Loja compartilhada é uma boa alternativa para reduzir custos?
O modelo de espaços colaborativos pode reduzir custos para empreendedores e facilitar a entrada em grandes centros comerciais
Da Redação
Publicado em 11 de setembro de 2021 às 09h00.
Patricia Gonzalez, do Jornal de Negócios do Sebrae-SP
Um negócio com custos reduzidos é o desejo de qualquer empreendedor. Nesse sentido, a economia compartilhada, em que se encaixam as lojas colaborativas, é uma opção para quem tem um pequeno comércio. O modelo permite que o empreendedor alugue um espaço com outras pessoas e consiga diminuir as despesas que normalmente teria para manter um ponto físico. Além disso, possibilita atuar em lugares onde os gastos geralmente são mais altos, como shoppings.
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A analista do Sebrae-SP Joyce dos Santos reforça que a loja colaborativa é uma tendência para os pequenos negócios por causa da facilidade em oferecer condições para que o empreendedor tenha a oportunidade de montar um ponto comercial com pouco investimento. “Uma das maiores vantagens é a redução de custos. Com as lojas, os empreendedores buscam de forma coletiva atingir o mesmo objetivo de atender seus clientes, vender produtos, além de conseguirem desenvolver seu comportamento empreendedor na prática”, avalia.
Marli Ferreira, proprietária do Ateliê dos Mantecais, passou a participar de uma loja colaborativa no Tietê Shopping, na capital paulista, em junho deste ano. Após participar do programa Mulheres Solidárias (leia mais na página ao lado), Marli começou a realizar suas vendas na loja física com outras 13 empreendedoras, dentro do projeto conduzido pelo Sebrae-SP. “Nunca tive uma loja por conta do investimento necessário. Meu tíquete médio era baixo e o investimento é alto. Sempre que perguntavam, eu dizia que não dava para mim, que não era o momento. ”
Marli começou o seu negócio em setembro de 2013. A ideia era trabalhar com biscoitos artesanais que resgatavam a memória da infância. Ela iniciou as suas vendas nos escritórios em que atendia quando era gestora comercial. Fazia os biscoitos, colocava em saquinhos de celofane e saía para vender. Com o passar do tempo, foi incrementando a quantidade de sabores e desenvolvendo produtos de acordo com a necessidade do mercado. “Reparei que havia muitos veganos, por exemplo, e na hora do coffee break não tinha opções para eles. Assim fui desenvolvendo alternativas sem perder o sabor da infância. Foi o ‘boom’ do Ateliê”, relembra.
Mesmo com o aumento das vendas, Marli não considerou ter uma loja física em um primeiro momento. O negócio foi crescendo e os donos das corretoras em que vendia os biscoitos mostraram-se interessados nos produtos para realizar ações comerciais. A partir daí a venda para empresas cresceu ainda mais. “Comecei a participar de rodadas de negócios, grupos de WhatsApp e vender para estabelecimentos comerciais. Depois disso, fui ao Sebrae para buscar orientações”, relembra.
A partir daí um vasto campo de atuação em eventos se abriu. Com as capacitações realizadas no Sebrae-SP, Marli conseguiu também participar de bazares e pôde realizar outros trabalhos importantes, como o início de fixação de sua marca. “Cheguei a participar de um bazar no Jockey Club de São Paulo. Naquele momento eu achei que estava pronta para abrir a minha loja, mas aí veio a pandemia e perdi muitos dos meus clientes”, relembra.
Com a queda no faturamento, ela tentou expandir suas vendas para pessoas físicas e investiu em cestas de café da manhã. Algum tempo depois, Marli ficou sabendo da capacitação do programa e voltou ao Sebrae para se qualificar mais. “Descobri durante o curso que a primeira loja colaborativa seria no Tietê Plaza. Eu fui uma das escolhidas e representou uma oportunidade para eu testar o mercado, conhecer o público presencial como lojista.
O público de shopping é novo para mim. É uma grande oportunidade para que eles possam conhecer a minha marca”, comemora. Marli já admirava outras referências de biscoiteira em shopping, mas nunca imaginou que um dia também pudesse estar lá. “Meu faturamento aumentou 100%. Esse para mim era um sonho distante.”
