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Da Redação
Publicado em 27 de setembro de 2012 às 11h47.
São Paulo - Até o julgamenrto do mensalão chegar ao fim, no Supremo Tribunal Federal, muita água ainda vai rolar debaixo da ponte, e muitas lições a respeito de como funciona a máquina do Estado no Brasil estarão à disposição do público.
Algumas, com o julgamento apenas começando, estão disponíveis desde já — e uma das mais interessantes entre elas é a perversão que a entrega escancarada de cargos do governo federal para a “companheirada” do PT, por ordem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sob sua inteira responsabilidade, provocou nas esferas mais altas da administração pública do país.
A palavra correta é essa mesmo — perversão. De que outra maneira se poderiam descrever os fatos que ocorreram no Banco do Brasil durante o primeiro mandato de Lula, e que os votos iniciais já dados pelos ministros do STF condenaram como atos criminosos?
Ao proferir sua decisão sobre esse aspecto do mensalão, o revisor do processo, ministro Ricardo Lewandowski, afirmou que imperava uma “total balbúrdia” na área de publicidade do banco estatal — um de seus setores mais críticos, considerando-se a quantidade de dinheiro que sai dali em direção a bolsos particulares, inclusive de forma lícita.
As investigações revelaram a circulação, na área, de 80 000 notas frias — um possível recorde nacional, talvez mundial, na prática de falsificação em massa. Ficou comprovada, segundo os juízes, a distribuição de propinas. O grande banco do Estado brasileiro pagava por serviços que não recebia — e por aí segue a procissão.
“Total balbúrdia”? É isso, exatamente. Trata-se do resultado direto da perversão referida acima — ela conduz a uma situação de anarquia em qualquer instituição pública entregue a gente desqualificada, e com isso vão para o diabo as boas práticas gerenciais, a integridade das decisões e o respeito a regras elementares da contabilidade.
No caso do Banco do Brasil, dois terços dos 33 cargos da alta direção foram doados por Lula a aliados políticos; só poderia, é claro, dar no que deu. O Itaú, o Bradesco e o Santander, por exemplo, tomam extremo cuidado na escolha de seus diretores e principais executivos.
Sabem, pela experiência acumulada em séculos, o perigo que é mexer com dinheiro, sobretudo dinheiro dos outros. No caso do Banco do Brasil, então, os controles para a nomeação de altos funcionários deveriam ser ainda mais rigorosos — afinal, o banco integra o sagrado “patrimônio público”, tão intocável para o PT nos discursos horrorizados que faz contra a privatização.
Na verdade, não existe “dinheiro do Banco do Brasil”. O que existe é dinheiro da população brasileira, que, como ocorre em todas as empresas estatais, é a proprietária legal do banco, e por isso mesmo deveria ter seus interesses duplamente protegidos. O que o governo Lula fez foi justamente o contrário.
Outra lição que fica à vista, nos momentos iniciais do julgamento, é o acerto, na essência, do noticiário sobre o mensalão; ela ajuda a entender a hostilidade do PT e aliados do governo à imprensa, e sua insistência em criar “controles sociais” sobre a mídia.
Em artigo publicado pela Folha de S. Paulo na semana passada, a jornalista Eliane Cantanhêde lembrou que já em 2003 publicara um artigo apontando o loteamento político do Banco do Brasil — o que naturalmente atraiu sobre ela, como aconteceu com tantos outros jornalistas que publicaram informações incômodas ao governo nos últimos anos, comentários de que faria parte da “imprensa golpista”.
Eliane nunca pensou em sua vida, nem por 5 segundos, em dar um golpe de Estado, no Brasil ou em qualquer país do mundo — apenas descreveu fatos que acabaram se revelando indiscutíveis. Mas isso é irrelevante para as brigadas do “controle social”. Notícias “negativas” prejudicam o governo; como o governo é democrático, popular e conta com sabe-se lá quantos por cento de aprovação, tais notícias são uma tentativa de “golpe”.
Não é nada disso, como se vê hoje no STF. É apenas balbúrdia total.