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O missionário da prosperidade da Omni

Com marketing de rede e promessa de uma vida melhor, Luiz Francisco Ribeiro Pinto construiu a Omni, um negócio de 45 milhões de reais por ano. Agora, ele lida com os problemas típicos desse sistema

Folheto da Omni: culto à prosperidade (--- [])
DR

Da Redação

Publicado em 23 de julho de 2013 às 14h22.

Nas tardes de domingo, em diferentes cidades do Brasil, milhares de pessoas vestem suas melhores roupas e se arrumam para ir às reuniões promovidas pela Omni International, empresa paulista que vende lojas virtuais. Recentemente, um desses encontros ocorreu num auditório no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.

O local é imenso, com espaço para acomodar até 1 000 pessoas. Vitrais com cenas da vida de Jesus Cristo indicam que o prédio abriga um templo religioso. Mas, durante a reunião, o palco dos pregadores cede espaço a homens e mulheres que fazem parte da comunidade Omni -- gente que comprou e também vendeu os sites da empresa.

Sorridentes e bem vestidos, eles contam suas histórias de sucesso e profetizam uma trajetória de enriquecimento para quem se empenhar. Um dos apresentadores anuncia que já comprou um automóvel Audi. O outro, um Porsche. "Vocês podem ser vencedores", diz um dos palestrantes. "Só precisam de uma oportunidade."

As reuniões têm como principal objetivo convencer o público novato das vantagens em obter uma loja virtual por 3 990 reais e em aderir a um sistema opcional de comissões em cascata. Ao adquirir uma loja, o comprador pode, por mais 100 reais, convidar outras pessoas a também comprarem seus sites.

Nesse caso, ele recebe um percentual por suas indicações diretas e pelas indicações feitas por seus indicados. O sistema de remuneração -- batizado dentro da empresa como "plano de carreira" -- alimenta os testemunhos fervorosos daqueles que alcançaram o topo e dá esperança aos recém-chegados.

Entre os especialistas, esse modelo de negócios é conhecido como marketing de rede e está por trás do crescimento de empresas como as americanas Amway e Herbalife. Nos últimos anos, a Omni vem gerando um faturamento anual de cerca de 45 milhões de reais -- e, como é comum nesse tipo de estratégia, agora tem de lidar com o rastro de insatisfação deixado por aqueles que não conseguiram ganhar dinheiro com o negócio.

A empresa foi criada há sete anos pelo paulista Luiz Francisco Ribeiro Pinto, de 31 anos. "Vendi carro e casa para investir num negócio no qual eu acreditava", diz Ribeiro. "Hoje, já temos quase 40 000 lojistas." O produto oferecido pela Omni é um site com um sistema de comércio eletrônico.


Os compradores do site podem vender, pela internet, suas próprias mercadorias ou os produtos da Omni -- que vão desde aparelhos de MP3 até televisores de plasma.

Nesse caso, o cliente atua como uma espécie de representante. A empresa também obtém receitas com publicidade no seu portal, o Mega Omni -- um shopping online que abriga todas as lojas virtuais -- e com serviços de armazenamento e entrega de produtos dos lojistas. A Omni estimula o contato entre os membros de sua comunidade com treinamentos e encontros. "Com os treinamentos, queremos que os lojistas fiquem mais preparados. Com os encontros, que se conheçam e façam negócios entre eles", diz Ribeiro.

Os vendedores mais talentosos são estimulados a investir recursos próprios no desbravamento de novos mercados. Eles foram estratégicos para a expansão da Omni em dez estados brasileiros e também para a entrada da marca em Miami, Lisboa e Buenos Aires. Jonas Costa, de 29 anos, diretor sênior do grupo, foi responsável pela expansão da empresa para os estados do Rio de Janeiro, Paraná e Espírito Santo.

"O mundo está ficando pequeno para a Omni", diz Costa. Antes de entrar no negócio, há cerca de sete anos, ele trabalhava como vigilante. "Quando conheci o projeto, vendi minha moto para investir tudo nele", diz. "Hoje ganho entre 80 000 e 120 000 reais por mês." Histórias assim são motivo de orgulho para a comunidade Omni.

"Nós formamos vencedores", diz Ribeiro. A Omni é um estilo de vida -- o culto à prosperidade perpassa pela cultura da empresa. Palavras como auto-estima e liderança são repetidas à exaustão. Alguns omnianos publicam, em seus perfis no Orkut, retratos a bordo de limusines e fotos do que pretendem adquirir quando estiverem ricos e dão depoimentos de louvor à empresa. "Seremos a maior comunidade de milionários do mundo", diz uma frase assinada por Ribeiro, inscrita num folheto de divulgação da empresa.

