US$ 10,7 trilhões em 12 meses

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Como a indústria de fundos perdeu mais de US$ 10 trilhões em 12 meses

Queda de patrimônio dos fundos globais foi a maior em 2022 desde o início da série histórica da IIFA

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Como a indústria de fundos perdeu mais de US$ 10 trilhões em 12 meses

Queda de patrimônio dos fundos globais foi a maior em 2022 desde o início da série histórica da IIFA

US-STOCKS-MARKETS-OPEN (Getty Images/TIMOTHY A. CLARY/AFP)

Por Guilherme Guilherme

Publicado em 06/04/2023, às 18:05.

Última atualização em 09/08/2023, às 16:17.

US$ 10,7 trilhões em 12 meses

A indústria global de fundos perdeu US$ 10,7 trilhões em 2022, revelaram os dados colhidos pela International Investment Funds Association (IIFA). O montante equivale a mais de cinco vezes o PIB do Brasil e foi o maior já registrado pela série histórica iniciada em 2008. Nem mesmo no primeiro trimestre de 2020, ápice do efeito da pandemia nos mercados, os fundos perderam tanto dinheiro, encerrando o período com saldo negativo de US$ 6,9 trilhões. Os fundos, inclusive, conseguiram reverter as perdas naquele ano, terminando 2020 com saldo positivo de US$ 8,16 trilhões.

O vilão dos fundos

O que ajudou a impulsionar o crescimento do volume de dinheiro no mercado após os efeitos iniciais da covid-19 foi justamente o que derrubou o patrimônio dos fundos em 2022: a política monetária dos bancos centrais, em especial a do americano Federal Reserve (Fed). Com o objetivo de combater a maior inflação desde os anos 1980, o Fed mudou completamente de rota a partir do ano passado, quando passou a elevar sua taxa de juros. Do patamar próximo de 0% para o qual o havia derrubado no início da pandemia o já Fed subiu a taxa de juros para 5%, o nível mais alto desde 2006.

Mesmo com a taxa elevada para os parâmetros americanos, parte dos investidores ainda acreditam que o ciclo de altas ainda não chegou ao fim. Essas apostas de juros ainda mais agressivos nos Estados Unidos só não são maiores dado as consequências do aperto monetário, que já começam a aparecer. A vítima mais recente foi o Silicon Valley Bank, um dos 20 maiores bancos americanos que precisou ser comprado pelo First Citizens. Com parte significativa dos depósitos de seus clientes em títulos de longo prazo do Tesouro americano, o SVB viu o valor de seus ativos se deteriorar com alta de juros do Fed, não conseguindo honrar a onda de resgates que sofreu no começo de março.

SVB: Banco quebrou e foi comprado por First Citizens (Ilustração: Pavlo Gonchar/SOPA Images/LightRocket via Getty Images)

Nem renda fixa se salva

Efeito semelhante ocorreu nos fundos globais, que viram a porção dos investimentos em títulos ser reduzida de US$ 13,7 trilhões para US$ 11,5 trilhões. Parte desse efeito se deu por meio da marcação à mercado, que depreciou os papéis emitidos a taxas de juros mais baixas -- efeito que é ainda mais intenso em títulos pré-fixados com prazos de vencimento mais longos. Outra parte dos US$ 2,2 trilhões perdidos em renda fixa saiu por meio de resgates líquidos, que ficaram em US$ 124 bilhões.

"Essa alta de juros estimulam o investimento direto em títulos de renda fixa. Nos Estados Unidos, existem os CDs de bancos, que são como nosso CDB, e eles tiveram grande mudança de faixa de rendimento com a alta de juros. No Brasil, esse movimento de investir diretamente em títulos de renda fixa é ainda maior, pois há incentivos fiscais", afirmou Pedro Rudge, fundador da Leblon Equities.

Mesmo com os juros já elevados no Brasil, os resgates de fundos de renda fixa locais ficaram em R$ 49 bilhões no ano passado. A saída foi a maior desde 2019, quando a Selic atingiu o menor patamar desde 1999. Mas por aqui, mesmo com os resgates, os fundos de renda fixa cresceram R$ 270 bilhões, dado a maior concentração de títulos pós-fixados e atrelados à inflação do que o mercado internacional.

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Mas nenhuma outra classe de ativos sofreu mais com a alta de juros do que a de ações, no mundo e no Brasil. Somente os fundos de ações brasileiros perderam R$ 106 bilhões em patrimônio, mais do que na crise de 2008, quando o saldo foi negativo em R$ 88,7 bilhões. Aqui, onde o Ibovespa subiu em 2022 na contramão do exterior, a queda de patrimônio foi puxada pelos R$ 70,4 bilhões em pedidos de resgate. No exterior, onde só o S&P 500 caiu próximo de 20%, o buraco foi mais fundo.

Dados do IIFA mostram que fundos globais de ações perderam US$ 6,6 trilhões em 2022, sendo a maior parte puxada justamente pela queda de preços. A BlackRock, maior gestora do mundo, perdeu sozinha US$ 907 bilhões no mercado de ações no ano passado. Ao todo, o volume sob gestão da BlackRock desabou em US$ 1,42 trilhão.

"Essa é uma crise séria em termos de valor de ativos", afirmou Willian Eid, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV EAESP. Eid ainda recorda que ações internacionais de tecnologia, que figuravam entre as favoritas dos últimos anos, estiveram entre as que mais sofreram com as altas de juros. O índice Nasdaq, da bolsa onde estão listadas as principais empresas do setor, encerrou o ano passado com 33% de queda.

"Isso fez com que investidores corressem do mercado de ações, levando à redução de grandes gestoras, como a BlackRock e outras com posições nesse tipo de ativo", comentou Eid.

Luz no fim do túnel?

A boa notícia para os fundos é que, apesar do saldo negativo de US$ 10,7 trilhões em 2022, o último trimestre foi de recuperação. Até o fim de setembro, segundo o IIFA, os fundos globais chegaram a acumular US$ 14,7 trilhões de perda de patrimônio. O quarto trimestre, vale ressaltar, coincidiu com o início da recuperação dos principais índices de ações internacionais. Mas, para Eid, ainda é cedo para afirmar que o pior já passou para os fundos. "Ainda está muito complicado prever qualquer coisa."

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