(Scott Eells/Bloomberg/Getty Images)
Gabriela Ruic
Publicado em 13 de fevereiro de 2020 às 05h00.
Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 15h44.
Os últimos meses não foram fáceis para a América Latina, que viu estourar uma onda de revoltas populares. Na visão de Susan Segal, presidente do Americas Society e do Council of the Americas — dois fóruns empresariais para debates econômicos, políticos e sociais das Américas —, tais turbulências não afetaram a força da democracia na região, e o maior desafio que os países latino-americanos enfrentam hoje é o mesmo de décadas atrás: garantir um crescimento econômico sustentável e inclusivo.
Qual é o maior desafio da América Latina na atualidade?
É o mesmo desafio que temos há décadas: a região precisa de crescimento econômico sustentável, inclusivo, de modo que se tenha uma classe média fortalecida. As pessoas não podem sentir que é impossível ascender socialmente. E, quando ascendem, não podem ter medo de perder esse status.
Por que é tão difícil conseguir resolver essa situação?
A queda nos preços das commodities limitou, e muito, a capacidade de crescimento econômico da região. E a consequência dessa lentidão é uma pressão sobre as pessoas, que pagam muitos impostos, mas não recebem nada em troca por isso da parte dos governos. A classe média da América Latina quer o mesmo que a classe média global: moradia, educação, saúde e serviços públicos de qualidade.
Como a senhora avalia o momento econômico da região?
É difícil falar como um todo, já que cada país tem sua particularidade. No caso do Brasil, por exemplo, acredito que vamos ver bons movimentos, uma vez que as reformas que o governo vem tentando emplacar têm o potencial de criar um novo espaço de crescimento da classe média. Isso é algo que pode dar às pessoas a esperança da mobilidade social.
E do ponto de vista social?
A imigração se tornou uma questão urgente na América Latina. Hoje, em razão do que acontece na Venezuela e perante o fato de haver novos governantes — Alberto Fernández na Argentina e Lacalle Pou no Uruguai, por exemplo —, existem dúvidas sobre como será a cooperação entre os países daqui em diante.
Há um sentimento de descontentamento popular em toda a região. A democracia está ameaçada?
Não, pelo contrário: a democracia ainda é muito forte na América Latina. Talvez os governos de alguns países tenham um apelo populista. No entanto, isso não esconde o fato de que esse sistema de governo continua florescendo. Em minha visão, a democracia é o único sistema de governo que deveria existir e é o único caminho legítimo que os países devem seguir.
Como a senhora enxerga as turbulências recentes em vários países da América Latina?
A internet e as redes sociais dão acesso total à informação e criam um ambiente de transparência. Por outro lado, também criam espaço para que qualquer pessoa manifeste sua opinião sobre tudo. E essa é uma percepção que acaba por desafiar os meios tradicionais de consenso e comunicação com o povo.
A corrupção ainda é um problema. Como mudar isso?
Os sistemas de Justiça e o estado democrático de direito precisam ser fortalecidos para que o combate à corrupção seja bem-sucedido. A relação entre o risco e a recompensa, o que muitas vezes pode incentivar práticas criminosas, tem de mudar e os corruptos devem ser penalizados. Nesse sentido, a sociedade tem um papel fundamental, que é o de garantir que a transparência seja a regra em todas as instituições.