoas. Mas eles acabam não sendo tão efetivos como poderiam ser para promover o compartilhamento de informações e as oportunidades de forma prática.
Planejamento estratégico
A capacitação de novos profissionais na área de tecnologia é algo que merece nossa atenção, pois é a partir dela que será possível gerar novas oportunidades e experiências, tanto quando o assunto for profissional, como nos novos formatos de ser e de existir. Com o desenvolvimento tecnológico passamos a viver em uma contagem de tempo que há pouco nem sequer seria possível mensurar. Diante da mudança, tudo o que temos a fazer é olhar para o macro e enxergar todas as possibilidades para que a evolução tecnológica nos propicie novas ferramentas para colocarmos em prática ações para fomentar educação, acessibilidade, inclusão, cultura, esporte, saúde, alimentação de qualidade e preservação do meio ambiente.
Impulsionar a prática do letramento digital é fundamental em tempos de e-commerce e streaming. Pensando economicamente, o Brasil e as empresas brasileiras seguem em desvantagem quando comparados a países emergentes, como é o caso da China. Assuntos sobre taxação de impostos sobre produtos importados de pequenos valores nos mostram que, muito mais que disponibilizar o acesso ao consumo por meios digitais, se faz necessário criar leis que correspondam aos novos formatos.
O Índice de Transformação Digital do Brasil em 2024 é de 3,7, um avanço em relação aos 3,3 de 2023, num estudo da Fundação Dom Cabral com a PwC Brasil. A escala vai de 1 a 6, o que mostra um grande caminho ainda a ser percorrido pelas empresas brasileiras. Outro estudo de competitividade digital coloca os Estados Unidos no topo, com nota 100, e o Brasil na 56a posição, atrás de Chile, Índia, México, Turquia e Peru.