50 inovações da pandemia (Catarina Bessell/Exame)
Da Redação
Publicado em 30 de julho de 2020 às 05h00.
Última atualização em 31 de julho de 2020 às 14h16.
Em 1959, num discurso na cidade de Indianápolis, o então presidente americano, John Kennedy, fez uma analogia com o símbolo mandarim correspondente à palavra “crise” — que seria uma junção de duas outras palavras, “perigo” e “oportunidade” — para ilustrar como essas ideias díspares costumam andar lado a lado. De lá para cá, a citação virou motivo de debate. Em vez de “oportunidade”, segundo linguistas, o símbolo significaria “início de algo”. A polêmica não impediu a citação de ganhar relevância no mundo corporativo para descrever momentos de incerteza profunda, como o atual. Em meio à pandemia e ao risco de a economia global afundar num ritmo comparável ao da Depressão de 1929, empresas do mundo todo seguem inovando, seja para atender às oportunidades abertas com a crise, seja para conter os danos causados por ela. A EXAME selecionou, nesta edição, 50 atitudes inovadoras que ajudaram grandes e pequenas empresas, órgãos públicos e organizações do terceiro setor a resolver problemas criados pela pandemia. Em alguns casos, a inovação veio na forma de produtos ou serviços criados nos últimos meses. Em outros, bastou mudar processos ou torná-los digitais. Divididas em cinco categorias, as inovações nas páginas a seguir reforçam a ideia de Kennedy: o momento é, também, de oportunidades.
O primeiro caso do novo coronavírus nos Estados Unidos foi confirmado no dia 21 de janeiro. Dez dias antes, a empresa de biotecnologia Moderna, com sede em Cambridge, no estado de Massachusetts, já estava trabalhando em uma vacina contra a covid-19, com base em dados de sequenciamento do genoma do vírus divulgados pelos cientistas chineses. No início de março, a vacina desenvolvida pela Moderna com um novo método já estava sendo testada em pessoas.
A rapidez com que a Moderna se lançou na empreitada é um dos fatores que explicam por que ela está no pelotão de frente da corrida global pela busca da vacina contra a covid-19. Há mais de 165 vacinas contra o coronavírus em desenvolvimento no mundo. A da Moderna é uma das 27 que já estão na fase de avaliação clínica — ou seja, superaram a fase exploratória em laboratório e a fase pré-clínica de testes em animais. A vacina da Moderna já está na última etapa da fase clínica, na qual o produto é testado em grande número de pessoas para verificar sua eficácia e segurança.
Depois dos resultados promissores com 45 voluntários, que desenvolveram anticorpos para o coronavírus, a Moderna testou em maio a vacina em 600 adultos para verificar sua reação em um grupo variado de pessoas. No final de julho, começou a testar a vacina em 30.000 pessoas. Foi a primeira vacina nos Estados Unidos a entrar na fase de testagem em larga escala. Se tudo der certo, a previsão da Moderna é produzir de 500 milhões a 1 bilhão de doses por ano, a começar em 2021.
Diferentemente das vacinas tradicionais, que injetam um vírus enfraquecido ou inativado para desencadear uma resposta imunológica do organismo, o produto da Moderna usa um material genético do vírus chamado RNA mensageiro para estimular a produção de anticorpos. Em tese, o uso do RNA mensageiro permite uma produção mais rápida de vacinas do que pelo método tradicional. Até hoje, porém, isso nunca foi feito na prática — não há no mercado nenhuma vacina desenvolvida com RNA, um material considerado instável pelos cientistas.
Ainda é cedo para saber se a Moderna será uma das vencedoras da corrida global pela vacina contra a covid-19. O certo é que a empresa foi uma das que mais valorizaram desde o início da pandemia. Suas ações na bolsa Nasdaq subiram mais de 300% desde janeiro e transformaram seu presidente, Stéphane Bancel, em novo bilionário. No dia 21 de julho, o valor de mercado da Moderna era de 30 bilhões de dólares. Bancel tem uma fatia de 9% da companhia. Ernesto Yoshida
A quarentena forçou os brasileiros a comprar mais pela internet, um movimento que ajudou a impulsionar as vendas online e beneficiou a varejista online Mercado Livre. O aumento no faturamento foi de 70% nos primeiros três meses do ano. Para atender à demanda, a empresa fez contratações e acelerou a entrada em novos segmentos, como de supermercado e saúde. O plano de investir 4 bilhões de reais no Brasil em 2020 foi mantido. Em junho, a empresa inaugurou seu terceiro centro de distribuição no país, em Lauro de Freitas, na Bahia — o primeiro fora do estado de São Paulo. Do início de janeiro a 24 de julho, as ações da empresa negociadas na Nasdaq subiram 62% e seu valor de mercado está perto de 50 bilhões de dólares, um nível inédito. Filipe Serrano
A sabedoria popular avisa: é prudente não colocar todos os ovos na mesma cesta sob o risco de perder tudo ao menor chacoalhão. Em tempos de crise, muitas empresas brasileiras ampliam a presença internacional para compensar prejuízos causados pela disparada do dólar ou pelo sumiço de clientes. É o caso da startup mineira Hotmart, uma espécie de vitrine de produtos digitais, como cursos, e-books e podcasts. Em março, a startup anunciou a compra da concorrente americana Teachable, numa transação estimada em 12 milhões de dólares. A intenção é ampliar a base de clientes, já bem globalizada: são mais de 20 milhões de usuários em 188 países. Em maio, as vendas foram o triplo do mesmo período de 2019. Carolina Ingizza