Nem todos têm sucesso na empreitada. Quando não são bem-sucedidas, muitas pessoas sentem-se enganadas. Algumas dizem que aderiram por se sentir pressionadas pelas regras que vigoram no primeiro contato. Logo depois de cerca de 5 horas de palestras sobre os benefícios da Omni, o candidato precisa se decidir se vai assinar o contrato.

Aos que ficam em dúvida, os vendedores costumam advertir que será preciso esperar pelo menos cinco anos por uma próxima oportunidade. Os documentos não podem ser levados para casa, pois, segundo esses vendedores, há poucas cópias. "Se em sete dias houver desistência, nós devolvemos o dinheiro", diz Felipe Mangabeira, diretor de marketing da Omni.


Quem entrou para a Omni e não ganhou dinheiro como esperava dificilmente se conforma. Na internet há várias comunidades de repúdio à empresa -- a maior delas tem 211 membros. "As pessoas que reclamam são as que não fazem nada pelos seus negócios e depois difamam nossa marca", diz Ribeiro. Em vários estados, lojistas que se sentiram lesados foram à Justiça.

"Ações judiciais fazem parte da realidade de toda empresa", diz Ribeiro. Há, ainda, dois inquéritos policiais que investigam a atuação da Omni. "Isso tudo é por causa do preconceito enfrentado pelas empresas de marketing de rede", diz Mangabeira. "Algumas que quebraram eram, na verdade, pirâmides. Mas não é esse o nosso caso.

"Alguns aspectos na divulgação da Omni são intrigantes. Seu material publicitário anuncia que a companhia é parceira de grandes empresas, como iG e MSN, da Microsoft. Procuradas pela reportagem, essas empresas não confirmaram ter parceria com a Omni. "São mídias em que compramos anúncios", diz Mangabeira.

Uma das parcerias é com um órgão intitulado Conselho Federal Parlamentar -- instituição privada com quatro deputados no quadro que, em seu site, oferece "relacionamento empresarial, político e governamental" e "intercâmbio interestadual entre os poderes público e privado" aos membros. "Contribuímos com verba para as ações sociais do Conselho Federal Parlamentar", diz Mangabeira.

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Nas tardes de domingo, em diferentes cidades do Brasil, milhares de pessoas vestem suas melhores roupas e se arrumam para ir às reuniões promovidas pela Omni International, empresa paulista que vende lojas virtuais. Recentemente, um desses encontros ocorreu num auditório no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.

O local é imenso, com espaço para acomodar até 1 000 pessoas. Vitrais com cenas da vida de Jesus Cristo indicam que o prédio abriga um templo religioso. Mas, durante a reunião, o palco dos pregadores cede espaço a homens e mulheres que fazem parte da comunidade Omni -- gente que comprou e também vendeu os sites da empresa.

Sorridentes e bem vestidos, eles contam suas histórias de sucesso e profetizam uma trajetória de enriquecimento para quem se empenhar. Um dos apresentadores anuncia que já comprou um automóvel Audi. O outro, um Porsche. "Vocês podem ser vencedores", diz um dos palestrantes. "Só precisam de uma oportunidade."

As reuniões têm como principal objetivo convencer o público novato das vantagens em obter uma loja virtual por 3 990 reais e em aderir a um sistema opcional de comissões em cascata. Ao adquirir uma loja, o comprador pode, por mais 100 reais, convidar outras pessoas a também comprarem seus sites.

Nesse caso, ele recebe um percentual por suas indicações diretas e pelas indicações feitas por seus indicados. O sistema de remuneração -- batizado dentro da empresa como "plano de carreira" -- alimenta os testemunhos fervorosos daqueles que alcançaram o topo e dá esperança aos recém-chegados.

Entre os especialistas, esse modelo de negócios é conhecido como marketing de rede e está por trás do crescimento de empresas como as americanas Amway e Herbalife. Nos últimos anos, a Omni vem gerando um faturamento anual de cerca de 45 milhões de reais -- e, como é comum nesse tipo de estratégia, agora tem de lidar com o rastro de insatisfação deixado por aqueles que não conseguiram ganhar dinheiro com o negócio.

