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Crescendo sem tirar o chapéu

Como o empreendedor paulista Paulo Cury Zakia fez sua empresa crescer com um único produto — o aparentemente obsoleto chapéu

Paulo Cury Zakia: "Sempre haverá consumidores para nossos chapéus. O desafio que enfrentamos é descobrir onde eles estão conforme os gostos mudam" (Daniela Toviansky)

Paulo Cury Zakia: "Sempre haverá consumidores para nossos chapéus. O desafio que enfrentamos é descobrir onde eles estão conforme os gostos mudam" (Daniela Toviansky)

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Da Redação

Publicado em 31 de maio de 2012 às 17h59.

São Paulo - Sempre que ouve alguém dizer que certo lugar fica longe, bem longe, lá na casa do chapéu, o empreendedor Paulo Cury Zakia, de 53 anos, abre um sorriso. "Casa do chapéu é a minha casa", diz. É literal — Zakia é um dos sócios da Cury, fábrica de chapéus de Campinas, interior de São Paulo, fundada por seu avô em 1920.

À frente do negócio há 15 anos, ele herdou a difícil missão de manter uma empresa quase centenária em crescimento, produzindo algo aparentemente em desuso.

Zakia tem conseguido — no ano passado, a Cury faturou 30 milhões de reais, 36% mais que em 2009. "Sempre há consumidores para nós", diz. "O desafio é encontrá-los, pois os gostos mudam."

Fundada num tempo em que usar chapéu era parte obrigatória do figurino, a Cury passou por diferentes transformações desde então, mas nunca se afastou de sua origem. Até meados dos anos 50, seus principais produtos eram os modelos sociais masculinos, produzidos com pelo de coelho.

"Nas duas décadas seguintes, o visual hippie entrou na moda e não havia lugar para chapéus feitos de pele", diz Zakia. Nessa época, a Cury passou por um período duro.

A empresa se limitava a fabricar modelos regionais, como o Maragato, típico da indumentária gaúcha. Outra fonte de receitas era a exportação de produtos semiacabados para a indústria de chapéus dos Estados Unidos

Nos anos 80, a pedido de um fabricante americano, a Cury participou do desenvolvimento do modelo Indiana Jones, o arqueólogo vivido por Harrison Ford no cinema. "A empresa contratada pela produtora do filme era nossa cliente e precisava de ajuda para fazer um chapéu exclusivo para o personagem", diz Zakia.

"Sinto o maior orgulho de ter colaborado com a criação de um dos chapéus mais famosos do mundo." (Hoje, Zakia não fabrica o modelo, mas tem a licença para importá-lo.) Graças ao sucesso do filme, a década de 80 não foi perdida — mas Zakia ainda não tinha encontrado o caminho para levar a empresa da família a uma expansão duradoura. "Sobrevivemos com dificuldade naquele período", diz ele. 


A história da Cury foi reescrita a partir dos anos 90, quando Zakia percebeu algo novo em seu mercado. "O agronegócio estava crescendo no Brasil e mais e mais álbuns de música sertaneja apareciam nas lojas de discos", diz. A Cury passou então a lançar chapéus country,  de lã de ovelha, pele de coelho ou palha.

Alguns levam enfeites de ouro e chegam a custar 2.000 reais. "Foi um sucesso", diz ele. "Hoje, a linha country responde pela maior parte de nosso faturamento."

Em junho deste ano, a Cury se associou à americana Dorfman Pacific, uma das maiores produtoras de chapéus do mundo, para criar a Cury Dorfman Pacific. "O potencial do mercado brasileiro é enorme", diz Douglas Highsmith, presidente da Dorfman Pacific.

Com a parceria, veio a exclusividade para representar a marca no Brasil e a ajuda dos americanos para investir em lojas próprias, que deverão ser inauguradas a partir de 2012. "O momento é muito oportuno", diz a consultora Celina Kochen, especializada em varejo de moda. "Estilistas do mundo todo estão incluindo chapéus em suas coleções." 

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