Poucas indústrias sofreram tanto com a pandemia quanto a aviação civil. A turbulência chacoalhou os negócios da Flapper, startup de São Paulo que é uma espécie de Uber de jatos executivos para clientes endinheirados a caminho de destinos paradisíacos. Com o medo de contágio nos ares, a demanda sumiu. Em meio ao caos, o fundador da Flapper, Paul Malicki, atentou-se para as notícias de turistas brasileiros presos em cruzeiros ou em países remotos da África e da Ásia por causa do cancelamento de voos. “Passei a ligar para embaixadas do Brasil lá fora oferecendo o serviço de repatriação”, diz Malicki, que fundou o negócio em 2016. Para fazer a estratégia compensar, a Flapper precisou alugar aviões grandes. O maior deles, um Boeing 777, trouxe 230 brasileiros retidos em países da África. A Flapper deverá faturar 20 milhões de reais em 2020 — mais que o dobro de 2019. Leo Branco
A pandemia trouxe prejuízos a negócios que iam bem e também abriu demandas pouco mapeadas. No meio do pandemônio corporativo, há quem veja valor em atirar para todos os lados. “A pandemia me ensinou a não ter só uma estratégia”, diz Eduardo L’Hotellier, fundador da GetNinjas, um aplicativo para contratar ajudantes gerais, como pintores e pedreiros. O medo dos clientes de pegar o vírus ao contratar um profissional afundou o carro-chefe da GetNinjas. Em abril, a demanda foi de 50% do normal pré-pandemia. A saída foi recrutar profissionais com atendimento à distância, como instrutores de ioga, fisioterapeutas e até professores de tricô. Hoje, 40% dos serviços são do tipo online. Em janeiro, eram 5%. Para recuperar o negócio original, o jeito foi distribuir álcool em gel e máscaras e ensinar os profissionais a atender pelo WhatsApp. Jogar em várias frentes deu certo: o app ganhou 650.000 clientes na crise. Leo Branco
O isolamento social impulsionou os serviços da Vittude, startup dona de uma espécie de “Uber de psicólogos”, onde é possível fazer terapia à distância. Desde março, o número de visitantes aumentou de 2,5 milhões para 3,3 milhões por mês. A número de usuários cadastrados no período cresceu de 25.000 para 150.000. “Queremos chegar a 1 milhão de vidas até o fim do ano”, diz Tatiana Pimenta, cofundadora da Vittude. O pulo do gato da startup é a venda de planos corporativos a negócios dispostos a dar algum conforto aos funcionários em meio ao isolamento social. Entre os 70 clientes atuais estão Grupo Boticário, Banco do Brasil, RaiaDrogasil e SAP. “Queremos chegar a 200 clientes até dezembro”, diz Pimenta. Ernesto Yoshida
O número de restaurantes cadastrados no aplicativo de delivery iFood saltou 60% com a pandemia — hoje são 212.000. Nessa toada, entraram categorias pouco digitalizadas, como churrascarias. A quantidade de pedidos cresceu de 30 milhões, em março, para 39 milhões, em junho. Quem já estava acostumado a pedir comida experimentou novos pratos. Com tantas demandas abertas, o iFood viu a necessidade de se aproximar de clientes e parceiros. No caso dos clientes, esforçou-se para incluir culinárias pouco vistas por lá, como a vegana. Para os restaurantes, criou conteúdos anticrise. “Eles precisavam de informações para readequar o cardápio, pensar na logística e na gestão do negócio”, diz Diego Barreto, vice-presidente do iFood. Aos entregadores, ofereceu máscaras e álcool em gel. Mas, como outras empresas de delivery, está às voltas com protestos da categoria espalhados pelo país. Na pauta estão melhores condições de trabalho, que só aumentou com a pandemia. Mariana Desidério
Com mais gente passando mais tempo dentro de casa, há quem queira dedicar atenção a melhorias no lar. Pensando nessa demanda, a varejista Leroy Merlin turbinou o serviço de aluguel de ferramentas. O serviço que antes da pandemia era terceirizado a outra empresa passou a ser feito por funcionários da Leroy. O custo módico de alguns serviços — é possível alugar uma furadeira elétrica por 30 reais, por exemplo — aqueceu as vendas. A Leroy Merlin projeta uma receita de 6 bilhões de reais em 2020 — alta de 8%. Karin Salomão
A fabricante de balanças Toledo viu crescer na pandemia uma inovação que usa computação em nuvem que permite ao cliente acompanhar a pesagem por celular ou computador, e não só pelo visor da balança. O serviço foi útil em supermercados ao reduzir a exposição entre clientes e funcionários. A Toledo também criou uma marcação automática de preços. Com as inovações, a empresa vai empatar as vendas de 2019, de 469 milhões de reais. Juliana Estigarríbia
Numa crise, pode ser útil dividir a empresa para dar conta das exigências dos clientes, que não raro aumentam nessas épocas. Foi o que ocorreu na produtora de tecnologia para vídeos mineira Samba Tech. A pandemia trouxe necessidades bem específicas — de cursos sobre prótese dentária a gerência de estoque. A saída foi criar duas áreas. Uma delas, a Samba Digital, entrega soluções customizadas em até duas semanas. A outra é uma solução de videoconferência, em alta com a profusão de lives. Nas duas frentes, a audiência está aumentando. Ivan Padilla
