Revista Exame

Barueri é a melhor cidade do país para os negócios em 2015

Com boa localização e mão de obra qualificada, Barueri é a melhor cidade para os negócios, aponta estudo da consultoria Urban Systems para EXAME


	Polo logístIco: a boa rede de estradas é uma das vantagens que Barueri oferece aos negócios
 (Germano Luders/Exame)

Polo logístIco: a boa rede de estradas é uma das vantagens que Barueri oferece aos negócios (Germano Luders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 26 de novembro de 2015 às 09h35.

São Paulo — A empresa mineira Jamef, que atua na entrega de encomendas, decidiu neste ano triplicar o tamanho de seu centro de distribuição em Barueri, cidade-satélite da capital paulista com 262 000 habitantes. A unidade, inaugurada em 2009, está recebendo desde agosto mercadorias, vindas de várias partes do Brasil, para redistribuição na região metropolitana de São Paulo.

Antes, a Jamef dividia o trabalho com um centro na Vila Guilherme, bairro da zona norte da capital. Os motivos para a mudança foram a busca por mais eficiência e por custos menores, vitais em tempos de recessão econômica.

“Os acessos ao rodoanel e à rodovia Castelo Branco, oferecidos por Barueri, tornam as entregas mais ágeis e reduzem gastos com combustível e hora extra”, diz Adriano Depentor, presidente da Jamef. O investimento na ampliação foi de 2 milhões de reais, mas ele acredita que logo terá o retorno. A produtividade deve crescer 20%, de 18 para 22 entregas por veículo a cada dia.

“Não tenho dúvida de que vir para Barueri foi a escolha certa e, por isso, ampliamos a presença na cidade.” Assim como a Jamef, outras empresas têm apostado que Barueri é o local ideal para manter as operações. Em setembro de 2014, a montadora Caoa mudou para lá seu centro de distribuição de peças que funcionava na goiana Anápolis.

O grupo Bradesco Seguros deverá transferir até o fim de novembro a sede da avenida Paulista para o município vizinho a São Paulo. Nos últimos cinco anos, o número de empresas cadastradas em Barueri cresceu 90%, chegando a 23 700. Mas por que tantos novos negócios estão se instalando ali?

Um estudo elaborado pela consultoria Urban Systems, exclusivamente para EXAME, mostra que Barueri está no topo do ranking 2015 das melhores cidades para fazer negócios no país. Nesta segunda edição do estudo, foram analisados 648 municípios com mais de 50 000 habitantes, responsáveis por 80% do produto interno bruto.

A consultoria verificou 28 indicadores em quatro categorias: desenvolvimento econômico, capital humano, infraestrutura e desenvolvimento social. Nas próximas páginas, serão apresentadas as campeãs em cada critério. “Uma cidade boa para os negócios desenvolve cadeias produtivas, com constante formação de mão de obra”, diz Thomaz Assumpção, presidente da Urban Systems.

“Em Barueri, é possível encontrar sistemas produtivos sustentáveis.” A principal vantagem de Barueri é a localização: está a menos de 30 quilômetros de São Paulo e a menos de 100 qui­lômetros de dois aeroportos: Cumbica, em Guarulhos, e Viracopos, em Campinas.

Além disso, é cortada pela rodovia Castelo Branco, ligação da região metropolitana ao interior, e pelo trecho oeste do rodoanel Mário Covas, um contorno da capital que interliga dez rodovias. O resultado dessa malha de rotas de escoamento é a facilidade para alcançar centros de produção e mercados consumidores, constituindo um dos maiores polos logísticos do país.

Dados da empresa de pesquisas imobiliárias Buildings mostram que Barueri é a segunda cidade do Brasil em número de galpões e centros de distribuição — perde para Campinas, a campeã na categoria infraestrutura do estudo. Um dos aspectos que permitiram o desenvolvimento de Barueri, apenas uma cidade-dormitório até 40 anos atrás, foi a formação de Alphaville, bairro de alto padrão.

Na década de 70, a construtora Albuquerque Takaoka colocou à venda terrenos do bairro para atrair empresas e montar um distrito industrial. Uma das primeiras a chegar foi a americana HP, do ramo de informática. Os diretores da companhia sugeriram à Takaoka replicar no Brasil um modelo californiano de instalação de casas próximas ao local do trabalho.

