O que você pode aprender com o maior erro do fundador do Buscapé
Em evento sobre o setor de fintechs, o fundador do Buscapé e atual Redpoint eventures contou qual foi seu maior erro de gestão no comparador de preços
Mariana Fonseca
Publicado em 16 de agosto de 2017 às 11h15.
Última atualização em 16 de agosto de 2017 às 11h38.
São Paulo - Romero Rodrigues foi protagonista de uma movimentação rara no mundo das startups brasileiras. No ano de 2009, ele vendeu sua empresa por 342 milhões de dólares ao grupo sul-africano Naspers. O comparador de preços Buscapé tornou-se um exemplo para empreendedores que queriam fazer o exit de suas ideias de negócio.
De lá para cá, Rodrigues mudou de lado do balcão: deixou a operação do Buscapé e se tornou sócio do fundo de investimento Redpoint eventures. Agora, é responsável por achar startups promissoras para investir e aconselhar.
A maior experiência vem da prática. Segundo o próprio empreendedor (e agora investidor), ele cometeu um grande erro quando estava à frente do Buscapé: deixar a cultura e o propósito da empresa de lado, diante de uma grande fusão.
Em conversa com a repórter Naiara Bertão, de EXAME, Rodrigues falou um pouco mais sobre sua trajetória no Buscapé e na Redpoint - e sobre qual foi essa grande falha. A entrevista ocorreu no Fintouch, conferência que aborda o futuro das fintechs.
Vida de empreendedor
Quem vê o sucesso do Buscapé não imagina que ele começou como a grande maioria das pequenas e médias empresas: amigos que se juntam com a vontade de empreender. Eles já haviam tentado abrir outros negócios antes do comparador de preços, mas eles não deram certo.
"A verdade, que muita gente não sabe, é que a gente não tinha ideia de que iria existir venture capital [capital de risco]", contou Rodrigues. "Éramos três engenheiros - depois entrou o quarto - montando a nossa lojinha, a nossa padoca. E padoca de engenheiro, claro, tem a ver com informática."
Os fundadores olhavam para negócios como Amazon, eBay e Netscape, e percebiam que havia oportunidade na internet. O ano de fundação do Buscapé foi 1999: era um tempo em que as primeiras dezenas de funcionários mal sabiam o que era ter um e-mail.
"Demorou praticamente um ano para entrar no ar. Então sabíamos que, se alguém tivesse visto o Buscapé quando a gente lançou, em junho de 1999, ele levaria pelo menos de dez a doze meses para copiar. Hoje, leva semanas."
Olhando por esse viés, empreender hoje parece ser muito mais fácil. Mas, para Rodrigues, cada época possui suas facilidades e dificuldades na hora de empreender.
"Ficou mais fácil montar um negócio virtual, e empreender na internet ficou mais acessível. Antes, por exemplo, era necessário que a grande maioria dos fundadores tivessem um background em tecnologia", diz o empreendedor.
"O desafio ficou no go to market, na entrada no mercado. Todo mundo consegue desenvolver a tecnologia rápido, e quem for melhor e mais rápido para atacar o mercado ganha."
Cultura e propósito
Segundo Rodrigues, o Buscapé teve de resolver um problema muito grande logo após a fusão com a empresa Bondfaro, em 2008: havia tantas mudanças que a equipe da empresa estava desnorteada, sem saber qual era o grande objetivo do novo empreendimento e como deveria se comportar no dia a dia.
Esse foi, na opinião de Rodrigues, um de seus grandes erros na gestão do Buscapé. "Teve um erro crasso, que foi de cultura e propósito. A gente descuidou das pessoas e o Buscapé estava fragmentando. A empresa estava um caos. Continuamos crescendo, mas perdemos crescimento."
A grande lição? Mantenha seus funcionários sempre alinhados com a cultura e o propósito da sua empresa - ou seus resultados sofrerão. Mais ainda: arrumar esse erro dará ainda mais trabalho do que ficar de olho na equipe.
No caso do Buscapé, a reavaliação dos valores da empresa incluiu a decisão de mudar o negócio para outro escritório. O resto da história do comparador de preços já é conhecido. "Quando você tem que resolver um grande problema, acaba investindo muito tempo e dinheiro. Hoje, é a coisa com que eu mais me preocupo na hora de fazer um investimento."