O setor de vestuário foi o que mais sofreu na pandemia, entre todos os ramos do varejo. Em abril, quando as medidas de isolamento social já estavam em pleno funcionamento, as vendas do setor caíram mais de 60%, de acordo com dados da Pesquisa Mensal do Comércio, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No geral, o comércio amargou uma queda de 16,8%. Para a catarinense Malwee, seria um cenário desolador não fosse a capacidade de mudar rapidamente suas linhas de produção. Logo no início da pandemia, a empresa deixou de fabricar roupas e passou a se concentrar na produção de equipamentos de proteção individual (EPIs), como máscaras e aventais médicos. Em dois meses, a Malwee produziu mais de 40 milhões de máscaras e 10 milhões de jalecos. “Num ano normal, nós fabricamos cerca de 30 milhões de peças de vestuário”, afirma Guilherme Weege, CEO da Malwee. A venda de EPIs compensou a perda de faturamento decorrente do fechamento das lojas. A queda nas vendas, no entanto, não era o único desafio da empresa. Toda a cadeia da indústria da moda corria o risco de quebrar, inviabilizando a retomada após a pandemia. Uma das preocupações da companhia era com o elo mais fraco dessa cadeia: as costureiras. A saída encontrada pela Malwee para dar um fôlego financeiro a essas profissionais foi desenvolver um kit de máscara, com pano e elástico, vendido por menos de 1 real. “As costureiras produzem, em média, 300 unidades por dia e revendem localmente por 4 ou 5 reais”, diz Weege. Foram mais de 5 milhões de kits distribuídos, com uma média de 50.000 por dia. “Nosso cliente é o pequeno empresário e resolvemos ser o porto seguro dele nesta pandemia”, afirma. Rodrigo Caetano
O recente anúncio da Apple de que deixará de usar chips Intel em seus computadores para produzir os próprios processadores só reforçou a necessidade de o gigante dos semicondutores diversificar seus negócios e depender menos do segmento de computação pessoal. A Intel vem expandindo a oferta de produtos para servidores e data centers, e entrou em novas áreas, como internet das coisas, chips para redes 5G e carros autônomos. Um investimento recente foi a aquisição da startup israelense Moovit, que tem um sistema de otimização de rotas de transporte público, por 900 milhões de dólares. O movimento tem dado resultado. As receitas das demais unidades de negócio da Intel cresceram 34% no segundo trimestre em relação ao ano passado. No campo dos PCs, a empresa também tem ido bem e foi favorecida pelo aumento das vendas de desktops e notebooks durante a quarentena. Entretanto, a Intel agora enfrenta o desafio de produzir e lançar chips da nova geração, que hoje já são fabricados por concorrentes como a americana AMD e a taiwanesa TSMC. O desenvolvimento de processadores com litografia de 7 nanômetros — que consomem menos energia e são mais rápidos — está atrasado. Filipe Serrano
Em quatro dias, a Caixa transformou um aplicativo com capacidade para 1 milhão de usuários na plataforma do maior programa de transferência de renda da história do Brasil. Até o momento, o banco já repassou 136,3 bilhões de reais a 65 milhões de beneficiados pelo auxílio emergencial. Em outubro, o banco pretende testar a solidez de seus números com os investidores ao fazer a oferta inicial de ações de sua subsidiária de seguros, que deve captar até 15 bilhões de reais. Em seguida, a unidade de cartões irá a mercado. Natália Flach, Marília Almeida e Karla Mamona
A entrada de dinheiro novo com a chegada de um sócio pode garantir tranquilidade de caixa no meio de uma crise. Ou, então, ser o passaporte para uma expansão internacional. É o que deve ocorrer com a Taxweb, empresa de São Paulo especializada em sistemas online para rastrear mudanças no cipoal de normas tributárias brasileiras. Por dia, são cerca de 800 atualizações. Os clientes da Taxweb são, em boa medida, pequenas e médias empresas, muitas delas com vendas pela internet e para clientes de outros estados — um desafio e tanto no Brasil por causa das diferenças na cobrança de ICMS e ISS, impostos regionais. Em maio, a Taxweb recebeu aporte da multinacional americana Sovos, de software para gestão fiscal. A Sovos pretende exportar o conhecimento da Taxweb em rastrear mudanças de impostos, uma expertise que as empresas do Brasil têm de sobra. Denyse Godoy
Alguns varejistas grandes ajudaram fornecedores ou clientes menores a lidar com a pandemia. A rede de franquias Chilli Beans, de óculos, negociou com administradoras de shopping centers para postergar o aluguel dos franqueados — ou negociar preços mais módicos após o sumiço dos clientes. Além disso, despachou executivos para olhar as contas dos franqueados em busca de redução de despesas com fornecedores. Em outra frente, negociou com os bancos um crédito mais em conta. Assim, evitou uma debandada dos franqueados. “Dos 293, só três nos deixaram”, diz o fundador, Caíto Maia. Leo Branco
A pandemia causou um congestionamento nas entregas de compras online — no auge da crise, muitos supermercados de São Paulo só conseguiam entregar os produtos mais de três semanas depois da compra. Enquanto isso, a varejista C&A reduziu a espera de 35 para quatro dias nos destinos mais distantes da sede, em São Paulo. A receita: ampliar o uso das lojas como centros de distribuição de encomendas compradas nos canais digitais da empresa. Além disso, investiu num serviço em que o cliente busca o produto nas lojas — em alguns casos, via drive-thru. Em junho, 12% dos pedidos feitos no site da C&A eram entregues dessa maneira. O serviço deve continuar, mesmo com as lojas reabertas, porque trouxe resultados. As vendas por canais digitais da empresa aumentaram 400% desde o início da crise sanitária. Carolina Ingizza
