United e Liverpool valendo bilhões

hero_O clube de R$ 25 bi: por que a venda do Manchester United pode ser a maior da história

Liverpool v Manchester United - Premier League - Anfield

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O clube de R$ 25 bi: por que a venda do Manchester United pode ser a maior da história

O maior vencedor da Inglaterra pode ter novos donos, num negócio que mostra a força, e os dilemas, do esporte

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O clube de R$ 25 bi: por que a venda do Manchester United pode ser a maior da história

O maior vencedor da Inglaterra pode ter novos donos, num negócio que mostra a força, e os dilemas, do esporte

Liverpool v Manchester United - Premier League - Anfield

Por Lucas Amorim

Publicado em 06/03/2023, às 18:08.

Última atualização em 09/08/2023, às 16:34.

United e Liverpool valendo bilhões

Perder nunca é bom. Mas há derrotas que vêm em momentos especialmente ruins. Neste domingo, 5 de março, o Manchester United, um dos grandes clubes de futebol do planeta, foi protagonista de uma dessas derrotas que vieram num péssimo timing.

O United havia acabado de levantar o troféu da Copa da Liga Inglesa, encerrando um jejum de seis anos sem títulos, e tinha grandes expectativas para o clássico contra o Liverpool, pelo campeonato inglês. O jogo reunia os dois maiores vencedores do campeonato nacional: 20 títulos do United, 19 do Liverpool. O que era para ser uma partida equilibrada terminou em uma antológica goleada de 7 a 0 para o Liverpool, na maior derrota dos rivais nos últimos 92 anos.

Foi horrível para os fãs do United, considerado o time com mais torcedores no planeta: são 659 milhões, segundo a consultoria Kantar. "Humilhação" foi o termo mais usado pelos jornais ingleses. O técnico, Erik Ten Hag, disse que o desempenho do time foi “não profissional”. Mas a história fica ainda pior porque o United está em meio a um processo de venda que pode transformá-lo no clube de futebol mais valioso da história. O quanto a goleada pesará nas finanças, ninguém sabe.

Até sexta-feira, o clube vinha sendo disputado por competidores de peso. De um lado, um consórcio liderado pelo sheik qatari Jassim Bin Haman Al Thani, presidente do Qatar Islamic Bank. De outro, o bilionário britânico Jim Ratcliffe, dono da multinacional química Ineos. O fundo americano Elliott Investment Management também já foi citado como possível interessado.

O preço gira em torno de 4,5 bilhões de euros, algo na casa dos 25 bilhões de reais, embora os proprietários do United projetem até 6 bilhões de euros pela venda. “A família Glazer terá que convencer os potenciais investidores deste valor adicional que ainda não foi enxergado. Acredito que pode vir principalmente da futura comercialização dos milhões de torcedores globais do clube”, diz Richard Lane, diretor da consultoria Win The Game.

De qualquer forma, a venda, mesmo que por 4,5 bi, seria o suficiente para fazer do United o time de futebol mais caro da história, e para colocá-lo no grupo dos mais valiosos do esporte mundial, junto com times de futebol americano como Dallas Cowboys e New England Patriots, avaliados pela revista Forbes em mais de 30 bilhões de reais.

A venda mais cara da história foi a do Denver Broncos, também da liga de futebol americano, por cerca de 20 bilhões de reais, ano passado.
"Pode ser o maior negócio da história do esporte. E mostra como lá fora os clubes gigantes, de maior torcida e valor de marca, também são negociados. Pode virar uma referência também para o Brasil."Vinicius Lordello, especialista em marketing esportivo e colunista da EXAME

Antony, do Manchester United.

Milan, PSG, Cruzeiro, Vasco: lista crescente

A venda do United completaria um ciclo raro no aquecido mercado da bola. Nos últimos anos, clubes tradicionais do futebol mundial viraram alvo de investidores que tentam unir o prestígio das marcas com retornos financeiros. O Milan, da Itália, o PSG, da França, e o Cruzeiro e o Vasco, do Brasil, estão nesta lista. O Manchester United é pioneiro nesta ligação entre futebol e investidores e, por isso mesmo, seu destino está sendo acompanhado no detalhe.

