Pop

Você conhece o 'girl math'? Especialistas falam o que pensam sobre o fenômeno do TikTok

Por mais piada que seja, a verdade é que muitas meninas e garotas se identificaram com o "girl math", o que pode ser perigoso para  a saúde financeira

Entenda o que é e de onde veio o 'girl math' (	praetorianphoto/Getty Images)

Entenda o que é e de onde veio o 'girl math' ( praetorianphoto/Getty Images)

Luiza Vilela
Luiza Vilela

Repórter de POP

Publicado em 11 de novembro de 2023 às 08h03.

Nas últimas semanas, alguns vídeos viralizaram no TikTok com uma matemática de finanças sem muito sentido. É a tal da "girl math" ou "matemática de garota': um jeito de driblar as finanças pessoais para fazer compras supérfluas, sem de fato colocá-las no papel para organizá-las, com base nos gastos do dia.

Funciona mais ou menos assim: se você tem um gasto essencial de R$ 20 por dia para almoçar, mas leva marmita de casa, naquele dia você ganhou R$ 20. Ou seja, você pode gastar esse valor em uma ida de Uber ao trabalho, um novo batom ou qualquer outro item com o mesmo preço. E não para por aí: se por algum acaso você pagou algo com dinheiro físico — que, dessa forma, não foi debitado da sua conta bancária , pela lógica do "girl math', o item saiu de graça.

A lógica, na verdade, não tem muito sentido, mas uma dezena de vídeos humorísticos sobre o tema viralizaram no TikTok. E, por mais piada que seja, a verdade é que muitas meninas e garotas se identificaram com o "girl math", o que pode ser perigoso para  a saúde financeira.

@emilysanches_

Explicando girl math para o Gui 😅 #girlmaths #girlmath #matematicadasgarotas #risos #fun #funny #couplefun #couplegoals #ptbr

♬ som original - Emily Sanches

O que pensam os especialistas de finanças sobre o 'girl math'?

Piada ou não, foi surpreendente a quantidade de mulheres que não somente compreenderam a "lógica" do "girl math", como também reconheceram seus hábitos de finanças nele. E o termo, que chegou ao top trends do X (antigo Twitter) e do próprio TikTok, rendeu outra discussão mais profunda sobre a origem do fenômeno financeiro, assim como uma dúvida se o termo poderia ser considerado pejorativo.

Para entender melhor do assunto, a EXAME POP conversou com duas especialistas em consumo financeiro, Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da FGV, e Adriana de Arruda, planejadora financeira CFP pela Planejar.

Ambas as especialistas, logo de cara, destacaram que o fenômeno tem sim um lado um tanto quanto pejorativo às mulheres. "Esse vídeo, apesar de ter um cunho humorístico, é na verdade um perigo. Tem toda a cara de brincadeira, mas por causa de vídeos assim, acaba se reforçando estereótipos ruins ligados à gênero", salientou Yoshinaga. "É algo problemático, porque cria desculpas para fazer compras em cima de compras, e a gente sabe inclusive a própria pessoa sabe que é algo errado a se fazer com o dinheiro", complementa.

@gabrielletaborda

Kkkkkkkkk bom dia #foryou #fypシ #girlsmath

♬ som original - Gabrielle Taborda

Arruda salienta que a questão de gênero é, de fato, uma problemática. Mas não só pelo lado "machista" da coisa, e sim por uma possível explicação da origem do termo.

"A mulher, ao longo da história, ela sempre teve um papel muito mais de cuidar do que de prover. Claro, hoje as coisas são diferentes, mas isso faz parte de toda a história do papel da mulher na sociedade. Então, toda vez que nós mulheres gastamos para nós mesmas, e não para o outro, isso tende a gerar culpa. Então essa forma de 'driblar' as finanças também pode estar atrelada a isso, um jeito de ter essa espécie de permissão para gastar se, de alguma forma, houver uma compensação ali, um desconto, uma lógica que não é exatamente racional", explica Adriana de Arruda.

Para ela, os vídeos podem ser vistos em duas perspectivas diferentes. "O 'girl math' pode ser visto como uma questão de humor, porque é engraçado e às vezes a gente se pega pensando nisso, mas também tem algo de perigoso, que é continuar um estereótipo falso de que as mulheres não são tão capazes quanto os homens nas finanças. E isso está longe de ser verdade, somos, sim, tão capazes quanto eles", salienta .

Mas o 'girl math' de fato é prejudicial à saúde financeira?

Problemáticas de gênero à parte, por mais engraçada que seja a trend, ela traz consigo um prejudicial hábito financeiro: a desorganização das finanças pessoais e, consequentemente, o endividamento.

Arruda aposta que essa matemática feminina pode levar a uma desilusão financeira. Algo que parece que funciona mas, na prática, pode gerar sérios problemas. "Precisa se fazer a pergunta certa: você precisa mesmo daquilo que está comprando? Isso estava planejado no seu orçamento, você fez pesquisa de preço? Tem certeza que o produto está mesmo em uma promoção?. Tem todo um histórico, um caminho antes de fazer uma compra de forma consciente", ressalta.

Para Yoshinaga, é importante também pensar bem em como organizar os gastos e classificá-los. Em um caso mais simples, é saber o que é essencial à sobrevivência ou não. A conscientização, para ela, ajuda a se criar um comportamento financeiro mais saudável. E é justamente nisso que a 'girl math' falha.

"É claro que, no dia a dia, precisa existir uma categoria dentro da organização financeira que vai estar designada a bens essenciais, coisas necessárias à sobrevivência, e isso precisa ser bem calculado. Só que precisa tomar cuidado para não flexibilizar demais, para não criar regras que fujam da realidade, não dá para substituir um almoço por uma blusa e isso ter a mesma classificação financeira na organização pessoal, como mostram os vídeos. É preciso categorizar com base no que realmente é essencial mesmo, e saber diferenciar daquilo que não o é".

 

Acompanhe tudo sobre:TikTokFinançasFinanças em diaVídeos de finanças pessoais

Mais de Pop

Arábia Saudita vai construir arranha-céu na forma de cubo gigante — e pode acomodar 20 Empire States

Oasis no Brasil: banda confirma shows em São Paulo em 2025; veja datas e como comprar ingressos

Ratos africanos gigantes são treinados para combater o tráfico de animais selvagens e outros crimes

Evandro Teixeira, um dos ícones do fotojornalismo do Brasil, morre aos 88 anos