Na nova era do trabalho remoto, aplicativos de videoconferência, como o Zoom, tornaram-se fundamentais para as operações de empresas no mundo inteiro. Mas o repentino aumento da demanda trouxe dores de cabeça para o Zoom, com a descoberta de uma série de falhas na segurança do serviço. A empresa reconheceu o deslize e explicou que não estava preparada para o rápido aumento de usuários. Em vez de fingir que o problema não era com ela, a empresa deu uma lição de como lidar com a crise de imagem. O Zoom chegou a ter mais de 300 milhões de pessoas conectadas em suas reuniões por dia em abril. Antes da pandemia, em dezembro, o número não passava de 10 milhões. Desde então, a empresa contratou executivos especializados em segurança, como o consultor Alex Stamos, ex-Facebook, adquiriu uma empresa que desenvolve um sistema de criptografia de ponta a ponta e tem feito melhorias em seu software. As medidas reduziram as preocupações e animaram os investidores. As ações do Zoom continuaram a tendência de alta. Até 23 de julho, os papéis acumulavam um ganho de 266% em 2020. Os resultados financeiros também colaboraram para o bom desempenho na bolsa. No trimestre encerrado no mês de abril, o Zoom teve um aumento anual de 169% no faturamento, para 328,2 milhões de dólares, e um crescimento de 90% no número de grandes empresas clientes. A previsão de faturamento para o atual ano fiscal dobrou: passou de 900 milhões de dólares para 1,8 bilhão (cerca de 9,3 bilhões de reais). Agora a empresa aposta em parcerias com fabricantes de câmeras e telefones para integrar o Zoom em seus aparelhos. Nada mal para quem até pouco tempo atrás estava levando pedradas. Filipe Serrano
Poucas vezes o ditado “uma mão lava a outra” fez tanto sentido quanto agora para a empresária Chieko Aoki, executiva da rede de hotéis Blue Tree. Em março, Aoki fechou às pressas as 22 unidades por causa da pandemia. Aí veio a dúvida: como convencer os clientes de que é seguro compartilhar um quarto de hotel? A rede redigiu um manual de normas sanitárias reforçadas, como a separação dos lençóis de quartos diferentes na hora de ir para a máquina de lavar — antes, tudo ficava num mesmo bololô. Além disso, compartilhou o manual com outras redes. “O setor inteiro sofreu com a crise de confiança. Não adiantaria nada fazer tudo sozinha”, diz Aoki. O manual já teve 15.000 downloads. Atualmente, apenas cinco unidades da Blue Tree seguem fechadas. Leo Branco
A fabricante de ventiladores pulmonares paulista Magnamed tomou um susto quando, em março, o Ministério da Saúde pediu 15.000 respiradores. Até então, a linha de produção fabricava só 200 por mês. A Magnamed conseguiu dar conta do recado pedindo ajuda a outras empresas. Acionando amigos e parceiros, a Magnamed conseguiu crédito da papeleira Suzano para comprar insumos. Com a ajuda da empresa de tecnologia Positivo, encontrou no exterior peças para ampliar a linha de produção. Assim, a Magnamed prevê faturar 390 milhões de reais em 2020 — oito vezes mais do que em 2019. Denyse Godoy
Na crise, ter clientes fiéis é uma boa estratégia para ter caixa. Na startup Housi, dona de um aplicativo usado por executivos para encontrar abrigo em viagens curtas, 20% dos contratos foram cancelados por causa da pandemia. Por isso, a startup passou a focar o longo prazo. Os imóveis receberam melhorias, como novas redes de Wi-Fi, para atrair famílias em busca de estadias mais longas. O faturamento do mês de junho cresceu 60% em relação ao de maio. Carolina Ingizza
Fundada em 2018 por duas jovens administradoras recém-formadas pelo Insper, a Ozllo, marketplace de roupas e acessórios de luxo, enxergou na pandemia uma oportunidade. De março a junho, a plataforma, que funciona como uma espécie de outlet de luxo, em que tanto empresas quanto pessoas físicas podem anunciar, viu sua receita crescer 274% com uma simples fórmula: atrair marcas de roupa “offline” fechadas por causa das regras de distanciamento social. A estratégia de captação aumentou em 185% o número de empresas parceiras que anunciam no site. O número de pessoas físicas também subiu 10%. Segundo a cofundadora da Ozllo, Zoe Povoa, a pandemia revelou quanto o segmento de moda ainda depende de lojas físicas, e também como a parceria entre marketplaces conhecidos e comércios pequenos pode ser vantajosa para ambos os lados. Hoje, a empresa está presente em 16 estados. Para expandir sua aderência, criou um banco com cerca de 100 influenciadoras digitais que anunciam a marca em troca de uma porcentagem nas vendas. Além disso, em junho, a Ozllo fechou parceria com o gigante dos cosméticos Sephora. Na compra pelo site, o cliente recebe um brinde. “A parceria com a Sephora também ajudou muito no volume de vendas. Muitas vezes, o cliente compra um item com a expectativa de receber uma surpresa. Para nós, inovação é concretizar aquilo que por algum motivo ainda não está sendo feito”, diz Povoa. Matheus Doliveira
Quem está na posição confortável de ver a demanda pelos produtos e serviços crescer no meio de uma recessão pode, também, aproveitar o momento para ampliar a base de fornecedores — evitando o risco de ficar sem matéria-prima quando a economia estiver bombando. O caso da empresa de marmitas prontas Liv Up, de São Paulo, é exemplar. Com a pandemia, o volume de encomendas dobrou em relação ao mesmo período do ano passado, em boa medida pela legião de novos clientes — em geral trabalhadores órfãos do quilão perto do escritório e sem habilidades na cozinha. As receitas devem triplicar em 2020. Para não faltar feijão com arroz, os sócios da Liv Up passaram a comprar alimentos de dezenas de pequenos agricultores antes dedicados ao fornecimento de alimentos orgânicos a escolas públicas fechadas pela pandemia. A empresa não revela o faturamento, mas o apetite dos investidores dá uma pista do crescimento. Fundada em 2016, a Liv Up recebeu 90 milhões de reais em 2019. Leo Branco
