Antonio Maganhotte: “precisamos ainda mostrar para o nosso potencial cliente que ele precisa de gestão profissional para ter sucesso no negócio” (Ebanx/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 9 de janeiro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 9 de janeiro de 2020 às 14h48.
O mercado brasileiro de saúde e atividade física é um fenômeno. Em 2018, segundo relatório da IHRSA, associação internacional de fomento ao universo de saúde e exercícios, o país movimentou 2,1 bilhões de dólares no segmento nas mais de 34.000 academias existentes. O Brasil só perde para os Estados Unidos em número de clientes no setor, são 9,6 milhões de brasileiros pagam para se exercitar.
De olho nesse mercado, a startup Tecnofit encontrou um mercado ao atender os pequenos negócios. A empresa, fundada em Curitiba em 2016, oferece softwares de gestão para negócios como academias, estúdios de dança e escolas de natação. Por meio de uma assinatura mensal, a empresa que contrata os serviços da Tecnofit tem acesso a um aplicativo voltado para gestão financeira e de agenda, e outro voltado para os alunos, com acompanhamento das avaliações físicas e das fichas de exercícios.
A assinatura é gratuita para personal trainers e pode chegar a 900 reais por mês para uma empresa que tenha mais de 700 alunos ativos. Hoje, a startup tem 3.000 clientes em sua base e 114 funcionários. Em 2019, faturou mais de 7 milhões de reais, em crescimento de 200% em relação ao ano anterior. Para 2020, a expectativa é ter no mínimo 20 milhões de reais de faturamento e terminar o ano com 8.000 clientes.
A ideia da empresa foi idealizada por Anderson Cichon, atual diretor de tecnologia da startup. Em 2006, o programador foi abordado pelo gerente da academia que frequentava em Curitiba para que desenvolvesse um programa para monitorar o progresso dos alunos.
A partir desse primeiro protótipo, Cichon ampliou seu software para ser uma solução completa de gestão de academias. Ele desenvolveu também alguns produtos, como catracas com controle de acesso por biometria e um terminal de autoatendimento que permitia que os alunos imprimissem seus planos de atividades para o dia.
Até 2013, o empreendedor conseguiu uma carteira de 30 clientes na região de Curitiba. A venda dos produtos de hardware dificultava expansão rápida do negócio. Foi naquele ano que Cichon conheceu Antonio Maganhotte Junior, sócio da plataforma de pagamentos digitais Ebanx, que na época estava na Agência Polvo, de desenvolvimento de software.
Os sócios da Agência acreditaram no produto desenvolvido por Cichon, mas pensavam que era necessário reconstruir o modelo de negócio da empresa. Juntos, decidiram que o melhor seria focar em uma solução online para que a startup pudesse conquistar mais clientes em menos tempo.
Em 2016, o novo software ficou pronto, com serviços de gestão financeira, controle de acesso e avaliação física. Ao reintroduzir o produto no mercado, os sócios perceberam que teriam potencial maior se atendessem outras empresas fitness além das academias.
Ao longo de um ano, trabalharam para entender às outras modalidades de atividade física. Incluíram ferramentas de gestão de turmas e horários, por exemplo, necessárias para escolas de dança ou de natação.
A empresa, atualmente presidida por Maganhotte, terminou 2016 com 10 funcionários e 45 clientes. Logo no começo de 2017, recebeu 500 mil reais em um aporte liderado pelo fundo Hi.Capital, criado pelos fundadores do Ebanx. Com o capital, a Tecnofit estruturou seu time de vendas. No final daquele ano, a empresa passou a ter 40 funcionários e 390 clientes.
Em 2018, o Hi.Capital realizou outro aporte de 2,4 milhões de reais na companhia. Com o dinheiro, os sócios continuaram a investir na aquisição de novos clientes. A estratégia deu resultados. No final do ano passado, a empresa terminou o ano com cerca de 3.000 clientes.
No segmento de academias existem grandes redes consolidadas, como a Smart Fit, avaliada em 9 bilhões de reais, e com mais de 700 unidades no Brasil. De acordo com a Tecnofit, esse tipo de negócio é a exceção, a maior parte dos mais de 34.000 estabelecimentos fitness do país são locais e geridos por pequenos empresários. São eles que a startup quer ganhar.
Para Maganhotte, a principal dificuldade na aquisição de novos clientes é a falta de educação financeira. “Precisamos ainda mostrar para o nosso potencial cliente que ele precisa de gestão profissional para ter sucesso no negócio”, diz.
Dados internos da startup indicam que o faturamento das empresas clientes aumenta 21% no primeiro ano de uso do sistema. A média de alunos ativos também sobe 42%, segundo Cichon. "Isso só reforça que a boa administração e gestão financeira de um negócio são partes essenciais para contribuir com seu crescimento”, afirma o fundador.
No mercado, empresas como a Pacto Soluções e a Evo - W12 oferecem serviços similares ao da startup de Curitiba. Maganhotte acredita que a Tecnofit se diferencia da concorrência pela arquitetura do software — que foi projetado para suportar um crescimento rápido de número de usuários —, pelo cuidado que a empresa tem com o usuário final e pelo sistema de gestão financeira, que se beneficia da proximidade com o Ebanx.
“Nossa experiência coloca nossa solução muito na frente. Temos eficiência na cobrança de alunos e aprovação e gerenciamentos de pagamentos, o que é essencial para as academias que trabalham com o modelo de recorrência de assinaturas”, afirma o presidente.
Em parceria com a startup unicórnio (avaliada em mais de 1 bilhão de dólares), a empresa criou a solução Tecnofit 360, em que o cliente contrata uma solução financeira completa.
Além da gestão dos dados, a empresa cliente consegue cobrar os alunos online ou com maquininha física. Os valores são enviados para uma conta virtual gratuita, e a empresa recebe um cartão para poder fazer pagamentos. Dentro da própria plataforma o gestor consegue pagar o salário dos funcionários.
“Com essa solução, o cliente economiza nos custos de manutenção de maquininha, nos gastos com transferências bancárias e no custo da gestão operacional do negócio”, diz Maganhotte.
Com o novo serviço, a empresa espera continuar sua expansão pelo Brasil e para fora. Segundo o presidente, a startup quer ter como cliente 20% do mercado fitness brasileiro até o final de 2020. Depois, o foco é levar os serviços para clientes fora do país.
Se a empresa conseguir convencer os pequenos negócios a adotar ferramentas de gestão, o potencial para internacionalização é enorme. Globalmente, segundo relatório da IHRSA, o segmento fitness faturou aproximadamente 94 bilhões de reais em 2018.