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Sity, o "Uber brasileiro", expande para 10 novas cidades mesmo na crise

App visa chegar a 2 milhões de usuários e já opera com fluxo de caixa positivo. Desafio será competir na guerra de descontos do setor diante do coronavírus

Fernando Ângelo, fundador e presidente da Sity: objetivo é ganhar motoristas em meio à crise (Sity/Divulgação)
CR

Carolina Riveira

Publicado em 2 de junho de 2020 às 16h48.

Última atualização em 3 de junho de 2020 às 10h28.

Os meses não têm sido fáceis para as empresas de transporte compartilhado. Com o isolamento social que reduziu a circulação de pessoas no Brasil e no mundo, empresas como Uber , 99 e Cabify tiveram redução na demanda e vêm apostando em outras frentes -- como entregas de produtos.

Mas na contramão das grandes rivais, uma startup brasileira do setor espera usar a pandemia para crescer. A paulista Sity, nascida em 2017, está expandindo a operação para dez novas cidades, conforme revelado à EXAME. Até então, a empresa operava somente em São Paulo (SP) e no Rio de Janeiro (RJ).

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A empresa passou a operar nas últimas semanas em Porto Alegre e Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, Florianópolis, em Santa Catarina, Cascavel e Curitiba, no Paraná, Vitória, no Espírito Santo, Belo Horizonte, em Minas Gerais, Salvador, na Bahia, Goiânia, em Goiás, e Brasília, no Distrito Federal.

O fundador da Sity, Fernando Ângelo, afirma que a startup está conseguindo crescer mesmo com o coronavírus . A meta é ir das atuais 12 para 29 cidades até o fim do ano.

Uma das apostas é atrair cada vez mais motoristas para, no pós-pandemia, ter uma base consolidada capaz de atender mais clientes. Uma base pequena de motoristas -- que pode fazer as corridas demorarem a ser respondidas -- é um dos fatores que expulsa usuários dos apps, diz Ângelo.

"Queremos ter uma posição agressiva, realmente. Para que possamos, ao final da pandemia, ter uma boa frota para atender à demanda. É um momento de crise mas também de consolidação e crescimento da base de motoristas e usuários", diz o fundador.

A Sity tem um foco grande nos motoristas desde o nascimento e parte do modelo de cobrar deles taxas menores pela corrida. A empresa cobra uma fatia de 10% por corrida, ante valores que podem passar dos 20% ou 30% em outros aplicativos. A startup brasileira também vem oferecendo um bônus de 100 reais aos motoristas que indicarem colegas para dirigir pelo app -- recebido somente quando o indicado completa 100 corridas realizadas.

"Para nós houve um boom no número de motoristas [com a pandemia]", diz o fundador. Segundo a Sity, há milhares de motoristas na lista de espera para ingressar no app. "Somos muito bem vistos entre os motoristas e isso é um grande ativo para quando a pandemia acabar. Muitos estão nos procurando porque, com a queda no número de passageiros, o valor que eles ganham também caiu, mas nós pagamos mais", diz Ângelo.

Mesmo antes da expansão para as novas cidades, a empresa havia atingido a marca de 100.000 passageiros ativos e mais de 20.000 motoristas em São Paulo, seu maior mercado. A expectativa é chegar ao fim do ano com 80.000 motoristas e mais de 2 milhões de passageiros.

Aplicativo de transporte Sity: expansão em meio à pandemia (Sity/Divulgação)

Davi e Golias

Na outra ponta, brigar com as grandes empresas internacionais é uma tarefa ingrata, sobretudo em meio à crise, que freou parte dos investimentos no setor de mobilidade. O segmento de transporte por aplicativo ainda é altamente focado em descontos e cupons, e uma empresa menor, como a Sity, pode ter dificuldade em atrair clientes neste cenário, mesmo com uma base sólida de motoristas.

No meio dessas dificuldades, a pandemia vem trazendo desafios adicionais ao setor. A Uber, líder do mercado e a única de capital aberto entre as três maiores do segmento, anunciou a demissão de 25% de sua força de trabalho e disse que fecharia dezenas de escritórios pelo mundo. Mesmo a operação do Uber Eats, de entregas e que vem se saindo melhor em meio à crise, foi encerrada em sete países, incluindo no Uruguai.

A Sity se mantém até agora sem aportes de investidores, com investimento somente dos sócios e com o próprio fluxo de caixa. Ângelo afirma que tem negociações com investidores mas que a rentabilidade é o foco da companhia, o que, para ele, é possível atingir com uma operação "enxuta". A empresa não revela o faturamento. "Nosso fluxo de caixa já é positivo. Queremos nos tornar uma empresa modelo e referência para os fundos", diz.

Apesar da expansão, a Sity também refez planos para 2020, reduzindo a projeção de crescimento e adiando campanhas de marketing que tinha previstas para as novas cidades em que estreou. A startup tem hoje 60 funcionários, a maioria em sua sede, na avenida Faria Lima, e está contratando. A projeção é chegar ao fim do ano com entre 120 e 180 funcionários.

Hoje aos 31 anos, Ângelo chegou à cidade de São Paulo aos 18, vindo de Ourinhos, no interior do estado. Ele diz sempre ter tido o sonho de ser empreendedor. Desde então, entre empregos de garçom e vendedor na rua, chegou a ser dono de uma transportadora antes de fundar a Sity no início de 2017.

O empresário afirma que, apesar da concorrência alta, criou a Sity após perceber, em conversas com motoristas de aplicativos, uma carência desses profissionais por um melhor atendimento por parte dos apps -- o que espera usar como diferencial para o futuro.

A pandemia não desanimou Ângelo sobre as perspectivas da startup. "Sabemos que é um mercado difícil, com margens apertadas. Queremos ir devagar mas sempre consolidando o que construímos e com responsabilidade financeira. Sabemos que demora um certo tempo", diz.

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