Custos são como unhas e, por isso, devem ser cortados com alguma regularidade, segundo uma das máximas da gestão de empresas. A lição norteou a estratégia da concessionária EDP Brasil para lidar com a crise. Desde março, a operação brasileira economizou 1,3 bilhão de reais com ajustes em várias frentes. Em relação ao quadro de funcionários, contratações de pessoal terceirizado e consultorias externas foram suspensas. Com todo mundo trabalhando de casa, uma das duas sedes da empresa em São Paulo foi devolvida — só aí já foram 100 milhões de reais a menos de despesas. Todas as áreas da empresa foram convocadas para reuniões diárias com um tema único: ações para reduzir gastos e aumentar a liquidez do negócio. Os encontros, em si, também foram econômicos. “Tínhamos gente para cronometrar as conversas para não correr o risco de torná-las longas e improdutivas”, afirma Miguel Setas, presidente da EDP Brasil. Leo Branco
Assim que a quarentena começou, no meio de março, a marca de roupas Reserva fechou lojas e só manteve o centro de distribuição aberto. Os 600 vendedores de lojas viraram vendedores online e começaram a usar diariamente o Now, canal da Reserva que utiliza inteligência artificial e conversa diretamente com clientes via SMS, WhatsApp, e-mail ou Facebook. Em julho, as vendas vão atingir 90% do normal pré-crise. “Se a empresa só pensa em inovação na crise, não age a tempo. O tsunami pegou a gente em cima da árvore”, diz Rony Meisler, fundador da Reserva. Guilherme Dearo
Longas filas e horas de espera. Era esse o retrato de postos de atendimento de serviços públicos no Brasil antes da pandemia. Com o fechamento dos órgãos de governo, cresceu a urgência de atender a população pela internet. Desde março, o governo federal digitalizou 251 serviços. Além disso, ferramentas foram criadas para atender o cidadão atingido pela crise, como o aplicativo que solicita o auxílio governamental. “Com a impossibilidade de receber atendimento presencial, revimos os cronogramas de entregas para dar preferência aos serviços que, digitalizados, evitariam aglomerações”, disse Luís Felipe Monteiro, secretário de Governo Digital do Ministério da Economia. O avanço na oferta de serviços digitais no país tem sido reconhecido. Em julho, pela primeira vez, o Brasil apareceu entre os 20 países mais digitalizados num ranking das Nações Unidas. Fabiane Stefano
A pandemia colocou em maus lençóis os negócios que dependiam do fluxo de pessoas. As empresas que migraram para atendimento online conseguiram contornar os percalços e, em alguns casos, ter resultados melhores do que os de antes da crise. É o caso da Conquer, uma escola de negócios de Curitiba. Até a pandemia, todas as aulas eram presenciais nas 11 unidades da escola nas principais cidades brasileiras. Desde março, a escola é apenas online. “A equipe de professores e de desenvolvedores ficou 100% dedicada a gravar os conteúdos que até então eram presenciais”, diz Hendel Favarin, fundador da Conquer. Novos cursos virtuais dedicados às necessidades da crise, como de finanças pessoais, também saíram do forno. O resultado foi um salto nas vendas. De uma média de 30.000 clientes do modo analógico, hoje são 600.000. De janeiro a maio, a escola faturou mais do que em todo o ano passado. A previsão para este ano é faturar 45 milhões de reais, o dobro de 2019. Leo Branco
A covid-19 trouxe um risco ao negócio da Diálogo, startup de Porto Alegre de entregas de encomendas para varejistas com presença online, como Renner e Magazine Luiza. Como evitar o contágio entre 2.000 entregadores espalhados pelas regiões Sul e Sudeste? “Embora o cenário fosse promissor no setor, porque mais gente comprava pela internet, temi não dar conta de tanto perrengue”, diz Ricardo Hoerde, fundador da Diálogo. Em março, a empresa agregou uma ferramenta de comando de voz, ao estilo de assistentes pessoais, como Google Home, ao aplicativo da Diálogo. O motivo: minimizar contatos. “Em vez de assinar recibos, os clientes contam que receberam as encomendas e os entregadores gravam tudo”, diz. Na crise, a empresa conquistou novos clientes, como a varejista Centauro. A receita deverá bater 100 milhões de reais, o dobro de 2019. Leo Branco
A pandemia da covid-19 acelerou o uso da telemedicina, e uma das empresas que mais ganharam com isso foi a plataforma de saúde chinesa Ping An Good Doctor, fundada em 2014. Entre janeiro e fevereiro, no pico da pandemia na China, foram 1,1 bilhão de visitantes em busca de informações sobre o vírus. Uma parte desses visitantes virou também paciente dos médicos que anunciam serviços por ali. Um de seus maiores sucessos foi conseguir facilitar o acesso a consultas médicas de qualquer localidade, de forma automatizada, com a criação de sua Clínica de Um Minuto, um quiosque de autoatendimento espalhado por várias cidades. O paciente entra na cabine e consulta um médico virtual, que usa a inteligência artificial para fazer o diagnóstico em minutos. Isso é possível comparando as informações fornecidas com uma base de dados de 670 milhões de consultas reais com diagnósticos para 3.000 doenças. Depois, o paciente tira dúvidas por videoconferência com um médico de carne e osso. A covid-19 foi o pontapé inicial de que a companhia precisava para a expansão internacional. Em abril, a empresa estreou uma plataforma de atendimento remoto, com consultas em inglês, 24 horas por dia. Bárbara Nór
Uma marca da pandemia tem sido a solidariedade corporativa: empresas dando crédito a seus fornecedores, ajudando-os a colocar seus funcionários em home office e a melhorar a gestão. A empresa de tecnologia de pagamentos Visa abriu seu site de promoções e ofertas no Brasil para que pequenas e médias empresas vendessem seus produtos e se comprometeu a doar 210 milhões de dólares globalmente em cinco anos para essas companhias. A crise também fez com que disparasse o número de transações com cartão de débito nas compras online, funcionalidade que estava demorando a decolar. Denyse Godoy
