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A categoria do futuro

O que a Fórmula 1 pode aprender com a Fórmula E — e vice-versa

Foto: Thomas Peter/Reuters /  (Thomas Peter/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 12 de março de 2020 às 05h15.

Última atualização em 12 de março de 2020 às 05h15.

A principal categoria do automobilismo está completando 70 anos e, sejamos francos, não em sua melhor forma. A nova temporada de Fórmula 1 começa no dia 15 de março com o Grande Prêmio da Austrália. O ano de 2020 representará o fim de um ciclo marcado por custos estratosféricos.

Para ter uma ideia, uma equipe como a Ferrari gasta mais de 400 milhões de dólares por ano. A pouca competitividade também é uma questão. A Mercedes venceu os últimos seis campeonatos, cinco deles com o inglês Lewis Hamilton.

Para 2021, no entanto, a Fórmula 1 espera ganhar mais saúde. A ideia é aproximar-se mais do público, criando corridas mais emocionantes e dando mais enfoque aos pilotos, com um regulamento que estabeleça um teto orçamentário e regras para trazer mais competitividade.

Em outras palavras, fazendo com que o show fique melhor para o público — exatamente como a Fórmula E vem fazendo desde 2014, seu primeiro ano.

A EXAME acompanhou a etapa da Fórmula E na Cidade do México, em meados de fevereiro, para entender o que a Fórmula 1, afinal, pode aprender com sua irmã mais jovem. “A Fórmula E é um campeonato novo, mais moderno e com uma mentalidade mais voltada para a competição”, afirma Felipe Massa, vice-campeão da Fórmula 1 em 2008 e atualmente piloto da equipe Venturi, da Fórmula E.

“Aqui, a diferença entre as equipes é muito pequena e existem iniciativas incríveis, como o attack mode.” Para quem não está familiarizado, ­attack mode é um recurso em que o piloto passa por três sensores em uma faixa no chão e ganha potência extra, controlada eletronicamente à distância. Quando está nesse modo, o carro emite um halo azul de iluminação LED na transmissão da TV. Qualquer semelhança com o ­Mario Kart não é coincidência — o sistema foi inspirado no game.

Foto: Cagle Cartoons/Fotoarena

Com breve passagem pela Fórmula 1 e campeão da Fórmula E em 2017, Lucas Di Grassi concorda com Massa. “Em algum momento, a Fórmula 1 vai precisar definir se é uma categoria de entretenimento ou de desenvolvimento técnico, que foi o caminho em que a Fórmula E se posicionou. É por isso que as montadoras estão aqui, para desenvolver os modelos elétricos que vão para as concessionárias”, explica Di Grassi.

De fato, a Fórmula E tem despontado como principal fonte de inovação e testes para desenvolver soluções para cidades e estradas, como já foram a Indy, as 500 Milhas de Indianápolis e até a própria Fórmula 1. “Minha dúvida era saber por que os carros da Fórmula E não eram mais potentes. Mas as montadoras investem mais em confiança e durabilidade do que em velocidade. É isso o que será aplicado nos modelos de rua”, diz Rubens Barrichello, ex-piloto de Fórmula 1, que assistia à prova da Cidade do México a convite dos organizadores.

O desafio agora é fazer carros elétricos mais velozes, que aguentem o ritmo forte de uma corrida. As corridas da Fórmula E são menores do que as da Fórmula 1, bem como os circuitos e a velocidade dos carros. Uma empresa nacional, a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), que tem como acionista majoritária a família Moreira ­Salles, está tentando mudar esse cenário.

A CBMM controla cerca de 90% das reservas mundiais de nióbio, um metal leve e resistente usado em chassi, bateria, carroceria e freio dos carros, extraído principalmente em Araxá, Minas Gerais.

Na Cidade do México, a CBMM apresentou o novo safety car da categoria, um BMW i8, que tem parte de suas peças feita de nióbio. “A Fórmula E é hoje nosso principal cartão de visita para desenvolvimento de peças automotivas”, diz Giuliano Fernandes, diretor de marketing da empresa.

“Já pensou um carro que carregue toda a bateria em um pit stop, em 8 segundos? Agora imagine essa tecnologia aplicada a um transporte de massa, como ônibus, que pode ser recarregado a cada parada numa cidade com milhões de habitantes, reduzindo trânsito e poluição.”

O cuidado com o ambiente é outra questão. É de pensar se os pilotos do futuro só vão querer dirigir carros sustentáveis. Há quem fale numa eventual convergência de categorias — vale lembrar que o grupo Liberty, atual proprietário da Fórmula 1, é também acionista da Fórmula E.

“A palavra-chave do futuro é ‘mobilidade’, então é natural que tenhamos um potencial de investimento muito grande”, diz Alberto Longo, CEO da Fórmula E. “Mas não vejo as categorias como concorrentes. São formas diferentes de pensar.”

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