Pequenos negócios: segundo o Sebrae, 60% dos pequenos empreendedores afirmaram não ter conseguido crédito desde o início da crise (Germano Lüders/Exame)
Reuters
Publicado em 15 de abril de 2020 às 09h03.
Última atualização em 15 de abril de 2020 às 09h03.
O Mercado Pago, braço de serviços financeiros do Mercado Livre, criou uma linha de crédito de 600 milhões de reais para pequenos negócios no Brasil, enquanto o maior portal de comércio eletrônico da América Latina tenta aliviar os efeitos brutais do coronavírus sobre microempreendedores.
"Vamos retomar a originação com mais intensidade com o objetivo de apoiar nossos vendedores, na sua maioria micro e pequenos negócios", afirmou Pedro de Paula, chefe de Crédito do Mercado Livre no Brasil. "Queremos ajudá-los a atravessar este difícil momento e contribuir para preservar empregos."
O anúncio acontece no momento em que economistas já preveem que o país pode enfrentar neste ano sua maior recessão em um século, como resultado das medidas de isolamento social adotadas para tentar frear a pandemia.
Apesar das ações dos governos federal e regionais para tentar minimizar os efeitos econômicos dessas medidas, até autoridades têm reconhecido que elas não estão sendo eficazes para sanear financeiramente os pequenos negócios.
Enquanto os grandes bancos têm divulgado iniciativas como concessão de carência para pagamento de dívidas, por exemplo, representantes de microempresários afirmam que as linhas de crédito estão encarecendo e ficando mais curtas. Quando existem.
Na semana passada, o Sebrae divulgou uma pesquisa mostrando que 60% dos pequenos empreendedores do país afirmaram não ter conseguido crédito desde o início da crise.
Para o Mercado Livre, que tem mantido elevados níveis de expansão no Brasil, seu principal mercado, justamente oferecendo serviços financeiros para fidelizar e ampliar negócios com um universo superior a 500 mil empreendedores na América Latina, manter a viabilidade financeira desse ecossistema é vital para a sustentabilidade do próprio grupo.
Segundo o presidente do Mercado Pago, Tulio Oliveira, a linha de crédito que está sendo costurada pelo governo federal com bancos não deve ser suficiente para ajudar os muitos pequenos, já que se dirige a empresas com faturamento anual entre 300 mil e 10 milhões de reais por ano, para pagar salário.
"Há muitas empresas menores que não se enquadram nessa categoria e que têm necessidades diversas", disse Oliveira à Reuters, acrescentando que está participando de discussões com esferas do governo para tentar aprimorar o apoio a microempreendedores.
De acordo com Oliveira, depois da forte retração inicial das vendas por causa da crise, o Mercado Livre vem observando uma retomada nas últimas duas semanas, em particular dos negócios que conseguem vender por meios eletrônicos. "Os demais estão em processo de aprendizado", disse.
Criado há cerca de quatro anos, sob o guarda-chuva do Mercado Pago, o braço Mercado Crédito opera no Brasil, na Argentina e no México, com linhas de capital de giro para microempreendedores que vendem produtos no portal e também para consumidores, que compram em parcelas. O crédito para os vendedores, em média, é pouco acima de 1.000 dólares cada.
Segundo Oliveira, o Mercado Pago e outras plataformas digitais de serviços financeiros também estão pleiteando para que o governo permita que o pagamento do auxílio emergencial de 600 reais mensais a pessoas em condição econômica mais vulnerável também seja feito por esses canais.
O benefício começou a ser pago na semana passada por meio do banco estatal Caixa Econômica Federal.
"Cerca de 70% do público que recebe auxílio já é cliente das plataformas de pagamentos digitais", disse Oliveira.