Operadores na Bovespa: a avaliação dos analistas é que ainda há oportunidades na bolsa, mas elas estão cada vez mais escassas (Germano Lüders/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 5 de outubro de 2013 às 19h25.
São Paulo - E já não estava fácil antes, a vida do investidor brasileiro piorou um tanto em 2013. As más notícias estão por todos os lados, e ganhar dinheiro tem sido coisa de uns poucos profissionais bafejados pela sorte. A bolsa caiu 15% no ano, arrasada pela debacle das ações das companhias do empresário Eike Batista.
Salvo milagre, este será mais um ano em que a bolsa vai render pouco ou quase nada. Quem manteve o dinheiro aplicado em investimentos conservadores não tem o que celebrar. Com os juros ainda baixos e a inflação alta, os rendimentos têm sido magros.
Até no mercado imobiliário os tempos de euforia ficaram para trás, e já há cidades em que os preços das casas e dos apartamentos estão caindo. Vida dura, em suma.
O desempenho ruim dos investimentos é reflexo de um cenário econômico complicado, aqui e no exterior. Tirando o caos provocado pela crise de 2008, quando as fontes de financiamento secaram e a economia mundial encolheu, os países emergentes vivem hoje sua pior fase em uma década.
O crescimento tem ficado abaixo do esperado, a inflação está alta e a população está descontente. Diante disso, os investidores estão tirando dinheiro desses mercados, o que se reflete na cotação de suas moedas. Há países vistos como menos problemáticos — caso de México, Chile, Colômbia e Peru, segundo os analistas —, mas o Brasil, ao menos por enquanto, está na turma dos que preocupam.
O real perdeu 20% de seu valor em 2013, e as últimas semanas têm sido particularmente conturbadas. A maioria dos executivos de mercado prevê mais alguns trimestres de baixo crescimento econômico e incertezas políticas (a campanha presidencial vem aí). Além disso, será preciso lidar com um cenário externo pouco favorável.
A China, maior parceiro comercial do Brasil, está desacelerando num ritmo mais rápido que o previsto há um ano. Há, é verdade, um início de recuperação dos Estados Unidos, mas a retomada por lá ainda é frágil.
E, paradoxalmente, qualquer boa notícia vinda dos Estados Unidos será motivo para mais turbulência, já que crescerá o temor de que o banco central americano vai aumentar as taxas de juro — o que causaria uma nova fuga de dinheiro de países emergentes.
“A recuperação está ocorrendo, só que será lenta”, diz Robert Shiller, professor da Universidade Yale. “Os dados econômicos não são tão sólidos. Por exemplo: o desemprego está diminuindo, mas parte dessa queda é explicada pelo fato de as pessoas estarem desistindo de procurar emprego”.
Proteção anti-Brasil
Como o investidor pode ganhar dinheiro num cenário desses? Segundo os 30 profissionais de mercado ouvidos por EXAME no último mês — gestores de fundos, analistas e consultores financeiros —, essa é a hora de manter os dois pés no chão.
Em resumo, arriscar na compra de ações é coisa para quem está disposto a esperar. Com base nessas entrevistas, EXAME listou cinco aplicações que devem entregar bons rendimentos nos próximos 12 meses.
Reflexo do aumento das incertezas, três delas são de renda fixa, e uma é extremamente conservadora: os velhos fundos DI, que seguem a taxa básica de juro. O aumento recente dos juros e a perspectiva de que passem de 9% têm levado mais assessores financeiros a recomendar essa aplicação — desde que, é claro, as taxas de administração sejam inferiores a 1% ao ano.
Uma novidade são os títulos de infraestrutura, emitidos por empresas que estão tocando grandes obras no país, como estádios, usinas e estradas. Os primeiros papéis do gênero foram lançados em 2012, oferecendo retorno de 12% ao ano, isento de imposto de renda.
A ressalva é o prazo: geralmente, esses títulos vencem em mais de dez anos, e é difícil vendê-los antes. Uma terceira alternativa são os papéis públicos atrelados à inflação, as NTN-Bs, que estão pagando cerca de 5,5% ao ano além da inflação.
A pilha de incertezas que se acumulam torna o investimento em ações brasileiras coisa para bravos. Um levantamento do banco UBS mostra que a previsão para o lucro das empresas do Ibovespa caiu 30% desde o início do ano. Um índice de incerteza criado pela gestora Brasil Plural para medir o grau de desconfiança dos investidores em relação à economia brasileira está no pior patamar desde 2008.
Por isso, as bolsas americana e europeia estão subindo mais que a do Brasil — e a recomendação dos especialistas é que os brasileiros apliquem parte do patrimônio no exterior. É possível fazer isso do jeito tradicional, mandando dinheiro para fora do país, ou aplicando em fundos multimercados que investem uma parcela dos recursos no mercado internacional.
Mudança cambial
Investir no exterior também é uma forma de se proteger de uma nova alta do dólar — segundo as projeções do banco Goldman Sachs, a moeda americana fechará o ano cotada a 2,50 reais e poderá chegar a 2,75 reais em 2014. O motivo é a expectativa de recuperação da economia americana.
Muitos grandes investidores estão tirando dinheiro de mercados emergentes para aplicar ou na bolsa dos Estados Unidos ou na renda fixa, já que os juros no mercado futuro voltaram a subir (se o PIB americano voltar a crescer de forma sustentável, é provável que o banco central do país eleve as taxas, que estão próximas de zero desde a crise de 2008).
Esse movimento começou a ocorrer em maio, o que fez as moedas dos principais países emergentes desvalorizar 11% em relação ao dólar de lá para cá. O real teve uma das maiores quedas, de 20%.
“A alteração na política monetária americana deve levar a uma mudança cambial profunda no Brasil. Estamos iniciando um ciclo diferente: depois de anos de valorização praticamente contínua do real, a tendência agora é irmos na direção oposta”, diz Gustavo Franco, sócio da gestora Rio Bravo e ex-presidente do Banco Central. “Isso deve marcar o renascimento do interesse dos brasileiros por investimentos no exterior.”
E a Bovespa? Depois de cair 25% desde o fim de 2009 — ou 45% em dólares —, o mercado não ficou barato? Para a maioria dos executivos de mercado ouvidos por EXAME, não. O problema, na opinião deles, são os lucros decepcionantes de boa parte das empresas, em razão do baixo crescimento da economia e dos custos altos motivados pela inflação.
Segundo uma pesquisa da consultoria Economática, o lucro das empresas abertas ajustado pela inflação foi 17% menor no primeiro semestre deste ano do que no mesmo período de 2010.
Este é o terceiro ano seguido de queda dos lucros. A relação entre o preço das ações da Bovespa e o lucro das empresas está quase 40% acima da média histórica. A avaliação geral é que ainda há oportunidades na Bovespa, mas elas estão cada vez mais escassas.
O cenário à frente já seria desafiador por si só — mas se torna ainda mais imprevisível quando se inclui na conta o período eleitoral. A partir da onda de manifestações de junho, diminuiu muito a esperança de mudanças na política econômica — que implicaria maior controle da inflação, gastos públicos menores, maior capacidade de atração de investimentos.
Nos últimos dois meses, analistas e gestores de fundos passaram a incluir avaliações políticas sobre o Brasil em seus relatórios sobre investimentos.
O objetivo é tentar antecipar dois movimentos: como o governo vai atuar daqui até a eleição presidencial de 2014 e, quando as pesquisas indicarem os vencedores mais prováveis, qual poderá ser o estilo do novo governo. Esse é o cenário para os próximos 12 meses — complexo, sim, mas ainda com oportunidades.