D'Pil (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 4 de dezembro de 2014 às 09h52.
São Paulo – Vinte por cento dos 450 franqueados da rede de depilação D’Pil estão enfrentando problemas para funcionar pelo menos desde abril deste ano. A máquina fornecida pela franqueadora não tem autorização da Anvisa para ser usada no Brasil. Com isso, quem já tinha o equipamento foi proibido de usá-lo e quem estava na fila não recebeu o maquinário, que está suspenso no porto.
De acordo com a Anvisa, a importação, a distribuição, o comércio e a utilização do equipamento “Sistema de Luz Pulsada para Estética, modelos M80E+ E Y- Light”, fabricado pela empresa Beijing Honjon Tecnologies, estão suspensos. Em nota, a agência disse que “em inspeção, constatou que a empresa importava, comercializava e franqueava os produtos para outras unidades sem ter autorização de funcionamento e alvarás sanitários. As suspensões durarão o tempo necessário para a regularização do produto”.
Com isso, os franqueados estão gastando suas reservas para manter suas unidades abertas e até comprando máquinas com o próprio dinheiro para conseguir algum faturamento. André Luiz Bordalho, franqueado da unidade Bebedouro, no interior de São Paulo, está aguardando a entrega da máquina há seis meses. “Estou mantendo o negócio e gastando de 6 a 7 mil reais por mês com aluguel e funcionários mesmo sem ter nenhuma receita”, conta.
Bordalho fechou negócio com a franquia em dezembro do ano passado e pagou mais de 18 mil reais de sinal para receber móveis, itens de papelaria e o equipamento de depilação em até 115 dias. “Já paguei mais de 23 mil reais para D´Pil pela franquia e meu prejuízo já soma quase 30 mil reais”, conta. Assim como ele, a empresa diz que pelo menos outros 20 franqueados estão na mesma situação.
A D’Pil, controlada pela empresa JC Comércio, diz que o problema todo está em uma das importadoras que fornece equipamentos para a franquia. “A empresa foi vítima de um pequeno equívoco do nosso fornecedor. Ele apresentou uma máquina com ISO 9000 na Europa e certificado do Inmetro, mas não tinha o certificado da Anvisa”, explica Gustavo Calvet, advogado e porta-voz da D’Pil. Segundo ele, o fornecedor está sendo processado e, por isso, não pode dizer o nome da empresa.
Batalha judicial
A advogada Orenir Dolfi, que representa 50 franqueados, explica que o clima entre eles está bastante prejudicado. “O problema foco é a empresa ter iniciado com máquinas que não haviam sido liberadas pela Anvisa para utilização. Outras empresas importam a máquina e a D’Pil transfere para os franqueados, que acharam que estava tudo em dia e aceitaram”, conta.
O franqueado Leandro Caparroz, de Sertãozinho, interior de São Paulo, é um dos que está buscando as vias legais para conseguir desfazer o contrato de franquia. “Eu não posso trabalhar com mais nada enquanto não tenho resposta deles. Estou entrando na Câmara Arbitral de São Paulo para desistir da franquia”, explica.
Outro grupo de franqueados, que corresponde a cerca de 15% da rede, já estava usando as máquinas quando foi informado de que o equipamento seria lacrado pela Anvisa. Para eles, a D’Pil garante que disponibilizou todas as máquinas alternativas que encontrou no mercado. Os empreendedores rebatem dizendo que estes equipamentos não têm capacidade para atender os clientes. “Eu paguei 42 mil reais por uma máquina particular para não parar de funcionar. A outra máquina vivia dando problemas”, diz um franqueado que pediu para não ser identificado.
Segundo Calvet, enquanto aguarda a decisão da Anvisa, a empresa já solicitou o equipamento para outros fornecedores e, no próximo mês, deve normalizar o atendimento em toda rede. “A gente esperou até agora porque a máquina vale a pena. Os franqueados devem aguardar até que as novas máquinas estejam prontas e, se até lá não houver a liberação, trocaremos o equipamento”, diz. Os clientes que pagaram pelo serviço estão sendo atendidos, de acordo com o advogado.
Sobre o período em que os franqueados estão parados, a rede diz que vai analisar caso a caso e ainda não sabe se haverá suspensão de taxas ou royalties após a entrega da máquina. “É impossível fazer alguma promessa nesse sentido. Assim que o franqueado receber a nova máquina, ele será procurado para minimizar o problema. Não posso dizer que ele será ressarcido”, diz Calvet.
Suporte aos franqueados
Os franqueados reclamam ainda da falta de comunicação com a rede. Muitos acreditam que caíram em um golpe ou que a empresa não vai honrar o contrato. “Estamos proibidos de trabalhar desde julho por determinação da Anvisa e desde então a franquia não nos repassou qualquer tipo de explicação ou ressarcimento”, reclama Cintia Ribeiro, franqueada no Mato Grosso. A D’Pil justifica dizendo que o call center ficou pequeno para atender todos os franqueados. “Nós tínhamos a média de atendimento para cada franqueado de 15 minutos. Ocorre que ele liga até 10 vezes ao dia e fica uma ou duas horas no telefone com um atendente”, diz Calvet.
Para reestabelecer a relação com o franqueado, a D’Pil contratou uma empresa de consultoria que vai diagnosticar os principais problemas da rede. “Fomos contratados para descobrir a origem do problema e propor soluções. A empresa cresceu rápido demais e tem que dar uma parada para fazer uma arrumação”, explica Marcelo Cherto, sócio da Cherto Consultoria.
Segundo ele, a consultoria sugere soluções para a rede, mas quem fica responsável por implementar as mudanças é a própria franqueadora. “A gente diagnostica e orienta sobre os caminhos a serem seguidos. Se eles vão fazer ou não, a gente não sabe”, diz. Foi escolhida uma amostra de 35 a 40 franquias que serão visitadas em vários estados para uma avaliação profissional. “Esses erros acontecem com quem cresce rápido demais. A consultoria já fez este trabalho de chekup com quase 80 empresas, como Yazigi, Bob’s e Spoleto”, conta Cherto.
Procurada pela reportagem, a Associação Brasileira de Franchising (ABF) disse, em nota, que “não tem poder de fiscalização, muito menos de impedir a venda de franquias”. De acordo com o comunicado, a entidade mantém uma Comissão de Ética, que avalia casos parecidos. “O caso da D’Pil não chegou a essa comissão”, conclui.
Atualmente, a D’Pil afirma que apenas quatro processos contra a marca estão em andamento, mas não revela os motivos. A empresa se nega a dizer também de onde era importada a máquina que foi proibida – de acordo com os franqueados, o aparelho vem da China e custa um quinto do valor do mercado – e garante que não está comercializando novas unidades até que toda a rede esteja pronta para operar.