Mônica Hauck e Alessandro Garcia, da Solides: startup mineira atende três mil pequenas e médias empresas (Solides/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 20 de agosto de 2019 às 06h00.
Última atualização em 20 de agosto de 2019 às 06h00.
Entender as habilidades dos próprios funcionários é essencial para qualquer empresa se desenvolver -- e falhar em compreender aspectos comportamentais e técnicos pode resultar na saída dos melhores talentos. É nisso que aposta a startup mineira Solides, que obteve recentemente mais recursos para expandir sua plataforma.
A startup de recursos humanos, ou HR Tech, anunciou com exclusividade a EXAME uma captação de 14 milhões de reais (3,5 milhões de dólares) para expandir a ideia. O aporte foi liderado pelo fundo DGF Investimentos, que também investiu no site Reclame Aqui, no aplicativo Ingresse e na plataforma de automação de marketing e vendas Resultados Digitais.
A startup mineira atende três mil pequenas e médias empresas. Com os novos recursos, investirá em produto, em marketing e em vendas. O objetivo é alcançar dez mil negócios na carteira e 300 funcionários na equipe até o meio de 2021.
Alessandro Garcia e Mônica Hauck já haviam empreendido antes, mas em um ramo bem diferente. Na virada de 2009 para 2010, o estatístico e a historiadora venderam um software para empresas de agronegócio e decidiram transformar a paixão pessoal de estudar o comportamento humano dos funcionários nos negócios (um conceito conhecido como people analytics).
“Atendíamos empresas e víamos suas dores no departamento de RH. Sabíamos que entender as atitudes dos membros era fundamental para solucionar esses problemas com a gestão de pessoas”, diz Hauck.
Os empreendedores desenvolviam há anos um algoritmo para analisar atitudes e desempenho de cada funcionário. As primeiras vendas da solução incentivaram a decisão de trocar o agronegócio pela gestão de pessoas. Em 2010, nasceu a startup mineira de mapeamento do comportamento de funcionários Solides.
Crescendo de 20 a 30% por ano, a Solides decidiu seis anos depois mudar seu modelo de negócios para entregar não apenas relatórios sobre atitudes e desempenho dos funcionários, mas fornecer uma plataforma completa de atração, recrutamento e desenvolvimento de pessoas -- incluindo mapear seu comportamento em perfis como analista, comunicador, executor e planejador.
“Para a pequena empresa, facilita ter apenas uma plataforma de recursos humanos que faz tudo. Entregamos uma tecnologia que antes só era acessada pelas grandes e necessitava de integrações entre diversos sistemas”, explica Hauck.
Segundo o estudo Liga Insights HR Techs, o Brasil possui 122 startups que atuam na área de recursos humanos. A Solides mira o descontentamento de quem contrata e administra pessoas: apenas 14% dos empregadores estão satisfeitos com suas tecnologias para analisar recursos humanos, de acordo com a consultoria PwC. Segundo levantamento da Grand View Research, o mercado global de gestão de recursos humanos irá chegar a 30 bilhões de dólares em 2025, um crescimento anual de 11% entre 2019 e 2025.
O algoritmo dotado de inteligência artificial desenvolvido pela startup mineira aprende o perfil de pessoas que têm melhor desempenho dentro das empresas e quais competências geram bons resultados e permanência na empresa.
A Solides afirma reduzir a evasão para menos da metade do que é visto no mercado. A taxa de rotatividade dos funcionários vai de 41%, média estimada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), para 19,2% com o uso da plataforma.
Os padrões de desenvolvimento também ajudam a área de recursos humanos na hora de organizar processos seletivos. A Solides faz a análise de candidatos e funcionários em sete minutos e gera 50 pontos de estudo, contra testes de análise comportamental que podem levar 50 minutos e gerar diversos desistentes.
De acordo com cálculos da Solides, uma empresa com 50 colaboradores gasta em média 408 mil reais por ano em contratações erradas. O dinheiro perdido inclui horas gastas em processo seletivo, treinamento, queda de produtividade no posto de trabalho, perda de negócios e rescisões trabalhistas. “Para um pequeno negócio, pode ser a diferença entre fechar o ano no azul ou no vermelho”, diz Hauck.
Segundo os empreendedores, o diferencial da Solides está em ir da atração até a retenção dos talentos e oferecer serviços como avaliação de desempenho e treinamentos e fornecimento de relatórios sobre o ambiente de trabalho.
“Os aspectos comportamentais são nossa maior correlação com a performance. Os dados do dia a dia são aproveitados pela área de recursos humanos”, afirma Hauck. Outras startups, como Gupy e Xerpa, se especializam na admissão e em empresas de maior porte.
A Solides cobra um valor mensal das empresas, que varia de acordo com o número de funcionários. Para um negócio com 50 membros, por exemplo, a mensalidade é de 600 reais. A startup mineira atende três mil clientes de pequeno e médio porte.
Este é o primeiro investimento externo na Solides, que até o momento se sustentou apenas com o capital inicial dos próprios empreendedores e receitas próprias -- conceito conhecido como bootstrapping.
Os novos 14 milhões de reais serão usados para refinar a inteligência artificial da startup mineira e impulsionar esforços de marketing e vendas. “Hoje, descrevemos o que aconteceu em cada empresa. Caminharemos para a prescrição automatizada e com foco em eficiência, orientando as melhores decisões para a área de recursos humanos”, diz Hauck.
Os planos de crescimento se tornaram mais agressivos desde a mudança no modelo de negócio. A Solides triplicou de tamanho em 2016 e em 2017 na comparação com os anos anteriores. No ano passado, dobrou.
Para 2019, a startup mineira espera mais uma vez duplicar de tamanho e alcançar 4,5 mil empresas atendidas. A Solides tem 150 funcionários e espera dobrar a equipe até o meio de 2021. Na mesma época, projeta atender 10 mil negócios. Insatisfação como combustível para esse crescimento, seja dos chefes ou dos funcionários, não falta.