Jean-Bernard Lévy, presidente da Vivendi: 15 bilhões de reais para a GVT triplicar sua estrutura e chegar a 200 novas cidades até 2016 (Alexandre Battibulgi/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 11 de agosto de 2011 às 06h00.
São Paulo - Para os cerca de 11 000 funcionários da operadora de telefonia GVT, a presença do francês Jean-Bernard Lévy e da empresa que comanda, a Vivendi, é quase imperceptível. Desde que o grupo francês concluiu a compra da operadora brasileira em novembro de 2009, um negócio de 7,7 bilhões de reais, a sede da empresa permanece em Curitiba.
A marca e o nome da companhia seguem os mesmos e os executivos locais continuam sob o comando do israelense Amos Genish, presidente da GVT desde 1999. Em suas poucas visitas ao Brasil, realizadas a cada três meses, Lévy cumpre um roteiro que não dura mais de três dias.
Em reuniões, assiste a apresentações de executivos locais e analisa o cumprimento das metas. O distanciamento, no entanto, é apenas aparente. Lévy despacha pelo menos uma vez por semana com Genish, a quem costuma telefonar diretamente no celular.
Sua familiaridade com o mercado brasileiro e com a operação da GVT é tal que, em sua última visita, no dia 22 de julho, bastaram 2 horas de reunião para autorizar a revisão do plano estratégico para os próximos cinco anos.
Até então, a ideia era que a GVT avançasse para mais 80 cidades até 2016 — hoje ela está presente em 104 cidades em 17 estados do país. Agora o número de novas cidades deve saltar para 200, entre as quais mercados como São Paulo. O investimento total deverá ser de até 15 bilhões de reais.
A decisão, que passará por um crivo final após a apresentação de um plano detalhado em outubro, demonstra o apetite da Vivendi pelo Brasil. Com vendas de 2,4 bilhões de reais em 2010, a companhia representa hoje menos de 5% das receitas da Vivendi, dona de empresas como a SFR, segunda maior operadora de celular da França, e a Universal Music, maior gravadora do mundo.
É a menor entre as seis operações que possui, mas também é a que mais cresce — no primeiro trimestre deste ano, representou quase a metade de todo o crescimento do grupo.
No ano passado, Lévy já havia autorizado a GVT a investir 1,4 bilhão de reais em sua operação, quase o dobro do inicialmente previsto e o equivalente a 42% de todo o desembolso feito pela Vivendi em 2010.
“A GVT se mostrou um investimento muito melhor do que imaginávamos. A maior parte de nosso crescimento vem agora do Brasil. Faremos de tudo para que a empresa siga apresentando bons resultados”, disse Jean-Bernard Lévy a EXAME em sua passagem pelo país.
Para acelerar o ritmo de expansão, além do aporte financeiro, a Vivendi vem se valendo também da experiência de outras companhias do grupo. Foi o caso do serviço de TV por assinatura, que deve ser lançado pela GVT em outubro.
Há nove meses, a Vivendi enviou a Curitiba um executivo da SFR com a missão de capacitar gerentes e diretores da GVT em áreas como gestão e logística de equipamentos de TV, atendimento a clientes, estratégia de lançamento e proteção contra fraudes e pirataria.
Paralelamente, outros 20 executivos da Canal Plus, emissora de televisão que pertence ao grupo, foram destacados para analisar contratos com fornecedores.
Vários desses fornecedores são os mesmos usados pela Vivendi lá fora, o que possibilitou, por exemplo, desconto de até 15% no aluguel do satélite que servirá para a distribuição do serviço de TV, contratado por dez anos ao custo de 240 milhões de reais.
“Além disso, antecipamos em seis meses o lançamento do serviço”, diz Genish. Para ele, 20% das receitas da GVT nos próximos cinco anos virão do serviço de TV.
No final de 2010, a GVT também iniciou uma parceria com a Universal Music ao lançar o Power Music Club, plataforma que permite aos usuários de banda larga da empresa ouvir músicas e assistir a vídeos dos artistas da gravadora gratuitamente, entre eles estrelas como Lady Gaga e Justin Bieber.
A oferta, espera-se, servirá de chamariz para novos clientes diante de concorrentes gigantes, como Telefônica e Oi, que já oferecem banda larga em mais de 4 000 municípios do país. A maior vantagem da GVT está na estrutura de fibra óptica da companhia — diferentemente dos concorrentes, que ainda têm grandes redes de cobre.
A fibra óptica garante mais velocidade na transmissão de dados. “Com uma estrutura mais nova, a GVT ganha em velocidade do serviço por um preço igual ou menor que o dos concorrentes”, diz Julio Puschel, analista da consultoria inglesa Informa, especialista no setor.
Nextel na mira?
O movimento da GVT está sendo observado de perto por investidores europeus, que reagiram mal à investida da Vivendi no país num primeiro momento — a cotação de suas ações caiu 3,6% no dia em que anunciou a aquisição. Para eles, não estava claro qual era o potencial de crescimento de uma empresa pequena diante das grandes operadoras de telefonia no Brasil.
Os bons resultados da GVT, que, no primeiro trimestre, aumentou em 47% suas receitas, para 747 milhões de reais, vêm acalmando o mercado.
“A empresa vem se mostrando uma importante fonte de crescimento para o grupo”, diz Claudio Aspesi, analista de telecomunicação do banco inglês Sanford C. Berstein. Mas os executivos da Vivendi querem mais. “A GVT deverá representar um quarto de nossas receitas nos próximos anos”, diz Lévy.
Aquisições podem fazer parte desse plano. Executivos da GVT analisaram a compra da AES Atimus, empresa de telecomunicações do grupo AES no país — que acabou nas mãos da TIM em julho. Segundo EXAME apurou, há três meses um time da GVT iniciou conversas para a compra da Nextel no Brasil. (As duas empresas não comentam o assunto.)
Com a compra da operadora de telefonia móvel, a GVT dobraria suas receitas de uma hora para outra. Um belo atalho para cumprir a meta dos franceses.