Carro da Toyota: a montadora triplicou exportações no ano passado (Divulgação/Getty Images)
Raphaela Sereno
Publicado em 13 de julho de 2017 às 05h53.
Última atualização em 13 de julho de 2017 às 05h53.
São Paulo — No ano passado, o saldo da balança comercial do Brasil foi recorde — quase 48 bilhões de dólares. O problema é que esse superávit não foi resultado do vigor das vendas externas das empresas instaladas por aqui. Ao contrário, as exportações caíram 3,5% em relação ao ano anterior — bem menos, porém, do que o recuo registrado nas importações, de 20%. Foi isso que permitiu ao país fechar o ano com saldo na balança comercial. A queda nas vendas externas atingiu a maioria das grandes exportadoras brasileiras.
Segundo um levantamento de MELHORES E MAIORES 2017, o grupo das dez maiores exportadoras vendeu lá fora, em conjunto, pouco mais de 55 bilhões de dólares em 2016, quase 6% abaixo do montante do ano anterior, considerando os valores corrigidos pela inflação e pela variação do câmbio.
O ranking das maiores exportadoras foi, uma vez mais, encabeçado pela Vale. A mineradora está no topo da lista desde 2010, quando tomou o posto da Petrobras, que se manteve no ano passado em segundo lugar. Outras companhias ligadas a produtos básicos, como a Cargill e a Bunge, também mantiveram sua posição no ranking. Mas o que chamou a atenção foi o avanço de fabricantes de manufaturados.
A montadora Toyota, por exemplo, subiu quase 20 posições em 2016 e conquistou o sétimo lugar entre as grandes exportadoras. “Tínhamos uma boa base de exportação no Brasil no início dos anos 2000, mas, com o crescimento da renda local, priorizamos o mercado interno”, diz Ricardo Bastos, diretor de relações públicas e governamentais da Toyota do Brasil.
Só que o apetite dos brasileiros por carros novos diminuiu com a desaceleração econômica: nos últimos quatro anos, as vendas do setor automotivo caíram mais de 40%. “O ano de 2012 foi o último bom para as vendas domésticas. Então, tivemos de buscar soluções”, diz Bastos. Exportar mais foi uma delas.
O movimento da Toyota não foi isolado. “O câmbio abriu as portas, mas foi a gravidade da crise doméstica que empurrou as empresas para fora”, afirma Rafael Fagundes Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. A desvalorização do real em 2015 e nos primeiros meses de 2016 tornou os produtos brasileiros mais competitivos. No caso da indústria automobilística, o câmbio favorável criou uma oportunidade condizente com as decisões estratégicas das empresas. “As montadoras têm um parque fabril global e podem aumentar os ganhos focando a produção em lugares que, num dado momento, estão mais ociosos.
É o caso das fábricas brasileiras hoje”, diz Cagnin. Na Fiat Chrysler, que subiu seis posições no ranking das exportadoras, o design dos novos modelos procura ser neutro para atender diferentes mercados. Assim, podem ser exportados de qualquer país. “O Brasil se tornou nosso polo para a América Latina inteira”, afirma Davide Mele, vice-diretor de operações da Fiat Chrysler.
Se em 2016 o saldo na balança comercial brasileira foi consequência da depressão na economia doméstica, neste ano há sinais de que as coisas podem mudar. No primeiro semestre de 2017, o saldo da balança comercial atingiu 36 bilhões de dólares — um recorde para o período —, mesmo com a queda nos preços das commodities no mercado global. E, diferentemente do que ocorreu no ano passado, desta vez tanto as exportações quanto as importações cresceram. Não deixa de ser um alento em tempos de raras boas notícias por aqui.