Aplicativo da Celcoin: startup tem 15 mil agentes e um volume de 120 milhões de reais transacionados todos os meses (Celcoin/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 21 de maio de 2019 às 06h00.
Última atualização em 21 de maio de 2019 às 09h02.
Os maiores bancos do Brasil colecionam as melhores rentabilidades em anos -- mas isso não significa que eles estejam atendendo todo o público que podem. Fintechs especializadas, como a Celcoin, crescem em um país onde ainda existem cerca de 60 milhões de brasileiros desbancarizados.
A startup se propõe a conectar autônomos e comerciantes dispostos a aumentarem sua renda com usuários sem acesso a serviços digitais. Com 15 mil agentes e um volume de 120 milhões de reais transacionados todos os meses, a Celcoin acabou de conquistar um aporte de seis milhões de reais do fundo Vox Capital para expandir essa rede de revendedores e se firmar como instituição de pagamentos.
A Celcoin foi criada por Marcelo França, que fez carreira no segmento de tecnologia financeira e trabalhou em bancos, principalmente desenvolvendo redes de correspondentes bancários com atuação forte em interiores e periferias. “Percebi a penetração crescente de smartphones e a ideia era que cada usuário pagasse suas contas e fizesse recargas de celular”, afirma o empreendedor.
Em março de 2016, a experiência se transformou na Celcoin. Seis meses depois, o negócio pivotou do atendimento autossuficiente para um modelo de agentes. Revendedores porta a porta, motoristas de aplicativo e pessoas com pequenas comércios usam seus smartphones como terminais de serviços como pagar contas, recarregar celulares e vender créditos para a plataforma de streaming Netflix ou para a loja de aplicativos Google Play. O comprovante da transação é enviado por SMS ou WhatsApp.
Ainda que contas e recargas sejam o forte da Celcoin, o conteúdo digital também cresce. “Atendemos consumidores que não têm cartões e, até agora, não podiam acessar uma assinatura da Netflix, por exemplo”, diz França.
A Celcoin possui 15 mil agentes, que fazem 1,3 milhão de transações e movimentam 120 milhões de reais por mês. A startup está em 1.800 municípios brasileiros. Os estados com maior penetração são Bahia, Ceará, Maranhão e Pará -- em alguns deles, o número de agentes ultrapassa o de agências lotéricas. Metade do faturamento, não divulgado, vem das regiões Nordeste e Norte.
“De um lado, a população local desbancarizada ou sub-bancarizada resolve sua dificuldade em acessar esses serviços. Por outro, quem é comerciantes atrai de 130 a 150 mais pessoas mensalmente ao seu ponto comercial e aumenta sua renda em 15%, pelo consumo em outros produtos”, explica França.
Não há custo ao agente nem ao consumidor final. A Celcoin recebe uma remuneração do distribuidor de cada serviços e repassa uma parte aos seus revendedores. A startup já distribuiu 8 milhões de reais em comissões aos seus agentes.
A Celcoin passou uma aceleração na empresa de pagamentos Visa e uma imersão no vale do Silício (Estados Unidos) em 2018, o que “ampliou a rede de contatos” da startup, diz França.
Neste mês, a Celcoin obteve um aporte de seis milhões de reais do Vox Capital, fundo de investimentos focado em negócios de impacto social. O investimento será usado para expandir a captação de agentes e para suportar os custos de se tornar uma instituição de pagamentos -- o pedido já foi entregue ao Banco Central.
A Celcoin espera chegar ao final deste ano com 30 mil agentes e dois bilhões de reais transacionados. Apostar em um nichos distantes do interesse dos grandes bancos está se provando uma estratégia de expansão bem-sucedida.