"É uma negociação simbólica. O United é o primeiro grande case de gestão global de uma marca", diz Amir Somoggi, sócio da consultoria Sports Value. "O clube é sucesso na bolsa de valores e virou benchmark para os demais que buscaram gestão profissional e expansão de mercado".

O United foi vendido em 2005 ao bilionário americano Malcom Glazer por 790 milhões de libras. O clube hoje é comandado por seus herdeiros, também donos do Tamba Bay Buccaneers, de futebol americano. Os primeiros anos foram frutíferos, com abertura de capital em Nova York, aumento da capacidade do estádio Old Trafford, e títulos. Mas a aposentadoria do lendário técnico Alex Ferguson em 2013, que venceu 38 títulos pelo clube, colocou o time numa espiral de derrotas sem precedentes.

Para piorar, o maior rival do United, o Manchester City, foi comprado por um fundo de Abu Dhabi e já conquistou cinco campeonatos ingleses desde 2013, ano do último título do rival. No último ranking da consultoria Deloitte, o City é o primeiro do mundo em faturamento, com 731 milhões de euros; o United é o quarto, com 688 milhões.

Nos últimos anos, o United fez investimentos recordes em jogadores para tentar sair da fila. Mais recentemente, comprou, por exemplo, o volante brasileiro Casemiro por 70 milhões de euros e o atacante Anthony por 95 milhões de euros. Para ganhar novamente o campeonato inglês, talvez o time tenha que gastar ainda mais, uma vez que seus rivais da Premier League gastaram esse ano 11 bilhões de reais em reforços, recorde na história do futebol.

Lucro ou títulos?

A gestão empresarial de clubes esportivos é um tema para lá de complexo. Empresas existem para dar retorno financeiro a seus acionistas – e, também, retornos positivos à sociedade, numa visão mais moderna que coloca as práticas ESG como prioridade. Os clubes de futebol, por outro lado, existem para ganhar títulos. As finanças em dia são uma arma poderosa para chegar lá, mas não um fim em si mesmo.

Quando os times têm investidores e acionistas em bolsa, o que era para ser simples fica complicado. Gastar em reforços ou distribuir mais dividendos? Manter o craque do time ou vender para reforçar o caixa?

O Arsenal, comprado em 1999 por um grupo americano, é um exemplo extremo desse dilema. O time ficou mais de uma década aliando ótimos retornos financeiros a campanhas medíocres em campo a ponto de a torcida passar a levar faixas ao estádio pedindo que os donos gastassem "the fucking money". Este ano, com um dos estádios mais modernos da Europa e um time com jovens valores, o Arsenal lidera o campeonato inglês. A espera e a cautela estão, ao menos em parte, se pagando.

Na outra ponta, clubes como o Manchester City e o Barcelona tiveram problemas legais por gastar mais do que poderiam, mantendo artificialmente times caros e acumulando dívidas para além de suas capacidades financeiras. Mas ganharam uma enxurrada de títulos. No mercado financeiro, quando o tema é futebol, há sempre uma piada que diz que torcida nenhuma leva bandeiras pedindo “Ebitda” para as arquibancadas.

Fato é que a torcida é um stakeholder importante. Os torcedores do United montaram até uma associação especializada em criticar os Glazer. Ratcliffe, um dos possíveis compradores, é torcedor do clube e já afirmou que fará da torcida uma prioridade.

“O Manchester é um clube tão icônico na história do futebol inglês, que o dono acaba sendo o responsável por um período; mas a torcida, se não gosta, coloca uma pressão enorme”, diz Lane.

Uma notícia que pode confortar os futuros investidores. Nos últimos cinco anos as ações do Manchester United valorizam 9% mesmo sem sucesso esportivo. Nesta segunda-feira, o papel anda de lado, após uma goleada de 7 a 0. Não deixa de ser um bom sinal. Times vencedores naturalmente valerão mais. Mas apenas um pode sair campeão. Se o Manchester conseguir aliar as duas pontas, tanto melhor para quem topar preencher o cheque de R$ 25 bilhões.

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Lucas Amorim

Lucas Amorim

Diretor de redação da Exame

Jornalista formado pela Universidade Federal de Santa Catarina, começou a carreira no Diário Catarinense. Está na Exame desde 2008, onde começou como repórter de negócios. Já foi editor de negócios e coordenador do aplicativo da Exame.

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