Ilustração "A hora de mudar o rumo de sua carreira" (Francisco Martins)
Da Redação
Publicado em 15 de julho de 2014 às 20h13.
1 - Sou executivo e hoje presido uma grande empresa do segmento de consumo. Estou fazendo uma transição para me tornar conselheiro, mas não tenho certeza se esse é um caminho para mim. Sempre tive o perfil de quem vai lá e faz e não apenas o de controlar. O que devo considerar antes de tomar essa decisão? Anônimo
O primeiro requisito para o perfil de um bom conselheiro é uma ampla bagagem de experiência de vida e de coisas que ocorrem numa empresa, como você deve ter adquirido ao atingir a posição que exerce hoje. Como um conselho é composto de pessoas de várias origens e especialidades, sempre valorizei aqueles que se dedicam a contribuir com aquilo que sabem.
Sou um conselheiro atuante e não me limito às reuniões do conselho, com frequência participo também de outros projetos nos quais posso ajudar. Conhecer bem a empresa em questão é muito importante. Tenho dado valor a dois fatores na hora de aceitar — ou não — fazer parte de um conselho.
O primeiro é observar o sistema de controle financeiro. O segundo é examinar a composição do time de conselheiros e o perfil de cada um deles. É preciso ter a dimensão da responsabilidade que você vai assumir.
A função fundamental do conselho é orientar os executivos na direção técnica e administrativa da empresa ao criticar, com sua experiência, as ações dos profissionais e propor novos caminhos ou novas abordagens para os mesmos caminhos na formulação estratégica.
Mas também, e não menos importante, é cumprir o papel de controle — e a única ferramenta que seus integrantes terão para fazer isso serão as informações emitidas pelos executivos, pelas auditorias internas e externas, além daquelas emitidas pela área de avaliação de risco e do comitê de finanças e de auditoria do conselho.
O conselheiro opera com base nas informações e análises que recebe e se torna responsável pelas decisões que toma a partir dessas informações. Se o sistema de informações falha e o conselheiro toma a decisão errada (ou simplesmente não há tempo de tomar a decisão correta), pode acabar tendo de responder pessoalmente às autoridades do país.
Qualquer profissional que decida seguir esse caminho está numa situação em que ou tem segurança no sistema existente ou não deve assumir o risco. Quando algum desastre acontece com uma empresa e o conselheiro não teve condições de reagir, mesmo em caso de alguma falha fora de seu controle, as consequências podem ser terríveis.
2 - Tenho 27 anos e sou engenheiro civil formado há quatro. Atualmente, trabalho com projetos de engenharia, mas já não gosto mais do que faço. Quero fazer um MBA para ingressar no setor financeiro, mas já terei 31 anos quando mudar de carreira. Pode ser tarde demais? Anônimo
Sua pergunta tem duas questões: uma é a mudança de profissão e a outra é fazer um MBA no exterior. Sobre a primeira questão eu diria que é muito raro que uma pessoa vá trabalhar a vida toda exatamente naquilo em que se formou. As exceções, talvez, estão em profissões como medicina e odontologia, que são muito especializadas.
Mesmo assim, conheço médicos que se tornaram grandes empresários e administradores. Não é de hoje também que muitas empresas de diversos setores, bancos entre elas, recrutam engenheiros para outras atividades, simplesmente porque a formação acadêmica do engenheiro tende a ser muito boa.
Eu mesmo já recrutei muitos engenheiros para trabalhar em consultoria, assim como profissionais de outras especialidades. Nada impede, portanto, que você faça uma boa carreira na área financeira ou em qualquer outra com sua formação em engenharia.
Pelo contrário, é até uma vantagem. Formação boa você já tem, vai depender agora somente de você ter amor e entusiasmo pelo que faz. Isso é, em última instância, o que vai ditar seu sucesso.
Sobre a segunda questão: fazer um MBA no exterior é sempre uma boa ideia. No entanto, você pode voltar e pensar: “Fiz um MBA em finanças para descobrir mais tarde que não gosto de finanças!” Portanto, sua ida ao exterior para fazer um MBA não deve ter nada a ver com a especialidade escolhida.
Você deve fazer um MBA no exterior simplesmente para ganhar uma educação melhor, aperfeiçoando-se numa outra língua, absorvendo a cultura local mais avançada, interagindo com pessoas de outros países e de outras culturas e por aí vai.
Dinheiro ou experiência
Entre ganhar experiência no que você gosta e manter uma progressão salarial, fique com a primeira opção. Não creio que salário seja o principal motivador para você que ainda está na idade em que o importante é aprender e fazer sua rede de contatos como profissional.
Para você, neste momento, trabalhar numa organização com metas ambiciosas e pessoas interessantes e que continuamente saibam desafiá-lo é mais importante do que qualquer salário.