Jovem empreendedor: será que você é novo demais para ter um negócio? (tatyana_tomsickova/Thinkstock)
Mariana Desidério
Publicado em 20 de setembro de 2017 às 15h00.
Última atualização em 20 de setembro de 2017 às 15h00.
Dúvida do leitor: Tenho dezoito anos de idade e pouco capital, mas queria começar um empreendimento. Quais tipos de negócios são mais indicados para meu perfil?
Há três mitos na pergunta que precisam ser refletidos. O primeiro é o da idade. Não há idade ideal para empreender e cada vez mais vemos empreendedores de todas as idades, desde os muito jovens que já empreendem ainda no ensino médio até os mais idosos que criam negócios para realizarem seus sonhos ou para complementar a renda.
O segundo mito é a falta de capital. Esta barreira mental é presente em praticamente todos os que desejam empreender, mas acreditam que só não o fazem por falta de capital inicial. O que existe na verdade é falta de conhecimento das alternativas, de coragem para interagir com eventuais investidores e parceiros e, principalmente, falta de visão de negócio.
Sam Walton, fundador do Walmart costumava dizer que o capital não é escasso, mas a visão sim. Tallis Gomes, co-fundador do Easy Taxi e Singu, também reforça que quem quer faz, quem não quer, inventa desculpa. Ele mesmo criou seu primeiro negócio aos 14 anos.
E o terceiro mito é que haveria negócios ideais para perfis específicos como jovens com pouco capital. Neste contexto, o mais importante é identificar um problema organizado e urgente de muitas pessoas pelo qual o empreender tenha obsessão e criatividade para resolvê-lo de forma muito competitiva.
O problema precisa estar organizado, ou seja, a pessoa que tem esta necessidade precisa ter consciência disso e identificar a solução ao vê-la ou tomar conhecimento dela. O problema precisa ser urgente. Precisa ser resolvido o mais rápido possível. Por fim, muitas pessoas deveriam estar buscando solução para este problema organizado e urgente.
Quando encontrar esta relação problema organizado e urgente + solução muito eficaz + grande mercado consumidor, não importa sua idade ou recurso que possui no momento. Sua vontade em colocar o negócio para funcionar será tão grande que entrará em contato com muitas pessoas que poderão se tornar parceiros e até investidores do negócio.
De certa forma, foi isto que aconteceu com Alexandre Tadeu da Costa quando tinha exatamente 18 anos e pouco capital. Emprestou cerca de 500 dólares de um tio para iniciar a fabricação de ovos de Páscoa em sua casa. Depois da Páscoa, começou a vender trufas de chocolate nas padarias da região e não parou mais. Em algum momento, percebeu que os chocolates que fabricava poderia resolver um problema organizado e urgente que muitas pessoas tinham: Comprar presentes bonitos, mas que não custassem tão caro. Foi aí que começou a também investir em produtos mais diferenciados embalados em caixas mais sofisticadas. Foi assim que nasceu a CacauShow, a maior rede de chocolates do mundo.
Se estiver pensando realmente em empreender, comece a analisar os problemas que as pessoas têm e não nos negócios que poderia montar. Identifique um que realmente tenha paixão e orgulho em resolver, analise se é algo já organizado na cabeça das pessoas, se é urgente e se há milhares ou talvez milhões de pessoas com a mesma dor.
Em seguida, pense em qual deveria ser a melhor solução. Tente tangibilizar a solução em protótipo. Apresente sua ideia de solução para pessoas que tenham este problema e analise suas reações, anote suas opiniões e melhore o seu protótipo. Faça isto diversas vezes gastando pouco.
Alexandre, da CacauShow, não precisou de uma loja. Produziu seus chocolates em casa mesmo e testou com pessoas conhecidas e da sua região. Em algum momento, terá certeza que tem uma grande oportunidade de negócio nas mãos ou saberá que isso não dará certo. Mas se tiver encontrado uma grande oportunidade, o brilho dos seus olhos também trará parceiros e provavelmente pessoas que terão interesse em investir no seu negócio.
Você encontrará muitas barreiras na sua carreira empreendedora, mas nenhuma delas deveria ser preconceito com relação à idade ou falta de recursos.
Marcelo Nakagawa é professor de inovação e empreendedorismo do Insper.
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