O que você pode aprender com a Pixar para inovar no negócio
Ainda fico surpreso quando encontro conexões inesperadas em indústrias diferentes…
Da Redação
Publicado em 8 de dezembro de 2015 às 10h09.
Em um workshop recente de inovação com uma empresa grande, mencionei que empreendedores e intraempreendedores operam muito como artistas – no primeiro dia, eles vêem algo que ninguém mais vê. Um dos inovadores do grupo disse “parece que você está descrevendo exatamente o que Ed Catmull, o CEO da Pixar , escreveu em ‘Creativity Inc’“.
O quê?! Eu não me perdoei por não ter pensado na Pixar.
Tenho certeza que Ed Catmull não se lembra, mas quando a Pixar ainda era uma startup, o VP de Marketing e Vendas me levou lá para ajudar na estratégia de marketing deles. Eu devia ter percebido que podia aprender um monte sobre criatividade corporativa olhando para a Pixar.
Então eu comprei o livro. Sempre pensei que quando usava a analogia de “empreendedores como artistas”, os “artistas” que eu estava descrevendo eram pintores, escritores, escultores e compositores.
Refleti sobre quais lições a Pixar, um estúdio de animação, teria para empreendedores. Quais eram os paralelos? Fundadores de startups trabalham no caos e na incerteza. Fundadores saem do escritório para falar com clientes. Nós criamos um MVP (produto mínimo viável) para restar hipóteses e nossa visão, e construímos uma cultura inovadora. Nunca me ocorreu que diretores de filmes de animação 3D na Pixar poderiam ser os mesmos “empreendedores como artistas”.
Acontece que eles são. Na verdade, o processo criativo da Pixar tem várias lições para fundadores de startups e inovadores corporativos.
Diretor = Empreendedor de Startup
A Pixar é um estúdio de cineastas. Isso significa que toda a empresa é gerida por diretores – os artistas – não por executivos de gestão com MBAs ou modelos financeiros ou departamentos de desenvolvimento.
Um diretor da Pixar é o equivalente ao fundador da startup. Na Pixar, a visão do diretor para um filme é como a visão para uma empresa. O diretor começa com a visão para uma ótima história que ele que transformar em uma animação. No primeiro dia, tudo que ele tem é sua visão – ele não sabe ainda o caminho exato para transformar aquilo num filme. Exatamente como um empreendedor.
Diretores usam sua habilidade para contar uma história atraente e convencer a gestão que sua ideia inicial é poderosa o suficiente. Para conseguir a aprovação, constroem um time, saem do escritório para pesquisar, iterar e às vezes pivotar a história conforme refinam a visão sobre o filme. Uma vez que a ideia é aprovada, a empresa organiza seus recursos técnicos e de produção, centenas de pessoas por trás daqueles diretores, para transformar a visão em uma realização incrível que atraia milhares de pessoas. Exatamente como uma startup.
Tudo começa com uma visão
Quando a Pixar começa um novo filme, ele ainda não existe. É só uma ideia na cabeça do diretor (ou, no caso de uma startup, do empreendedor).
Como o diretor transforma essa ideia em realidade é exatamente como um empreendedor cria uma startup - uma combinação de visão, campo de distorção da realidade, tenacidade e persuasão.
Assim como fundadores, diretores desenvolvem modelos mentais para como buscam um destino desconhecido – eles “dão uma viajada”. Alguns diretores veem isso como encontrar um caminho para fora de um labirinto, procurar uma luz no fim de um túnel ou descobrir uma montanha enterrada.
Sinal Verde = Investimento de Venture Capital
Na Pixar, se você é um diretor com paixão por um projeto, você faz seu pitch de um MVP simples – nesse caso, um storyboard, que é uma ilustração bruta, um esboço que ajuda a contar uma história página a página. Se você consegue convencer John Lasseter, o “Diretor Executivo de Criatividade”, o filme recebe sinal verde, ou seja, recebe verba para produção. O processo é o mesmo se você faz um pitch para um fundo de VC.
Braintrust = Feedback contínuo
Um dos sistemas da Pixar para manter o filme em um desenvolvimento regular é garantir doses frequentes de feedback aberto e honesto de outros diretores experientes, em reuniões habituais chamadas de “Braintrust”. Um diretor compartilha seu progresso em forma de storyboards, demonstrações, etc (o que na startup chamaríamos de MVP) e as críticas vêm cno estilo “Você considerou X, ou pensou sobre Y?”. Diretores são livres para criarem suas próprias soluções. Mas se os feedbacks são dados e nada muda… aí temos um problema. E se o diretor perde a confiança em seu time de apoio, a gestão da Pixar interfere.
Nas incubadoras Lean LaunchPad e I-Corps, nosso equivalente de Braintrust são reuniões semanais em que times apresentam o que aprenderam falando com clientes e seus MVPs, enquanto instrutores dão feedbacks contínuos.
