Senador Randolfe Rodrigues: "Jair Bolsonaro não sendo reeleito, nós vamos ter que refundar o Brasil" (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Carolina Riveira
Publicado em 20 de abril de 2021 às 06h00.
Última atualização em 20 de abril de 2021 às 10h56.
Garantir que mais brasileiros cheguem ao final do período da pandemia com vida exigiria uma mudança de rumo imediata do governo federal. A visão é do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que pediu no Senado a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as ações do governo federal no combate à covid-19, cujo início está previsto para os próximos dias.
Rodrigues acredita que, para que a imagem do governo Bolsonaro se recupere após o caos gerado pela gestão na covid-19, seria necessário "mudar radicalmente de rumo".
O senador falou na última semana ao podcast EXAME Política, disponível todas as sextas-feiras (ouça abaixo na íntegra).
"Não tendo concretamente uma mudança de rumo já, imediata, vai ter mais trabalho para nós em 2022", diz, citando as próximas eleições presidenciais. "Jair Bolsonaro não sendo reeleito, e eu vou trabalhar para isso, nós vamos ter que refundar o Brasil. Porque o estrago desses quatro anos vai ser enorme."
A "guinada" na resposta do governo federal à pandemia poderia ser feita, segundo o senador, "coordenando o enfrentamento em escala nacional", garantindo isolamento nos locais mais colapsados de modo a conter o vírus, dando autonomia ao novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e com apoio federal aos estados que mais precisam.
"Estamos no momento mais grave da pandemia. Teríamos que tomar as medidas necessárias para que o máximo de brasileiros sobrevivessem", diz.
O senador diz ainda que são necessárias medidas econômicas de apoio às empresas na crise e de modo a garantir o isolamento. Mas também aponta que um outro Orçamento de guerra como o autorizado no ano passado faria "disparar a relação dívida PIB, que já é a mais alta em séculos", afirma, ampliando a deterioração fiscal.
A demora na contenção da pandemia e a falta de confiança internacional no Brasil já cobram seu preço. Relatório da OCDE na semana passada mostrou que o Brasil é a única grande economia do mundo onde a atividade econômica enfrenta desaceleração, mesmo com os baixos índices de isolamento ao longo de toda a pandemia.
A popularidade do presidente Jair Bolsonaro atingiu seus níveis mais baixos no começo de abril, segundo a última pesquisa EXAME/IDEIA.
O número de brasileiros que considera o governo do presidente como ótimo ou bom chegou a 24%, após ter ficado perto de 40% em meados de 2020, no auge do pagamento do auxílio emergencial. Na gestão da pandemia, a aprovação de Bolsonaro também está abaixo da da de governadores e prefeitos.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, disse na semana passada que a CPI pode ser instalada nos dias 22 ou 27. Na entrevista à EXAME, Rodrigues defendeu que a CPI seja instalada já nesta quinta-feira, 22, quando podem ser feitas a escolha do presidente, vice-presidente e relator.
Os 11 membros da CPI chegaram a um acordo para que o colegiado seja presidido por um senador do Amazonas, Omar Aziz (PSD-AM), tendo Randolfe como vice-presidente. A relatoria caberia ao senador Renan Calheiros (MDB-AL), visto como desafeto do governo federal. Os nomes ainda precisarão ser oficialmente confirmados pelos membros da comissão nesta semana.
Outra polêmica relacionada à comissão é a inclusão de governadores nos debates da CPI, uma sabida demanda do presidente Bolsonaro. Rodrigues avalia que poderão ser investigados fatos classificados como "conexos" em relação a ação do governo federal.
"Por exemplo, considero que é inevitável ouvir o governo do estado do Amazonas, sobre a circustância de agravamento da pandemia lá. O que for fato conexo não tem nenhuma incompatibilidade", disse. Mas afirmou que é preciso ter "foco". "Tem muita provocação para que a gente saia do foco das respostas que os brasileiros querem."
Pesquisa EXAME/IDEIA feita no fim de março mostrou que 71% dos brasileiros eram favoráveis à instalação da CPI.