A empreendedora acredita que lojas colaborativas vieram para ficar. “Muitos empreendedores já entenderam que é uma forma de dividir espaço e custos. Eu mesmo não tenho condições de assumir uma loja sozinha. E conversando com outras empreendedoras, elas falam a mesma coisa. Acredito que esse modelo de negócio é uma ideia para quem quer crescer e não tem investimento, mas tem muita vontade de seguir em frente".
Além da questão financeira, a empreendedora também vê outras vantagens de atuação num espaço compartilhado. “Uma loja colaborativa também gera curiosidade para o público em geral. Os clientes também acham importante e interessante essa forma de negócio. Outro ponto importante é que em uma loja colaborativa não é só o seu produto que está exposto. Então você acaba exibindo seu produto para clientes de outras pessoas também, eles passam pela casa toda. O público aceita e apoia esse tipo de negócio”, afirma.
Após o término de seu período no programa (cada participante fica na loja durante três meses), Marli tem a ideia de seguir com atuação em outras lojas colaborativas. Para ela, apostar no ponto físico em conjunto com as redes sociais é muito importante para o sucesso. “Tenho interesse em participar de outras lojas colaborativas e tenho pesquisado opções. Outras colaboradoras do projeto pensam da mesma forma e estamos pensando num jeito de viabilizar isso para dividir espaço e todas as despesas do local", diz.
Rua ou Shopping
Cleide Gueiros, proprietária da Santa Amazônia, teve uma loja física por cinco anos no bairro de Santana, na capital paulista, mas precisou fechá-la em 2017. A empreendedora tem entre seus produtos sabões 100% naturais, aromatizadores de ambientes, entre outros itens voltados para o bem-estar e boas experiências de seus clientes. Formada em publicidade, ela focou no empreendedorismo para mudar de carreira; o ponto comercial e as estratégias de vendas online foram sua primeira aposta. “Tive problemas pessoais, algumas questões que precisavam ser resolvidas, e decidi fechar a loja. Comecei a trabalhar em eventos, mas confesso que pensei em desistir em muitos momentos.”
Na época em que tinha loja física, ela chegou a ter 24 aromas em seu portfólio. Com o tempo e contato com o público, ela conseguiu observar quais os de maior interesse dos clientes. Com essa experiência, ela partiu rumo ao projeto com a loja colaborativa do Sebrae-SP e atualmente está conseguindo se capitalizar para seguir novos rumos. “A experiência de estar em loja colaborativa é maravilhosa. Eu não tinha experiência de loja de shopping.
É completamente diferente de uma loja de rua. Tinha muitos produtos em estoque quando cheguei lá. Minhas vendas aumentaram muito e meu faturamento cresceu 30%”, comemora. Marli Ferreira, do Ateliê dos Mantecais: faturamento aumentou 100% com a participação na loja colaborativa Cleide considera a experiência de ter uma loja em shopping um sonho realizado, e ela já pensa em voos mais altos.
“Agora que vi como é ter loja em shopping, quero uma para mim. As pessoas podem se ajudar para isso, pois as coisas não são fáceis para o empreendedor. Tem muita burocracia e muitos custos. Estou totalmente convencida desse formato e qualquer loja que eu tiver eu quero dividir. Ninguém faz nada sozinho.”
Para a analista de negócios do Sebrae-SP Joyce dos Santos, o primeiro passo para os empreendedores interessados em participar de lojas colaborativas é planejar suas ações e buscar a capacitação adequada para entender o negócio. “É preciso entender o seu produto e avaliar se ele é aderente ao espaço coletivo. O empreendedor precisa também estar aberto a mudanças e ter forte espírito colaborativo”, explica.
Neste modelo de negócio é preciso estar atento a todas as regras para participação em um projeto coletivo e estar disposto a se desenvolver e crescer em conjunto. Por isso, no Projeto Mulheres Solidárias, além das capacitações as empreendedoras participantes passaram por uma seleção para avaliar todos os pontos envolvidos. “Na loja física, as empreendedoras precisam, além da capacitação, ter CNPJ e o produto tem de ser adequado ao perfil dos clientes do shopping parceiro.”
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