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Fintech Beblue vende controle a fundo para resolver atraso de pagamentos

O fundo de investimento Vit já é dono de outras empresas na área financeira. Clientes reclamam de atraso no repasse de pagamentos e cobrança indevida

Smartphone usa serviços da Beblue: sócios fecharam, na semana passada, a venda do controle da empresa para o fundo de investimento Vector Inovação e Tecnologia (Beblue/Divulgação)
NB

Naiara Bertão

Publicado em 5 de outubro de 2018 às 15h37.

A fintech Beblue, de Ribeirão Preto (SP), que gerencia pagamentos e programas de fidelidade de pequenos e médios comerciantes, continua dando dor de cabeça para alguns clientes.

Comerciantes de vários estados continuam reclamando de atrasos nos repasses de pagamentos, cobranças de taxas indevidas e de receberem valores menores do que o que teriam direito. Há quem afirme que não recebe desde maio o dinheiro das vendas a prazo e dos programas de recompensas que a startup gerencia.

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Além de fazer a gestão do sistema de pagamento de estabelecimentos comerciais, a Beblue também gerencia campanhas de atração e retenção de clientes para os parceiros.

Para resolver de vez os problemas, os sócios da Beblue fecharam, na semana passada, a venda do controle da empresa para o fundo de investimento Vector Inovação e Tecnologia (Vit), que tem como principal investidor o empresário Érico Ferreira, dono também da financeira Omni (o valor da transação não foi revelado).

A Omni já havia disponibilizado uma linha de crédito de 1,5 bilhão de reais à Beblue no início de setembro para tentar solucionar o rombo no fluxo de caixa, fruto da queda de 70% no volume de transações financeiras de seus parceiros comerciais durante a greve dos caminhoneiros, em maio.

Segundo o fundador da empresa, Daniel Abbud, como boa parte dos parceiros comerciais são postos de combustíveis, as duas semanas de greve dos caminhoneiros foram suficientes para bagunçar o fluxo de caixa. Com milhões de reais a menos no caixa, a Beblue começou a atrasar os repasses aos clientes e a cobrar, da noite para o dia, por serviços que antes eram isentos de taxas.

No caso dos pagamentos, o serviço de antecipação de recebíveis, o adiantamento do dinheiro das compras a prazo, foi suspenso temporariamente e só voltou a funcionar normalmente esta semana, segundo o empresário. Apesar de ser um serviço adicional, muitos comerciantes contam com o dinheiro já nos primeiros dias após as vendas e qualquer atraso pode fazer diferença na hora de pagar fornecedores e funcionários.

Em paralelo, a Beblue aumentou de 30 para 45 dias o prazo que leva para transferir o subsídio das campanhas promocionais que investe. Além de gerenciar os pagamentos dos estabelecimentos comerciais, a Beblue também faz a gestão de programas de atração e retenção de clientes para os parceiros. Em algumas campanhas, a startup subsidia promoções junto com o comerciante. Nos últimos meses, foram dezenas de milhões de reais investidos neste serviço.

Por fim, para aumentar as receitas, a Beblue passou a cobrar por serviços que antes fazia de graça aos parceiros comerciais, como o uso da sua maquininha de cartão. Até junho, quem movimentasse mais de 15 mil reais por mês era isento da cobrança de 159 reais de mensalidade. Com a necessidade de aumentar o caixa, a empresa começou a descontar do dia para a noite o valor de todos os clientes. Agora, Abbud diz que já voltou a isentar algumas contas. Até para fazer as campanhas promocionais a Beblue passou a exigir uma taxa administrativa que antes não tinha.

Outra reclamação frequente de comerciantes é a falta de clareza sobre o que está acontecendo com a empresa. As respostas de atendentes e gerentes de contas quando confrontados por clientes sobre os problemas são vagas, como “Acionarei os responsáveis para verificação, desde já peço desculpas pelo ocorrido”, “Conforme informamos, repassamos o seu caso ao setor responsável para a tratativa, em breve será solucionado” e “Encaminhamos o seu caso ao departamento de ouvidoria. Eles estão trabalhando para resolver o seu caso o quanto antes". Mas, depois, não prosseguem no caso.

A falta de transparência sobre os atrasos e taxas levou muitos lojistas a reclamar da empresa nas redes sociais e em sites de queixas. Somente na última semana, foram postadas 15 novas reclamações de lojistas especificamente sobre os atrasos de pagamento no site Reclame Aqui. Mais de 200 já haviam sido escritas por parceiros desde o início do ano e dezenas de estabelecimentos afirmam que deixaram de contar com os serviços da empresa.

Venda do controle

Para resolver o problema, a fintech fechou às pressas no início de setembro um acordo com a Omni, que envolvia uma linha de crédito de 1,5 bilhão de reais e a venda de uma fatia minoritária. Ao perceber que precisava de mais fôlego financeiro para salvar o negócio e conseguir crescer, o jeito foi colocar o controle à venda.

“A Vit acreditou no negócio e fez um aporte suficiente para sustentar o crescimento da Beblue”, diz Abbud, que deixa nesta segunda-feira de ser o presidente da companhia e assume a diretoria de marketing. Um novo diretor financeiro também vai ser apontado pelo fundo.

“Vamos poder oferecer mais serviços financeiros, como crédito pessoal e compra antecipada de ticket”, diz Abbud. A compra antecipada de ticket, ainda não é comum no Brasil. Consiste em adiantar o dinheiro ao comerciante antes mesmo de a compra ser feita, com base em seu histórico de transações.

Com a Beblue, o Vit expande ainda mais seu portfólio de empresas financeiras. O fundo é dono também da Avante, que trabalha no segmento de microcrédito, da Emprestto, uma plataforma online para concessão de crédito, e da Trigg, emissora de cartões de crédito, por exemplo.

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