Startups se unem para ajudar bares e restaurantes a sobreviver
Empresas de tecnologia desenvolvem soluções financeiras para dar suporte a empresários durante a crise do coronavírus
Murilo Bomfim
Publicado em 8 de abril de 2020 às 09h07.
Última atualização em 10 de junho de 2020 às 17h45.
Um dos setores mais claramente afetados pela crise do coronavírus é o de bares e restaurantes. Com a quarentena, é impossível receber os clientes — e as saídas vão de investir na estrutura de delivery à venda de vouchers, passando até mesmo por vaquinhas.
Sem qualquer previsão de quando a crise irá passar, a saúde financeira dos estabelecimentos se deteriora com o tempo. Em um novo esforço para conter os efeitos da pandemia, um grupo de startups se uniu para oferecer soluções financeiras aos bares e restaurantes.
“Pouquíssimos empreendimentos de alimentos possuem caixa suficiente para aguentar muito tempo com a operação baixa”, diz João Mendes de Oliveira, diretor da Suflex, startup que otimiza a gestão de restaurantes.
De olho na sobrevivência dos negócios no setor, a empresa notou um movimento significativo de estabelecimentos tentando recorrer a soluções de crédito de bancos tradicionais, mas se deparando com condições muito agressivas. “Queríamos que os restaurantes tivessem acesso a um crédito que fizesse sentido para esse momento”, diz Oliveira. “Buscamos parcerias com fintechs que têm produtos nessa linha, e fizemos a conexão com os empreendimentos interessados.”
Até o momento, cinco fintechs aderiram ao movimento: Nexoos, BizCapital, Pontte e Iouu, que trabalham com crédito, e a Weel, que oferece serviços de antecipação de recebíveis. Segundo Oliveira, nem todas as startups mudaram seus produtos especialmente pela parceria, mas a maioria tornou as soluções mais acessíveis em função da crise do coronavírus.
Uma delas é a Pontte, startup que faz empréstimos flexíveis, com garantia de imóvel. “Nascemos focados em uma dor específica dos clientes, que é a imprevisibilidade em relação ao futuro do negócio”, diz Caroline Schulz, diretora de operações da fintech. “Nosso serviço já considera a lógica da inadimplência, então não sentimos grandes impactos nesses casos.”
O modelo de negócios da empresa prevê dificuldades dos clientes em pagar pelo empréstimo e oferece ações de flexibilidade como maior tempo de carência e adiamento de parcelas. Para dar suporte a empreendedores na crise, a política de crédito da Pontte foi remodelada: taxas foram reduzidas e o prazo para quitar o empréstimo foi aumentado.
Caroline conta que, apesar de a preocupação ser generalizada, o setor tem tido espaço para otimismo. “O movimento agora é o de segurar a onda. Tenho visto poucas pessoas dizendo que não há luz no fim do túnel, querendo fechar o negócio”, diz. “A maioria dos estabelecimentos procuram entender como manter os funcionários, ampliar o delivery e investir em canais digitais.”
Para ela, os meses posteriores à quarentena serão vagarosos, mas o ritmo não deve demorar a se restabelecer. “As pessoas vão voltar com vontade de consumir, principalmente o que for relacionado a entretenimento fora de casa.”
Oliveira, da Suflex, não é tão otimista. Segundo ele, a única certeza que se tem hoje é a de que o retorno à normalidade não será imediato. “Quem acha que, assim que a quarentena acabar, vai faturar como faturava antes está iludido.”, diz. “As pessoas estarão com menor poder aquisitivo e ainda receosas de sair de casa. Teremos de nos adaptar.”