Poucas empresas estavam tão preparadas para atender à realidade do trabalho remoto quanto a Microsoft. A companhia fundada por Bill Gates viu um crescimento exponencial em quase todos os negócios durante a pandemia. O crescimento das vendas de computadores — impulsionado pela quarentena — elevou as vendas de licenças do Office e do Windows. A explosão da videoconferência favoreceu o Teams, que virou uma ferramenta obrigatória para milhões de trabalhadores. Num dia, a empresa registrou 5 bilhões de minutos de reuniões pelo aplicativo. E, com mais gente em casa, a Microsoft também viu um crescimento de 64% no faturamento da área de games, encabeçada pelo videogame Xbox. Mas a grande estrela mesmo foi a unidade de negócios de computação em nuvem da companhia, um serviço que se mostrou fundamental para manter as empresas em operação na quarentena. No segundo trimestre, a unidade de nuvem faturou 13 bilhões de dólares, 17% mais do que no ano anterior. Filipe Serrano
“Com vocês, meu verdadeiro amor, meu príncipe. Meu sonho ganhou vida”, diz a atriz Fiorella Mattheis. Em seguida, ela mostra o volante de uma BMW. O vídeo bem-humorado está na conta da marca alemã no TikTok. Difícil imaginar um produto de luxo fazendo campanha numa rede social para jovens (de verdade). Ou sendo vendido no Instagram, ou no Facebook. Tudo isso foi adotado pela montadora alemã por causa da pandemia. “A tecnologia faz parte do DNA da empresa”, diz Jorge Júnior, diretor de marketing da BMW Brasil. O executivo lembra que o primeiro carro eletrificado a ser vendido no Brasil foi o i3, em 2014. Para Jorge, o indicativo de sucesso é que um em cada cinco contatos no meio digital vira negócio. Ivan Padilla
Com a pandemia, a importadora de vinhos Grand Cru ampliou as vendas do comércio eletrônico de 10% para 25% do total. A maior parte das 25 lojas próprias e 52 franqueadas pelo Brasil passou a entregar na casa dos clientes, mesmo quando estavam fechadas. Mais: serão abertas dez novas lojas franqueadas ainda neste ano. Prosperar no mundo digital não é grande feito agora. No físico, sim. Os 400 vendedores atuam no WhatsApp para atrair clientes. A empresa tem promovido lives com o sommelier executivo, happy hours com influenciadores e até financiou shows de cantores sertanejos. Tânia Nogueira
Antes da crise sanitária, o maior canal de vendas da construtora Tenda, especializada em imóveis do programa habitacional Minha Casa Minha Vida, eram as 64 lojas próprias nas principais cidades brasileiras. Era lá também que os funcionários armazenavam pilhas de documentos com comprovantes de renda de clientes em busca de financiamento. Com as regras de distanciamento social, todas fecharam as portas. “Ou a gente mudava o atendimento, ou ficaria de braços cruzados”, diz Luis Martini, diretor executivo de marketing e tecnologia. Por causa da pandemia, a construtora acelerou um projeto para simplificar a papelada requerida aos clientes. A adoção de softwares com inteligência artificial deu um jeito de organizar dados pessoais antes espalhados em pastas e lojas. Com isso, dos 11 documentos pedidos aos clientes antes de um financiamento, a Tenda hoje pede três, enviados pela internet: RG e comprovantes de renda e de endereço. A solução encurtou o prazo para concessão de crédito de três semanas para um dia. Além disso, expandiu as vendas. Antes da pandemia, com as idas e vindas nas lojas, dava para fechar até 12.000 propostas por mês. “Agora fazemos em média 60.000”, diz Martini. “Em meio à crise, tivemos o melhor trimestre da história.” Leo Branco
O Walmart é a empresa com maior faturamento no mundo — 524 bilhões de dólares em 2019. É também a maior rede varejista, com 4.600 lojas nos Estados Unidos. Com a pandemia, aproveitou essa enorme capilaridade para avançar na integração de seus canais físicos e digitais. Os clientes podem comprar pelo site ou pelo app e retirar os produtos em 2.500 lojas com a comodidade. A empresa lançou também o delivery em 1.000 lojas, que prometem entregar os pedidos online em 2 horas. A previsão é que as vendas online do Walmart atinjam 41 bilhões de dólares neste ano, 44% mais do que em 2019. O Walmart ainda está longe da líder Amazon, mas está se consolidando em segundo lugar, à frente do eBay. Ernesto Yoshida
Com as pessoas em casa, o aplicativo de transporte Uber viu secar sua maior fonte de receitas. Assim, a empresa precisou cortar 3.700 funcionários — 25% do total. Ao mesmo tempo, teve de encontrar novos clientes. Os esforços se concentraram nos serviços de entrega de comida e de compras, por meio do UberEats e dos apps Cornershop e Postmates, adquiridos recentemente. Filipe Serrano
No dia 1o de julho, a americana Tesla tornou-se a montadora mais valiosa do mundo, superando pela primeira vez a japonesa Toyota. É um feito e tanto quando se considera que a Toyota vende 30 vezes mais carros e fatura dez vezes mais do que a Tesla. Os papéis da empresa do bilionário Elon Musk continuam entre os mais procurados e, no dia 22 de julho, a Tesla já valia 290 bilhões de dólares. Os números mostram a crescente confiança dos investidores nos carros elétricos, que hoje representam só 2,5% do mercado de automóveis novos. Com a necessidade de reduzir a emissão de gases de efeito estufa, a tendência é que os carros elétricos ganhem cada vez mais mercado. Segundo a agência de notícias Bloomberg, as vendas dessa categoria deverão representar 58% do mercado automobilístico em 2040 — o caminho é longo, portanto. Após anos no vermelho, a Tesla começa a colher os frutos por ter apostado desde o início em carros que causem menos impactos ao ambiente. Mesmo com o fechamento temporário das fábricas na pandemia, a empresa pretende produzir neste ano cerca de 500.000 carros. Em 2019 foram 365.000. No segundo trimestre, com coronavírus e tudo, a empresa lucrou 104 milhões de dólares. Foi o quarto trimestre seguido de lucros, fato inédito desde a fundação da Tesla, em 2003. Ernesto Yoshida