Gestão da Inovação – Animação e Startups
1. Dailies (as primeiras fotografias de cenas) – São a forma que animadores (e cineastas) mostram e mensuram seu progresso. Todos podem comentar, mas o diretor decide o que alterar, se algo se alterar. Dailies são o equivalente a mostrar as iterações no seu MVP.
2. Pesquisas de campo – A Pixar queria evitar a armadilha de cortar e remontar partes feitas para filmes antigos, então eles estabeleceram as pesquisas de campo – o “sair do escritório” – para garantir autenticidade e evitar clichês. Animadores voaram para o Havaí e praticaram mergulho para fazer “Procurando Nemo”, foram para a Escócia enquanto produziam “Valente” e dirigiram pela rota 66 para fazer “Carros”. Os vídeos da Pixar parecem autênticos porque são reflexos do mundo real.
Startups lean são construídas em torno das mesmas noções das pesquisas de campo da Pixar. Para as startups, não há fatos que estejam dentro do escritório, então os empreendedores têm que dar o fora dali. Eles trabalham duro para entrarem na pele do cliente, para entender suas necessidades e desejos e experienciar sua rotina.
3. Pivot – Diretores podem pivotar, contando que seu time acredite nas razões para a mudança de rumo. Quando você perde a confiança do seu time, eles se mandam. O mesmo acontece com empreendedores. Se o pivot não dá certo ou o Braintrust da Pixar sente que, mesmo depois de vários feedbacks, o filme ainda está indo pela direção errada, eles substituem o diretor – exatamente como seria se um empreendedor perdesse a confiança de seu Conselho Administrativo.
4. O poder dos limites – Apesar dos filmes da Pixar serem incrivelmente detalhados, uma de suas maiores forças é saber quando parar. Em uma startup, saber focar apenas no que é necessário é a arte do fundador.
5. Autópsia – Depois que um filme é finalizado, a Pixar combina uma “autópsia”, uma reunião que resumo o que deu certo, o que deu errado e o que poderiam fazer melhor. Nas aulas da Lean LaunchPad/I-Corps, os professores fazem autópsias semanalmente e uma conclusão ao fim da aula. Mais importante, a apresentação final dos times não são um Demo Day, mas uma apresentação de “Lição Aprendida”, resumindo quais eram suas hipóteses, o que fizeram e o que aprenderam.
Empreendedores = Artistas
Veja uma comparação entre características da Pixar e das startups:
Pixar | Startups | |
---|---|---|
Visionário | Diretor | Empreendedor |
Descoberta | Pesquisas de Campo | Customer Development |
Feedback de fora | Braintrust | Reuniões semanais nas incubadoras |
Progresso | Daillies | MVPs |
Aprendizado contínuo | Autópsias | Aulas e apresentação de "Lição Aprendida" |
Inovação contínua na Pixar
Enquanto os paralelos entre filmes da Pixar e startups são impressionantes, o CEO da Pixar Ed Catmull construiu uma empresa que continua a inovar, com sucesso atrás de sucesso. Enquanto parte disso é baseada em uma série de diretores incríveis, o que faz a Pixar única é que eles entenderam como transformar visões em blockbusters repetidamente. Eles montaram um processo de inovação corporativa contínua.
Os Assassinos da Inovação
Ed Catmull aponta que um dos impedimentos para inovar em empresas grandes é o medo de falhar. Em uma cultura baseada no medo, as pessoas evitam o risco. Eles replicam o que já sabem que deu certo no passado. Sua solução na Pixar foi fazer diretores falarem de seus erros e sua parte de responsabilidade neles.
Tratar do fracasso publicamente com inovadores respeitados cria um ambiente seguro para outros se arriscarem.
O segundo insight de inovação da Pixar é o poder da tentativa e erro – a noção de falhar rápido ( um dos princípios da Lean Startup ). Catmull diz que até as pessoas mais espertas não preveem todos os resultados possíveis de uma ação. Gestores que planejam demais levam mais tempo para descobrir que estão errados. Eles veem mudança como uma ameaça ao modelo de negócios existente – e é. Interesses próprios motivam a oposição a mudanças, mas falta de atenção própria reforça isso ainda mais.
Finalmente, a observação do Catmull de que “a originalidade é frágil” serve tanto para o processo da startup quanto para a produção de filmes. Nos primeiros momentos da Pixar, a originalidade está longe de ser bonita. Esboços de filmes lá são chamadas de “bebês feios”. No entanto, embora possa ser feio, é o oposto daquilo que é estabelecido e enraizado. Nós sempre lembramos empresas grandes que a primeira versão de uma disrupção – o bebê feio – sempre vai parecer um brinquedo.
Lições aprendidas
1. Empreendedores estão mais próximos de artistas que de qualquer outra profissão;
2. Os paralelos entre diretores da Pixar e fundadores de startups são muitos;
3. Mais que a Apple, a Amazon ou qualquer outra empresa, a Pixar tem recorde de inovação contínua;
4. Pixar e as incubadoras Lean Launchpad/I-Corps têm formas parecidas de apoiar inovação replicável e sucesso de mercado.
Texto escrito por Steve Blank e publicado emEndeavor.