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Guru dos empreendedores verdes

O empresário Samy Menasce se tornou referência ao reerguer um negócio tradicional depois de começar a produzir tecidos ecológicos

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

O empresário Samy Menasce, de 58 anos, tornou-se uma espécie de oráculo informal da Cietec, incubadora de empresas tecnológicas sediada no campus da Universidade de São Paulo. Menasce é dono de uma das empresas nascentes acolhidas pela incubadora, a Brasil Ozônio, que desenvolve e vende equipamentos que higienizam a água pela ação do ozônio. Mas é comum vê-lo nos corredores da incubadora dando conselhos a colegas que o procuram. "São pessoas muito entusiasmadas, mas noto que às vezes eles deixam para a última hora a solução de problemas fundamentais, como, por exemplo, a análise da concorrência ou o preço que cobrarão por seus produtos", ele observa. O que faz de Menasce uma espécie de sábio em meio à legião de empresários do Cietec é sua trajetória singular - de executivo da área financeira, tornou-se um empreendedor de sucesso e referência na área de sustentabilidade.

Formado em engenharia, ele fez carreira no Banco Safra até ser incumbido, no início dos anos 1980, de presidir a Filobel, indústria têxtil que, em dificuldades de pagar suas dívidas, havia sido incorporada pelo banco. Menasce tinha seis meses para colocar a empresa no azul ou fechar suas portas. Conseguiu torná-la viável. Mas, em 1986, uma praga agrícola no algodão pôs à prova a rentabilidade do negócio.

Ele resolveu conversar com os principais clientes para avisá-los que não poderia mais entregar os produtos com o preço e na quantidade de outrora. "O destino da empresa mudou quando procurei uma antiga cliente no exterior, dona de um catálogo alemão de produtos vendidos por correspondência. Ela disse que não havia inconveniente em pagar mais, desde que eu passasse a fornecer tecidos ecológicos, que começavam a ser disputados na Europa. Não sabia do que se tratava, mas aceitei o desafio", diz Menasce. Logo descobriria que a sustentabilidade, no caso, tinha a ver com os processos de extração do algodão (colheita manual, para evitar o uso de desfolhantes químicos que permitem a mecanização) e o gasto controlado de corantes e de água (a redução foi de 30 litros de água por quilo de tecido para apenas 5 litros). Mesmo com a quebra da safra, a indústria aumentou os lucros em 25%. A linha ecológica, com selo de qualidade conferido por uma instituição alemã, tornou-se o carro-chefe da Filobel e, em 1992, a empresa foi credenciada para fornecer as camisetas com a marca Greenpeace.

A parceria com a OnG ambientalista teria um grande impacto na carreira do então executivo. Embora continuasse a trabalhar para o grupo Safra, de onde só sairia em 1995, criou em 1987 sua própria empresa, a Todaba, que se tornaria a licenciadora oficial de produtos da grife Greenpeace. "Como o Greenpeace é muito rigoroso com os produtos de sua marca, me tornei uma referência no mercado de produtos ecológicos", diz Menasce. "O resultado é que recebo pelo menos dez e-mails toda semana de empreendedores dessa área querendo vender sua idéia", afirma.

Foi assim que Menasce conheceu em 2003, o cardiologista catarinense Edison de Cezar Philippi, inventor nas horas vagas e entusiasta do uso do ozônio para fins medicinais, que queria criar uma empresa de equipamentos de ozônio e procurava um sócio para a empreitada. "Ele tinha um processo de uso de ozônio que era altamente sustentável. Tivemos uma sinergia forte e nos tornamos sócios", lembra-se. A vantagem do ozônio é que ele elimina microrganismos da água sem a necessidade de adicionar cloro. Depois de um ano de conversas, decidiram criar a Brazil Ozônio. A primeira opção para sede de empresa era a cidade de Blumenau, onde Philippi vivia. Mas a dupla acabou seduzida pela proposta do Cietec - Maurício Susteras, consultor da incubadora e colega de faculdade de Menasce, pediu que a Brasil Ozônio fosse criada lá para ajudar a dar mais musculatura à incubadora. O interesse da incubadora se explica: a Cietec abrigou mais de 120 empresas desde sua criação, sendo que um terço delas desenvolve, como a Brasil Ozônio, soluções no campo da tecnologia ambiental - da reciclagem de garrafas PET e lâmpadas fluorescentes a soluções diversas para evitar o desperdício de água, entre outras. "Juntamente com as empresas de software, a rede de empresas de tecnologia ambiental é uma das vocações mais fortes da incubadora", diz Sergio Risola, diretor do Cietec. "Como há uma demanda crescente da sociedade por produtos e serviços ligados ao meio ambiente, é natural que as empresas busquem negócios viáveis nessa área", afirma.

O sócio Philippi acabaria morrendo em 2006. Menasce desde então passou a cuidar sozinho da Berasil Ozônio. Já conseguiu financiamento de agências de fomento à pesquisa e atraiu um sócio capitalista para acelerar o crescimento do negócio. Garante que não precisou pôr dinheiro de seu bolso no negócio. "Vim do mercado financeiro e  conheço meios para alavancar o crescimento de uma empresa", diz. Tem se empenhado bastante na tarefa de divulgar os usos potenciais do ozônio - de equipamentos para limpeza de piscinas e aquários ao tratamento de efluentes e a eliminação de fungos de sementes. Até a piscina da Granja do Torto, em Brasília, recebeu um de seus equipamentos, depois que Menasce foi a Brasília mostrar o potencial da tecnologia aos ministérios da agricultura e da pesca. Hoje, a empresa fornece 14 soluções diferentes baseadas na higienização por ozônio. O faturamento em 2007 foi de R$ 1,2 milhão, devendo chegar a R$ 2 milhões em 2008. Dispõe de 12 funcionários e 2 pesquisadores. "A idéia é desenvolver novas soluções, crescer e ganhar fôlego para a abertura de capital", diz Menasce, que não descarta envolver-se na criação de outras empresas depois que a Brasil Ozônio emancipar-se e deixar a incubadora.

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