A empresa de tecnologia americana Nvidia destacou-se nos últimos anos por vender unidades de processamento avançadíssimas, usadas em games e data centers. Na pandemia, a demanda pelos equipamentos para data centers subiu 80%, puxada pela expansão da computação em nuvem. A unidade de games também foi beneficiada com um faturamento 27% acima do registrado no mesmo período de 2019. No total, as receitas chegaram a 3 bilhões de dólares no trimestre. Em 2020, suas ações valorizaram mais de 60%. Em julho, o valor de mercado da empresa chegou a ultrapassar, pela primeira vez na história, o de sua maior concorrente, o gigante Intel. Filipe Serrano
Uma das grandes beneficiadas pela pandemia foi a chinesa Tencent, maior empresa de games do mundo. Dona de títulos como League of Legends e Honor of Kings, a companhia chamou a atenção de uma legião de pessoas entediadas em casa. Só na China são mais de 600 milhões de jogadores. Para a Tencent, tudo isso significa venda. Em março, um só jogo, o PlayerUnknown’s Battlegrounds, levantou 232 milhões de dólares — o triplo de março de 2019. O desafio agora é criar motivos para a jogatina continuar após a quarentena. Bárbara Nór
O Magazine Luiza melhorou a reputação, já alta antes da pandemia. A varejista foi uma das primeiras a comprometer-se a não demitir e a não fechar lojas com o avanço do vírus. Seu shopping virtual abriu espaço às vendas de produtos de microempreendedores com frete gratuito. Com tudo isso, o Magazine Luiza foi eleito a principal referência positiva na pandemia pela consultoria HSR. A boa imagem ajudou a empresa a ganhar espaço. A fatia de mercado do app Magalu subiu de 22%, em fevereiro, para 27%, em abril. Nas redes sociais, a empresa tem 55% de menções favoráveis — um recorde positivo. Rodrigo Caetano
A Netflix está saindo da pandemia com a certeza do valor de seu catálogo de 1.900 filmes e séries — boa parte deles exclusiva. Se antes a companhia vinha sendo desafiada por competidores, como o serviço Amazon Prime e o Disney Plus, 2020 ajudou a Netflix a consolidar a posição de liderança. O número de assinantes no mundo passou de 167 milhões, no final de dezembro, para 193 milhões, em junho. O acréscimo de 26 milhões de pagantes é quase tudo o que a empresa ganhou no ano passado inteiro. O faturamento no segundo trimestre cresceu 25%, para 6,1 bilhões de dólares. No ano, as ações da empresa acumulavam uma alta de 45% até 24 de julho. A pandemia não interrompeu a estratégia agressiva de lançamentos de produções originais, quase tudo filmado antes da quarentena. Só em julho estrearam mais de 50 produções. O avanço da pandemia mundo afora poderá atrasar os lançamentos previstos para 2021 — e, assim, atrapalhar
a máquina de fazer dinheiro da Netflix. Filipe Serrano
Por muito tempo colocada em dúvida por investidores, a aposta do Google em transformar o YouTube numa plataforma de todos os tipos de vídeo feitos por terceiros mostrou-se acertada na pandemia. A proliferação de lives, em particular em mercados como o Brasil, fez a receita do YouTube crescer 33% no primeiro trimestre. A empresa foi beneficiada ainda pela adoção maciça de atividades online por empresas no mundo todo. Com a quarentena, o Google liberou o acesso ao Meet, seu aplicativo de videoconferência. Agora o gigante das buscas quer mudar o serviço de e-mail Gmail para integrá-lo às demais ferramentas de trabalho. Filipe Serrano
Responsável por quase metade das vendas online nos Estados Unidos, a Amazon viu explodir as vendas de itens como eletrônicos, medicamentos e alimentos na quarentena. No primeiro trimestre, faturou mais de 75 bilhões de dólares, alta de 26% em relação a 2019. Na apresentação dos resultados, o fundador da empresa, Jeff Bezos, afirmou que, em períodos normais, a Amazon teria um lucro operacional de cerca de 4 bilhões de dólares no segundo trimestre. “Mas não estamos em circunstâncias normais. Em vez disso, esperamos gastar a totalidade desses 4 bilhões, talvez um pouco mais, em despesas ligadas à covid-19 para levar produtos aos clientes e manter os funcionários seguros.” Nenhuma outra empresa do mundo pretende gastar tanto quanto a Amazon na prevenção da doença. O investimento é também uma resposta à pressão crescente de sindicatos. Esse valor deverá ser investido em equipamentos de proteção pessoal, laboratório próprio para testagem, reconfiguração dos espaços para manter o distanciamento físico e outros processos para reduzir o risco de contágio. Para dar conta do aumento das vendas na pandemia, contratou 175.000 temporários. Desses, a empresa pretende efetivar cerca de 125.000, ou 70%. Ernesto Yoshida
Como rastrear com algum grau de certeza o avanço da pandemia? Cinco cidades usaram a vigilância participativa — os cidadãos monitoraram uns aos outros para identificar os bairros com mais casos da covid-19. Idealizado pelas startups Colab e Epitrack, o movimento Brasil sem Corona reuniu 28.000 voluntários, que responderam a formulários online sobre o estado de saúde e eventuais sintomas da covid-19. Os dados foram cruzados com os de fontes oficiais. Desse raio-X saíram políticas públicas contra a pandemia, segundo Gustavo Maia, fundador do Colab. Clara Cerioni
