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O homem do plano B

O sergipano Luis Nascimento fez sua administradora de projetos de engenharia crescer graças à sua filosofia de que tudo pode dar errado

Terezinha e Nascimento: crescimento acima do esperado (Jonas Grebler)

Terezinha e Nascimento: crescimento acima do esperado (Jonas Grebler)

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Da Redação

Publicado em 24 de novembro de 2011 às 05h00.

Todo pequeno ou médio empresário que   tenha feito obras de expansão acabou descobrindo que na conjunção de tijolos, cimento e pedreiros o inesperado deveria ser o esperado. A chance de cumprir o cronograma parece mínima: falta material, encanadores desaparecem e chove em dias que se esperava sol.

A N&A, empresa sediada em Salvador que pertence ao empreendedor Luis Nascimento, de 67 anos, e sua mulher, Terezinha, de 63, especializou-se em prever tudo o que pode dar errado numa obra — e traçar planos de contingência para contornar os problemas a tempo de cumprir prazos sem estourar o orçamento. "Como disse um cliente: nosso negócio é fazer com que eles durmam tranquilos", diz Nascimento.

Neste ano, o faturamento da N&A deve chegar aos 20 milhões de reais, crescendo 40% em relação a 2010. Entre seus clientes estão as redes de supermercados Walmart e GBarbosa, as lojas de eletrodomésticos Fast Shop e Insinuante e a cadeia de artigos esportivos Centauro, além de usinas e hotéis.

Eles contratam a N&A para assumir a gestão de grandes obras — desde a concepção inicial do empreendimento até a entrega das chaves. Recentemente, a empresa foi chamada pelos grupos de shoppings Ancar Ivanhoé e BRMalls para fazer a gestão das reformas no Natal Shopping, no Rio Grande do Norte. "A N&A gerenciou o andamento das obras e controlou custos e prazos", diz Paulo Brito, diretor de engenharia da Ancar.


Não é difícil encontrar empresas que se propõem a fazer o que os Nascimento fazem. "O problema é encontrar quem realmente cumpra o prometido", diz Brito. O desafio de pequenas e médias empresas do setor (e de qualquer outra diante de um projeto complexo) é lidar com um grande número de variáveis sobre as quais é impossível ter 100% do controle e que, ainda por cima, dependem umas das outras.

"Um atraso na fase inicial das obras pode comprometer o cronograma todo", diz Nascimento. Atrasos geram mais atrasos e é preciso arcar com despesas extras para resolver tudo no prazo. "No ano passado, metade de nossos projetos foi cumprida na data e dentro dos custos previstos", diz Nascimento. "Houve casos em que o cronograma mudou porque aconteceu algo que não conseguimos prever inicialmente, como licenças ambientais que demoraram a sair ou o cliente que pediu alterações no projeto."

Há vários problemas que podem vir do cliente. Se a liberação de um financiamento demorar mais do que o previsto, por exemplo, pode faltar dinheiro para a continuação das obras. É por isso que, quando o projeto ainda está no papel, a N&A calcula se o capital reservado pelo cliente para a obra é suficiente.

Também é feita uma análise de risco para avaliar as chances de ele não poder cumprir os prazos de pagamento previstos. Além disso, relatórios conferem se o orçamento está em dia ou se a produtividade caiu, e por quê. Em 2006, por exemplo, na construção de um shopping em Salvador, a produtividade foi 40% menor no mês da Copa do Mundo. "Com aquele número na mão, cobrei que a empreiteira corresse atrás do tempo perdido", diz Nascimento. 

Com o aquecimento da construção civil, há boas perspectivas para empresas com o formato da N&A. "A profissionalização do setor exige gerenciamento de qualidade", diz Alessandro Santiago, da consultoria NBS. Criada em 1995, a N&A nasceu da decisão da Promon, multinacional brasileira de engenharia da qual Nascimento era executivo, de transferi-lo de Salvador para São Paulo. "Não queríamos abrir mão da qualidade de vida que temos aqui", diz Terezinha, responsável pelas finanças da N&A.

O marido decidiu, então, sair da Promon. "Montamos a empresa só para não ficar parados", diz ela. "Imaginamos algo como uma pequena consultoria, não um negócio que se tornasse tão complexo." Pois é, nesse aspecto não houve planejamento — mas deu certo assim mesmo.

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