A construtora, então, decidiu vender terrenos para residências também. O resultado é hoje uma área de 3 milhões de metros quadrados com escolas, shoppings, edifícios comerciais e serviços. Cerca de 70 000 pessoas moram em Alphaville, a metade em Barueri e as demais na cidade vizinha de Santana de Parnaíba, que acabou abrigando parte dos condomínios.

A construção do bairro, com boa in­fraes­trutura, atraiu profissionais com qualificação e alta renda. O produto interno bruto per capita de Barueri é superior a 130 000 reais — a média no estado de São Paulo é de 33 000 reais; e, no Brasil, de 22 000. A primeira geração de moradores foi formada por executivos de grandes empresas, que criaram os filhos nas melhores escolas da região.

A segunda geração tem investido no próprio negócio. O número de pequenos empreendedores na cidade cresceu quatro vezes nos últimos quatro anos, a maior taxa da região metropolitana. O clima de cidade do interior contribui para novas parcerias de negócios.

De olho nesse movimento, o empresário paulista Marcos Gozzi, de 44 anos, criou no ano passado a Orgânico, espaço compartilhado por quem começa um negócio sem ter um escritório próprio. “Oferecemos a estrutura para 75 empreendedores trabalharem, fazer parcerias e captar investimentos”, diz Gozzi.

As empresas são atraídas para Barueri também por uma combinação de incentivos tributários com burocracia reduzida. Desde a década de 90, o município mantém a alíquota do imposto sobre serviços em 2% das receitas, o mínimo permitido por lei, enquanto São Paulo cobra 5%. O cadastro de uma empresa na prefeitura é feito em dois dias, e a emissão de alvarás de funcionamento é realizada pela internet. 

No centro da cidade está instalado desde 2004 um Ganha Tempo, núcleo com 230 serviços para a população — como os de cartório e de confecção de documentos. As empresas grandes têm presença forte. Do total de negócios do município, 5% contam com mais de 100 empregados, ante a média estadual de 1,7%, e a nacional de 1,5%.

A distribuidora de energia AES transferiu em 2012 seus três escritórios da capital paulista para uma única sede em Barueri, a qual abriga 1 500 funcionários. “Reduzimos o pagamento de imposto predial de 600 000 para 30 000 reais por ano”, diz Paulo Camillo, vice-presidente de relações institucionais da AES. “E nos tornamos mais eficientes.”

Para aproximar-se ainda mais dos empresários, a cidade fundou em maio uma agência de desenvolvimento econômico. A ideia é promover encontros mensais entre representantes dos setores público e privado para discutir problemas da cidade. Barueri tem trânsito até São Paulo em horários de pico, baixa quanti­dade de leitos nos hospitais e grande perda na distribuição de água.

De nada adianta ter incentivos para instalar o negócio em uma cidade se ela não contar com mão de obra especializada. Barueri tem acesso a profissionais qualificados de São Paulo e da região. A cidade recebe diariamente uma média de 280 000 pessoas a trabalho. Um quarto dos profissionais que trabalham em Barueri tem curso superior — a média no estado de São Paulo é de 21%; e, no Brasil, de 18,5%.

O município também se preocupa com a formação da população. “Aqui sempre houve esforço para trazer unidades do serviço de aprendizado para a indústria, institutos técnicos e faculdades de tecnologia”, diz o prefeito de Barueri, Gil Arantes. “A atração exercida pela cidade se dá pela mão de obra disponível.”

No início da década de 90, foi criada a Fundação Instituto de Educação de Barueri, uma autarquia municipal que mantém duas escolas de ensino fundamental e médio — a terceira e a oitava escolas municipais mais bem colocadas nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio em 2014 — e seis institutos técnicos com 22 cursos, entre eles administração, contabilidade, logística e informática, que formam 3 500 alunos por ano.

A fundação mantém parcerias com cerca de 2 500 empresas para a oferta de estágio aos alunos. A Capgemini, mul­tinacional francesa de serviços de tecnologia, é uma das associadas. “Só con­seguimos nos instalar em cidades que são provedoras de mão de obra com especialização em tecnologia”, diz ­Paulo Marcelo Lessa Moreira, presidente da Capgemini no Brasil.

“Conseguimos encontrar o que precisamos em Barueri, onde empregamos 2 500 pessoas.” Com boa combinação entre capital humano e infraestrutura, a cidade deve continuar atraindo negócios.

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