Na corrida pela busca de uma vacina contra a covid-19, a farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca anunciou uma decisão que contribuiu positivamente para sua reputação: produzir vacina para o mundo inteiro sem lucro enquanto durar a pandemia. A expectativa da empresa é produzir “bilhões de doses” da vacina assim que ela passar por todos os testes clínicos de eficácia e segurança. O custo de cada dose é estimado em 2,50 euros. A AstraZeneca não vai arcar sozinha com os custos, pois recebeu subsídios de vários governos e organizações, como a Fundação Bill e Melinda Gates. Ainda assim, abrir mão do lucro não é uma atitude trivial. A Johnson & Johnson também prometeu fornecer sua vacina sem lucro. Já Pfizer, Merck e Moderna afirmaram que não pretendem fornecer suas vacinas a preço de custo. Ernesto Yoshida
Com a escassez de leitos e equipamentos de saúde para enfrentar a covid-19, lideranças da sociedade civil organizada arregaçaram as mangas para ir atrás de doações para resolver o problema. Uma das campanhas mais bem-sucedidas foi a organizada pela ONG Comunitas, fundada em 2000 pela então primeira-dama Ruth Cardoso para fomentar a inovação na gestão pública. Em três meses, a ONG levantou 50 milhões de reais. O dinheiro serviu para comprar mais de 300 respiradores destinados a hospitais do SUS no estado de São Paulo. Uma parte também abasteceu a Fiocruz, referência no país em pesquisas contra a doença. Em boa medida as doações vieram de empresas e pessoas físicas que ficaram sabendo da vaquinha pela internet e doaram por ali mesmo. “O legado da pandemia são a importância de uma saúde pública bem equipada e uma cultura de doação”, diz Regina Esteves, presidente da Comunitas. De março para cá, a filantropia brasileira já levantou 6 bilhões de reais para o combate ao vírus, três vezes mais do que a média anual. Leo Branco
O distanciamento social minguou a fonte de renda de milhões de autônomos de baixa escolaridade, como ambulantes. Enquanto o governo federal e os estados batiam cabeça sobre um modelo de transferência de renda eficiente, a ONG carioca Central Única de Favelas (Cufa) articulou um mecanismo para transferir doações de contas-correntes de empresas e filantropos para o celular de mães chefes de família, moradoras de favelas e desempregadas — um público com risco altíssimo de passar fome. O sistema usou carteiras digitais, como as do aplicativo PicPay, para os repasses. Dali, o beneficiário pode fazer compras pelo sistema QR Code (no qual basta usar o próprio celular) ou transferir o recurso a uma conta bancária com cartão físico — método usado para pagamentos do benefício do Bolsa Família, por exemplo. Em outra frente, em parceria com o governo paulista, a Cufa cadastrou famílias de baixa renda com estudantes na rede pública de ensino. O motivo: depositar 50 reais por mês a título de substituição pela merenda perdida. Tudo via carteira digital. Rodrigo Caetano
A pandemia aumentou a pressão sobre gestores públicos. Para a ONG Social Good Brasil, de Florianópolis, a hora é de transparência. A ONG articulou uma rede de 60 cientistas de dados para bolar maneiras de mapear o risco de descontrole da covid-19 no estado. O resultado é um software para gestores públicos atualizarem dados como ocupação dos leitos, evolução e procedência dos casos. Além de classificar a gravidade da situação, o sistema tem protocolos sobre o que fazer em cada caso. A ferramenta não impediu o avanço da pandemia em Santa Catarina, um dos epicentros da covid-19 no país. A informação detalhada, contudo, ajudou a reduzir o número de mortes. A letalidade do vírus por ali é 25% da nacional. Leo Branco
A prefeitura de Recife, em Pernambuco, lançou o aplicativo Movimenta Recife para orientar a população a praticar exercícios físicos em casa. O sucesso foi imediato. Com mais de 50.000 usuários, o app está entre os mais baixados do Brasil. Com a reabertura dos parques na orla da cidade, o aplicativo traz também treinos ao ar livre. Fabiane Stefano
Aberta em 2010, a startup Inloco tem uma tecnologia para rastrear a localização de celulares e, assim, disparar anúncios para um aparelho que esteja perto de uma loja. Na pandemia, o rastreio ajudou estados e municípios a monitorar a adesão à quarentena. A empresa fechou parceria com 23 estados para receber de graça os relatórios sobre as cidades com mais furões. Em março, 62% dos brasileiros estavam isolados. Agora, menos de 40%. Com a reabertura, o índice traz pistas de mudanças no comportamento da população. “As pessoas estão saindo de casa, mas vão a menos lugares”, afirma André Ferraz, fundador da Inloco. Fabiane Stefano
Na pandemia, muitas empresas criaram produtos para resolver carências urgentes para o bem comum. A startup curitibana Tecverde conquistou clientes e investidores com uma tecnologia para a construção de moradias de baixo custo que ficam prontas em questão de dias. Na pandemia, a empresa foi convocada por gestores de saúde a erguer hospitais em grandes centros urbanos com carência de leitos, como São Paulo. Em menos de dois meses foram cinco unidades e 280 leitos em quatro estados. A técnica para erguer os hospitais, moldados com todas as paredes de uma vez só, é diferente do jeito original da Tecverde para erguer casas, em que as paredes são unidas só no canteiro de obras. A capacidade da fábrica foi ocupada pela nova demanda. O negócio original, de casas, foi retomado aos poucos nas últimas semanas, segundo Caio Bonatto, fundador da Tecverde. Leo Branco