A empresa foi criada há sete anos pelo paulista Luiz Francisco Ribeiro Pinto, de 31 anos. "Vendi carro e casa para investir num negócio no qual eu acreditava", diz Ribeiro. "Hoje, já temos quase 40 000 lojistas." O produto oferecido pela Omni é um site com um sistema de comércio eletrônico.


Os compradores do site podem vender, pela internet, suas próprias mercadorias ou os produtos da Omni -- que vão desde aparelhos de MP3 até televisores de plasma.

Nesse caso, o cliente atua como uma espécie de representante. A empresa também obtém receitas com publicidade no seu portal, o Mega Omni -- um shopping online que abriga todas as lojas virtuais -- e com serviços de armazenamento e entrega de produtos dos lojistas. A Omni estimula o contato entre os membros de sua comunidade com treinamentos e encontros. "Com os treinamentos, queremos que os lojistas fiquem mais preparados. Com os encontros, que se conheçam e façam negócios entre eles", diz Ribeiro.

Os vendedores mais talentosos são estimulados a investir recursos próprios no desbravamento de novos mercados. Eles foram estratégicos para a expansão da Omni em dez estados brasileiros e também para a entrada da marca em Miami, Lisboa e Buenos Aires. Jonas Costa, de 29 anos, diretor sênior do grupo, foi responsável pela expansão da empresa para os estados do Rio de Janeiro, Paraná e Espírito Santo.

"O mundo está ficando pequeno para a Omni", diz Costa. Antes de entrar no negócio, há cerca de sete anos, ele trabalhava como vigilante. "Quando conheci o projeto, vendi minha moto para investir tudo nele", diz. "Hoje ganho entre 80 000 e 120 000 reais por mês." Histórias assim são motivo de orgulho para a comunidade Omni.

"Nós formamos vencedores", diz Ribeiro. A Omni é um estilo de vida -- o culto à prosperidade perpassa pela cultura da empresa. Palavras como auto-estima e liderança são repetidas à exaustão. Alguns omnianos publicam, em seus perfis no Orkut, retratos a bordo de limusines e fotos do que pretendem adquirir quando estiverem ricos e dão depoimentos de louvor à empresa. "Seremos a maior comunidade de milionários do mundo", diz uma frase assinada por Ribeiro, inscrita num folheto de divulgação da empresa.

Nem todos têm sucesso na empreitada. Quando não são bem-sucedidas, muitas pessoas sentem-se enganadas. Algumas dizem que aderiram por se sentir pressionadas pelas regras que vigoram no primeiro contato. Logo depois de cerca de 5 horas de palestras sobre os benefícios da Omni, o candidato precisa se decidir se vai assinar o contrato.

Aos que ficam em dúvida, os vendedores costumam advertir que será preciso esperar pelo menos cinco anos por uma próxima oportunidade. Os documentos não podem ser levados para casa, pois, segundo esses vendedores, há poucas cópias. "Se em sete dias houver desistência, nós devolvemos o dinheiro", diz Felipe Mangabeira, diretor de marketing da Omni.


Quem entrou para a Omni e não ganhou dinheiro como esperava dificilmente se conforma. Na internet há várias comunidades de repúdio à empresa -- a maior delas tem 211 membros. "As pessoas que reclamam são as que não fazem nada pelos seus negócios e depois difamam nossa marca", diz Ribeiro. Em vários estados, lojistas que se sentiram lesados foram à Justiça.

"Ações judiciais fazem parte da realidade de toda empresa", diz Ribeiro. Há, ainda, dois inquéritos policiais que investigam a atuação da Omni. "Isso tudo é por causa do preconceito enfrentado pelas empresas de marketing de rede", diz Mangabeira. "Algumas que quebraram eram, na verdade, pirâmides. Mas não é esse o nosso caso.

"Alguns aspectos na divulgação da Omni são intrigantes. Seu material publicitário anuncia que a companhia é parceira de grandes empresas, como iG e MSN, da Microsoft. Procuradas pela reportagem, essas empresas não confirmaram ter parceria com a Omni. "São mídias em que compramos anúncios", diz Mangabeira.

Uma das parcerias é com um órgão intitulado Conselho Federal Parlamentar -- instituição privada com quatro deputados no quadro que, em seu site, oferece "relacionamento empresarial, político e governamental" e "intercâmbio interestadual entre os poderes público e privado" aos membros. "Contribuímos com verba para as ações sociais do Conselho Federal Parlamentar", diz Mangabeira.

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