Elza Soares: cantora faleceu nesta quinta-feira, 20 de janeiro (Roberto Ricciuti/WireImage/Getty Images)
André Martins
Publicado em 20 de janeiro de 2022 às 17h24.
Última atualização em 20 de janeiro de 2022 às 19h47.
A cantora Elza Soares morreu nesta quinta-feira, 20 de janeiro, aos 91 anos, em sua casa no Rio de Janeiro. Segundo uma publicação em seu Instagram, feita por familiares e pela equipe da cantora, Elza faleceu por causas naturais.
"Ícone da música brasileira, considerada uma das maiores artistas do mundo, a cantora eleita como a Voz do Milênio teve uma vida apoteótica, intensa, que emocionou o mundo com sua voz, sua força e sua determinação. A amada e eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e em nossos corações e dos milhares fãs por todo mundo. Feita a vontade de Elza Soares, ela cantou até o fim”.
A cantora nasceu e foi criada na favela de Moça Bonita, atualmente conhecida como Vila Vintém, na zona oeste do Rio de Janeiro. Elza foi obrigada a casar aos 12 anos com Alaúrdes Soares, que na época era dez anos mais velho que ela. Com 13 anos, a cantora teve seu primeiro filho. Com Alaúrdes, teve mais quatro filhos, sendo que dois morreram de fome, já que o casal não tinha condições para se manter. O casamento, que foi arranjado pelo seu pai, foi marcado por episódios de violência doméstica e sexual. Aos 21 anos, Elza ficou viúva de Alaúrdes, que morreu de tuberculose.
Quando já estava no mundo da música, Elza conheceu o jogador de futebol Garrincha, que após a Copa do Mundo de 1962, no Chile, decidiu terminar seu casamento para ficar com a cantora. Garrincha, que tinha problemas com alcoolismo, batia em Elza. Após tentar, sem sucesso, ajudar o jogador a vencer seu vício, ela decidiu se separar. Na época, Elza foi acusada de ter abandonado Garrincha e de ter sido a grande responsável pelo fim da carreira do jogador, que faleceu em 1983, no mesmo dia em que Elza veio a óbito.
Elza Soares foi perseguida pela ditadura militar (1964-1985). A cantora não era bem vista pelos militares por ter gravado o jingle da campanha de João Goulart a vice-presidente em 1960. Elza e o marido na época, Mané Garrincha, tiveram de deixar o Brasil após a casa em que viviam, no Rio de Janeiro, ter sido metralhada. Ela foi obrigada a se exilar na Itália com o jogador. “Nós estávamos dentro da casa [na hora do ataque]. Eu morava no Jardim Botânico e brincava com as crianças na rua. Depois, entramos e começamos a ouvir um barulho de tiroteio. Minha casa foi toda baleada. Fiquei completamente apavorada por causa dos filhos, das crianças. Eu tinha um piano na sala e o piano foi aberto no meio [sic]”, contou a cantora em entrevista ao Programa do Porchat em 2018.
Considerada uma das maiores cantoras da música brasileira, Elza começou sua carreira no samba nos anos 1960. Com 34 discos lançados, ela passeou por diversos ritmos, do samba ao jazz, chegando até a música eletrônica, hip hop e funk. O último disco lançado foi Planeta Fome em 2019. Em 2015, Elza lançou o álbum A mulher do fim do mundo. Em verso da música que batiza o álbum, a cantora dizia “Me deixem cantar até o fim”.
Elza ficou conhecida por uma série de sucessos. Entre eles, Dentro de cada um, Exú nas escolas, Deus há de ser, A Carne, Mulher do Fim do Mundo, entre outros.
A cantora tem uma biografia autorizada publicada pelo jornalista Zeca Camargo, lançada em 2018. O livro foi escrito a partir de 40 horas de depoimentos e com a autorização da cantora. O documentário My name is now sobre a história de Elza Soares também foi lançado no mesmo ano pela diretora Elizabete Martins Campos.