Tela do computador e cartão da Qonto, fintech francesa (Qonto/Alexis Leclercq Photographie/Divulgação)
Karin Salomão
Publicado em 1 de março de 2020 às 08h00.
Última atualização em 1 de março de 2020 às 08h00.
A dificuldade dos usuários com grandes bancos não impulsiona o surgimento de fintechs apenas no Brasil. A Qonto, fintech francesa, surgiu justamente porque os fundadores não tinham uma boa experiência com suas contas bancárias em grandes instituições financeiras.
Fundada em 2016, a fintech está voltada para pequenas e médias empresas e já tem 75 mil empresas entre seus clientes.
Os fundadores, Alexandre Prot e Steve Anavi, já haviam criado outro negócio, a Smok.io, de cigarro eletrônico conectado, e que foi vendida em 2015, e Prot foi CEO da Wimdu, plataforma de reservas de hospedagem.
Uma das dificuldades dos empreendedores, nos negócios anteriores, era a relação com os bancos. Como startups, pequenas e médias empresas são mais complexas - e com menos lucro do que grandes companhias - não costumam ser bem atendidas em bancos tradicionais. Além disso, o pagamento de taxas não é transparente e o atendimento ao cliente deixa a desejar, conta Prot.
“Percebemos que teríamos que criar nós mesmos o banco que adoraríamos ter tido”, diz. Além da França, a Qonto chegou há poucos meses na Alemanha, Itália e Espanha. Para 2020, o plano é fortalecer sua presença internacional.
Para criar uma fintech com a melhor experiência do usuário possível (o que desenvolvedores e empreendedores chamam de UX, ou user experience), os fundadores buscaram inspirações em empresas fora do mercado financeiro.
Para o atendimento, se inspiraram na Zappos, comércio eletrônico de calçados que é um dos modelos mais famosos de bom atendimento a seus clientes. Os funcionários da empresa americana são incentivados a resolver problemas que vão muito além das vendas de sapatos, como achar uma pizzaria aberta de madrugada, e a se conectar com o consumidor.
Em relação à precificação, a Qonto buscou inspiração na Netflix. Há três tipos de contas: de 29 a 299 euros, cada uma com mais serviços incluídos. “O preço não é barato ou gratuito, porque acreditamos que bons serviços têm um custo, mas é justo e transparente. O cliente não tem cobranças inesperadas”, diz Prot.
O aplicativo de emails do Google, Gmail, foi a inspiração para uma ferramenta que permite buscar e filtrar as despesas.
A empresa ainda não é lucrativa, pois está dedicada a investir em sua expansão internacional, diz o fundador. “Nossa ambição não é ser legal na França, mas ser uma empresa líder em toda a Europa.”
De acordo com ele, o modelo do negócio é sustentável e a empresa não perde dinheiro para conquistar novos clientes. Esta é uma preocupação cada vez maior entre empreendedores e investidores, depois do fracasso do IPO da Wework, perda de valor do Uber desde seu IPO e da dificuldade da startup Blue Apron, que de 2 bilhões de dólares foi para valor de mercado abaixo de 100 milhões de dólares porque gastava muito para conquistar novos clientes, que não passavam tempo o suficiente como assinantes do serviço para fazer o marketing valer a pena.
Com um serviço mais simples - e uma precificação transparente - a Qonto quer convencer clientes e investidores que o mercado financeiro pode ser mais inovador.