Incubadoras reduzem risco de mortalidade entre startups
A mortalidade das empresas incubadas é de 20%; entenda como está este cenário no país
Da Redação
Publicado em 4 de março de 2011 às 11h42.
São Paulo – O ambiente de uma incubadora, como o nome sugere, é ideal para ajudar um empreendedor a amadurecer sua ideia e ser capaz, depois de um tempo, de caminhar com as próprias pernas. Há 28 anos no Brasil, o movimento de incubação de empresas evoluiu, mas ainda é menor do que em outros países, como Estados Unidos.
Segundo a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores. (Anprotec), o Brasil tem mais de 400 incubadoras distribuídas em 25 estados. Para a vice-presidente da instituição, Francilene Procópio Ferreira, “nos últimos 25 anos, o Brasil tem assimilado cada vez mais que as incubadoras são um viés importante para o desenvolvimento do empreendedorismo inovador”. Já o diretor do Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), Sérgio Risola, acredita que “o momento não é de expansão, o compasso é de manutenção”.
Mais de 6300 empresas participam desse ambiente e geram um faturamento médio anual de 2,5 bilhões de reais e, sem benefícios tributários, as empresas pagam 500 milhões de reais em impostos. As incubadoras mais conhecidas são as de base tecnológica, que exigem algum tipo de inovação envolvendo tecnologia. Há também incubadoras tradicionais, mistas, sociais e culturais.
Quem pode entrar
De acordo com a Anprotec, 10 mil negócios inovadores devem ser graduados até 2020. O Ningo, site que agrega comparação e compra online, é um delas. “A incubadora traz visibilidade e transfere credibilidade para a empresa, porque são projetos que já passaram por um crivo, foram avaliados por analistas em uma pré-seleção”, diz Paulo Rogério Vieira, cofundador do Ningo e que faz parte do Cietec. Além do espaço físico, as incubadoras oferecem cursos para capacitar os empreendedores que têm um projeto inovador.
Estudantes, cientistas e empreendedores que tenham uma ideia e queiram fazer parte de uma incubadora precisam certificar-se de que seu projeto é inovador antes de participar do edital. “Entra quem tem um projeto inovador, já que a incubadora acaba sendo um elo entre a empresa e a instituição de conhecimento para ajudar a desenvolver o produto”, explica Evelin Astolpho, consultora do Sebrae/SP.
Entre os pré-requisitos está a demanda por um plano de negócios. Além disso, existe a necessidade de analisar as condições econômicas para o negócio surgir e crescer. “O ponto de entrada passa pela identificação do plano de negócios”, diz Francilene. Cada incubadora abre o edital para a seleção de empresas em uma data própria. Para participar, os empreendedores pagam uma taxa mensal que varia conforme a região e o local de incubação. No Cietec, em São Paulo, por exemplo, a taxa custa entre 950 e 1760 reais.
As áreas mais buscadas em incubadoras de base tecnológica são biomedicina, biotecnologia, multimídia, educação à distância, energias alternativas, tecnologia da informação, internet, instrumentação, automação, laser, mecânica de precisão, fitoterápicos, meio ambiente, novos materiais, química fina, softwares especialistas, telecomunicação e aplicações técnicas nucleares.
Exemplo
Dividindo espaço com o pessoal do Ningo, a Eccaplan ainda não terminou seu período de incubação mas já teve retorno do trabalho. A empresa criou o primeiro programa de compensação ambiental do Brasil para eventos e corporações e já tem clientes grandes, como Vivo, WalMart e IBM. “Criamos o projeto em 2008 e neste ano já crescemos três vezes o faturamento”, explica Fernando Beltrame, presidente da Eccaplan.
Além de estimular a inovação, as incubadoras têm o potencial de gerar postos de trabalho. Segundo a Anprotec, as empresas neste ambiente já geraram 35 mil empregos diretos. “Essas empresas que nascem aqui têm tecnologia de ponta e nascem para faturar bastante, dar empregos muito qualificados e contribuir com a riqueza do país”, diz Risola.
Como 40% das universidades federais brasileiras contam com incubadoras, os projetos se favorecem dessa proximidade. Em média, as empresas ficam incubadas entre 3 a 6 anos, incluindo as etapas anteriores e posteriores à incubação em si, quando os empreendedores passam por diversos cursos, mentoring e conseguem adaptar e aprimorar o projeto. “Normalmente o empreendedor não tem capacidade de administração e gestão para que a empresa nasça, cresça e se consolide sozinha”, explica Francilene.
O processo tem dado bons resultados nos últimos anos. “O objetivo é investir em inovação e aumentar a longevidade dessas empresas, diminuindo o risco de uma morte súbita. Nas incubadoras, a mortalidade está abaixo de 30%”, diz a representante da Anprotec.
Desafios
As incubadoras são mantidas com o apoio de políticas públicas e outros parceiros, como o Sebrae, a FIESP e associações comerciais. Mesmo tendo atingido uma maturidade, as incubadoras ainda têm dois grandes desafios para ultrapassar.
Um deles é a sustentabilidade. “As incubadoras ainda são muito dependentes de recursos públicos. O que falta acontecer é uma revisão do modelo de gestão da incubadora, um processo interno, que envolve o entorno de onde ela está instalada”, diz Francilene.
Outro desafio é a criação de mais parcerias na rede de empresas. “Como elas estão se relacionando? Precisamos atuar em rede, aprendendo e trocando ideias para maximizar a capacidade desses negócios no mercado interno e externo”, explica.
Do zero
O modelo de incubação surgiu em 1959, em Nova York, depois galpão de uma fábrica desativada começou a ser usado como um espaço para pequenas empresas iniciantes, que compartilhavam equipamentos e serviços, como marketing e contabilidade. Entre as empresas estava um aviário, que deu origem ao nome incubadora.
Foi nos anos 70, no Vale do Silício, que as universidades entraram como atores do processo, incentivando universitários a inovarem e empreenderem. No Brasil, a primeira incubadora surgiu em 1984, com a implantação da Fundação Parque de Alta Tecnologia de São Carlos.