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A melhor neve do mundo existe e tem explicação científica

Park City, o maior resort de esqui e snowboard dos Estados Unidos, pode se orgulhar da excepcional qualidade de seus flocos

Pista em Park City, nos EUA: estudo alerta que meta (Park City/Divulgação)

Pista em Park City, nos EUA: estudo alerta que meta (Park City/Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 14 de fevereiro de 2019 às 05h32.

Última atualização em 14 de fevereiro de 2019 às 05h32.

“Você vai para Park City? Lá tem a melhor neve do mundo.” O pai de um amiguinho de meus filhos me olhava entusiasmado na porta da escola quando, num daqueles papos-furados que temos enquanto esperamos as crianças saírem da aula, contei que iria para essa estação de esqui no estado de Utah, nos Estados Unidos. Achei graça — mesmo porque, para meu nível de destreza, nem sei se isso faria tanta diferença. Mas saí animado com a informação.

De fato, descobri só ao chegar a Utah, a reputação da ótima neve do estado inteiro, de forma geral, tem explicação científica. A qualidade está relacionada com a elevada altitude e com a secura da região. As montanhas, cercadas por desertos, não recebem umidade, o que faz com que os flocos de gelo não fiquem colados uns aos outros. Assim, a neve de lá é extremamente leve e fofa. Mais especificamente, a área de Park City ainda recebe neve em abundância por causa do Great Salt Lake: quando uma frente fria passa sobre o lago de sal, colide com o ar mais quente que sobe dele, e isso produz tempestades mais fortes e com mais precipitações.

Ao contrário do que eu havia previsto, a qualidade da neve fez, sim, total diferença para minha um tanto cambaleante prática de esqui. Não sou exatamente um esquiador de primeira viagem — aos 42 anos, posso dizer que sou um praticante de terceira viagem. Minha primeira vez foi em Aspen, quando eu tinha 12 anos de idade. A segunda, somente aos 41, no Valle Nevado. Demorou tanto da primeira para a segunda que tenho a sensação de ter acontecido em vidas diferentes. Em comum, ficaram incontáveis tombos em minha memória. Dessa vez, o vexame não foi tão grande: apenas uma queda contabilizada, sem maiores consequências.

Encravada nas Montanhas Rochosas, a 2.134 metros de altitude, Park City é a maior estação do esporte dos Estados Unidos. Concentra dois resorts: Deer Valley e Park City Mountain Resort, onde fiquei, que hoje é o maior do país. Há neve lá durante metade do ano, de novembro a abril. São 256 quilômetros esquiáveis em mais de 300 pistas, 8% delas para iniciantes como eu. Quem tem um nível intermediário de esqui ou de snowboard pode ocupar 47% das pistas. O restante é voltado apenas para os experientes.

Centro da cidade: lojas, galerias e até um bar aonde se pode chegar esquiando | Getty Images/Stockphotos

Além do esqui e do snowboard, a cidade oferece uma ampla gama de atrações. Algumas bastante inusitadas, como o bobsled na pista do Utah Olympic Park, que abrigou a Olimpíada de Inverno de 2002, ou a prática de ioga sobre um stand up paddle dentro de uma gruta com águas termais. Fiz os dois. O bobsled é aquele trenó para quatro pessoas que corre em altíssima velocidade. É bacana pela situação, mas, por causa da posição dos novos amigos daquele carrinho, a única coisa que eu consegui ver foi o capacete do camarada à minha frente. Já na ioga no stand up… tomei todos os tombos que consegui controlar no esqui. A cada movimento, um mergulho.

A capital do estado, Salt Lake City, a pouco menos de 40 minutos do resort de esqui, é o berço mundial dos mórmons. A cidade foi fundada em 1847 por um grupo liderado por Brigham Young, chamado de “Moisés americano”, por ter guiado os religiosos até as margens do Great Salt Lake. Hoje, 78% da população de lá frequenta a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, assim como 60% dos habitantes do estado de Utah. Embora os mórmons não bebam álcool, o que não falta é bar em Park City. Na charmosa Main Street, com ar de Velho Oeste da época da corrida da prata e do ouro no final do século 19, é possível encontrar os melhores, que servem ótimos drinques e cervejas artesanais.

A High West Distillery oferece diversos tipos de bourbon, drinques, outros destilados, cervejas e petiscos saborosíssimos. Antes de se tornar um pub, foi um estábulo e uma oficina mecânica — hoje é um dos mais badalados pontos de Park City, quase sempre lotado no aprèsski. Há, inclusive, uma entrada por trás do estabelecimento destinada a quem chega esquiando. Eu me senti num filme de faroeste. Na Main Street também há uma vasta oferta de restaurantes, galerias de arte, cafés, barbearias e lojas, além do Egyptian Theatre, onde acontece o Sundance Film Festival. Quer uma dica? Sugiro a lagosta com vieiras no restaurante Riverhorse.

No inverno, a temperatura média do local gira em torno dos 10 graus negativos. Mesmo assim, com casacão, luvas e gorro, é possível caminhar pelo charmoso centro da cidade. Para distâncias maiores, recomendo a linha de ônibus gratuita, que liga o centro aos dois resorts e ao Parque Olímpico.

Park City teve um sabor especial para mim. Meu irmão Felipe, fotógrafo como eu, mora na Califórnia e não nos víamos fazia dois anos. O resort foi o palco desse encontro. Em meu segundo dia de treino, já me senti confiante para descer a montanha esquiando porque sabia que iria encontrá-lo lá embaixo. Filmei essa descida e nossa mãe acompanhou do Brasil, ao vivo, como se fosse uma final de Copa do Mundo. Ou melhor: de um Jogo Olímpico de Inverno.

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