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Franquias na hora da separação

Em dois anos, os franqueados de mais de um terço dos restaurantes Bon Grillê deixaram a rede. O que se pode fazer quando o rompimento for inevitável?

Maurício Freire, da Platinan: Disputas judiciais com ex-franqueados que abandonaram a rede de restaurantes Bon Grillê nos últimos três anos (Felipe Gombossy)
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Da Redação

Publicado em 12 de junho de 2012 às 16h38.

São Paulo - Durante seis anos, o empreendedor Rivadávia Rodrigues Júnior, de 42 anos, foi dono de uma unidade da rede de restaurantes Bon Grillê num dos principais shoppings de Goiânia. No fim de 2008, sua relação com a franqueadora ficou ruim.

"O custo dos ingredientes do cardápio subiu, a rentabilidade da loja caiu e não recebi orientação da matriz para reverter a situação", diz ele. "Eu estava perdendo dinheiro."

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Em fevereiro de 2009, Rodrigues decidiu fechar a unidade e, seis meses depois, abriu no mesmo local uma unidade da Montana, rede concorrente da Bon Grillê.

Histórias como a de Rodrigues não são casos isolados na Bon Grillê. Desde 2009, a rede perdeu 40% de suas unidades. No fim do ano passado, eram 32 restaurantes, 20 a menos do que em 2009. Em 2011, as receitas dos restaurantes da Bon Grillê foram de 33 milhões de reais, uma queda de mais de 20% em relação a 2009.

O desempenho contrasta com o momento das cadeias de franquias no Brasil, que no mesmo período — impulsionadas pela expansão do consumo e pelo aumento do poder aquisitivo da população — cresceram 40% em faturamento, segundo dados da Associação Brasileira de Franchising.

O que aconteceu com a Bon Grillê?

A empresa surgiu em 1994, quando alguns integrantes da família Bonfiglioli — ex-acionistas da Cica, fabricante de alimentos comprada no começo da década de 90 pela Unilever — decidiram fundar uma rede de restaurantes. Em 15 anos, a Bon Grillê cresceu — e parecia estar vivendo seu grande momento quando os problemas com os franqueados começaram a aparecer.


Em 2009, os donos da Bon Grillê pagaram 1,2 milhão de reais por 65% de participação na rede de franquias de cafeterias Vanilla Caffè, fundada em 2007 pelo paulista Maurício Freire, de 44 anos, e seu irmão Sérgio, de 36.

As duas empresas foram reunidas na holding Platinan, e os sócios anunciaram planos de expansão segundo os quais a holding poderia comprar mais duas redes de alimentação e preparar a Platinan para abrir o capital. "Muitos de nós, donos de unidades, ficamos chocados", diz um ex-franqueado, que prefere não se identificar. "Enquanto os donos da rede falavam em aquisições e faziam planos para o futuro, sofríamos com os prejuízos."

A origem das desavenças na Bon Grillê está num dos pontos mais delicados do relacionamento entre franqueados e franqueadores — a negociação do preço dos insumos que a franqueadora conduziu com os fornecedores. Segundo ex-franqueados, o principal problema estava no custo da carne.

"Nós pagávamos 20% acima do preço do mercado para comprar peixe, frango e carne bovina", diz Silvio Bricarello, que fechou uma loja no Shopping Tamboré, em Barueri, na Grande São Paulo. No cargo de superintendente da Platinan, Freire — o sócio oriundo da Vanilla Caffè — é quem está conduzindo essa situação difícil. Ele diz que não foi bem assim.

"Os franqueados descontentes estão comparando coisas diferentes", diz Freire. "Nossa carne já chegava fatiada às lojas, enquanto em outras redes, não."

Com a rentabilidade em queda e muitas lojas entrando no prejuízo, os franqueados passaram a reclamar também do relacionamento com a Platinan. Eles se queixavam  do que consideravam falta de investimentos na divulgação da marca, baixa frequência das visitas de consultores de campo e obsolescência do layout das lojas.

Freire atribui os problemas dos franqueados à falta de preparo deles para gerir seus negócios. "Alguns deles não foram capazes de administrar bem a operação", afirma Freire.


Casos de incompatibilidade entre franqueados e franqueadores não são incomuns. Por isso, os contratos que formalizam a adesão de um empreendedor a uma rede de franquias costumam ter cláusulas que estabelecem os direitos e deveres de cada um dos envolvidos caso chegue o dia em que uma das partes precise ou queira sair.

Há regras determinando desde como um franqueado deve proceder para vender sua unidade — a franqueadora costuma ter a preferência para recomprar a loja — até que tipo de atividade ele pode exercer após se desligar da franquia (normalmente, o ex-franqueado deve cumprir um período de quarentena, no qual fica proibido de iniciar outro negócio no mesmo mercado).

Na teoria, as regras serviriam para evitar estresse na hora da separação. Aplicadas na prática no caso da Bon Grillê, deram origem a uma série de processos judiciais.

A Platinan moveu uma ação contra o ex-franqueado Rodrigues, de Goiânia, por ele não respeitar o período de dois anos de quarentena antes de abrir a unidade da rede Montana — enquanto o processo tramita na Justiça, o empreendedor pode continuar com o restaurante aberto. (Em entrevista a Exame PME, Rodrigues preferiu não se manifestar sobre essa questão.)

Noutro processo, a franqueadora cobra do empreendedor Silvio Bricarello, ex-franqueado do Shopping Tamboré, o valor dos royalties calculados sobre o lucro que a matriz teria a receber até o fim do contrato de franquia. Bricarello questiona o argumento afirmando que o negócio dava prejuízo e, portanto, não teria lucros sobre os quais calcular os royalties.

"Nos contratos, as franqueadoras se cercam de precauções para evitar que seu modelo seja copiado por quem deixa a rede, mas muitas das cláusulas dão brechas a questionamentos legais", diz o advogado Daniel Dezontini, especialista em direito contratual.

Em meio aos problemas, quais as perspectivas de futuro para a Bon Grillê e seus franqueados? Para Freire, o momento é de recuperação. Segundo ele, no ano passado os restaurantes da rede faturaram 33 milhões de reais. "É 10% mais que em 2010", diz Freire.   Ele conta que já fechou contratos para abrir quatro lojas até o fim do primeiro semestre. "Já voltamos a crescer", diz Freire.

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