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Mariana Fonseca
Publicado em 11 de julho de 2019 às 06h00.
Última atualização em 28 de julho de 2020 às 15h17.
O que o aplicativo de delivery Rappi, a varejista de eletrodomésticos Via Varejo e o marketplace Mercado Livre têm em comum? Os três apostam em serviços financeiros desenvolvidos dentro de casa como uma linha complementar de receita, assim como fez a gigante de tecnologia Apple ao criar seu próprio cartão de crédito. O movimento fez outras grandes empresas se interessarem em criar suas próprias frentes financeiras -- e algumas fintechs aproveitam para oferecer formas mais simples de chegar a um resultado similar.
Elas são as “fábricas de fintechs”, responsáveis pelas maquininhas do aplicativo iFood, do site de compras coletivas Peixe Urbano ou do comércio eletrônico de construção MadeiraMadeira. O movimento é uma forma de se diferenciar diante do mar de mais 600 fintechs brasileiras, mas testa a elasticidade do inchado mercado das maquininhas, com mais de oito milhões de pontos de venda apenas nas cinco maiores adquirentes do país.
A fintech Zoop foi criada em 2012, antes da expansão das maquininhas e das próprias startups de serviços financeiros. Eles não aproveitaram esses crescimento, mas sim o de marketplaces. O que antes era uma relação de pessoa para pessoa (como o taxista e o passageiro) se tornou uma relação mediada (como o uso do aplicativo de mobilidade urbana Uber). As transações se tornaram mais complexas.
“Os marketplaces enfrentariam uma grande barreira para modernizar sua estrutura de pagamentos para procedimentos mais automáticos, seguros e simples ao consumidor. Queríamos evitar esse trabalho penoso por meio de uma solução pronta”, afirma Rodrigo Miranda, cofundador da Zoop.
A Zoop oferece três tipos de serviços: captura de pagamentos (serviços de pagamento digital ou físico, como uma API para fazer a cobrança dentro de uma plataforma ou o software para maquininhas já com certificação das bandeiras); de gerenciamento (estrutura de compras digitais e repasse de pagamentos, como contas digitais); e de saída de pagamentos (transferência para instituições financeiras de acordo com normas de compliance e regulação governamental).
O cliente mais conhecido da Zoop é o iFood, que disponibiliza a própria maquininha com regras específicas de repasse automático dos pagamentos ao aplicativo, ao restaurante e ao entregador. Outros clientes são a Avec (salões de beleza), a Medicinae (medicina) e a Sympla (eventos).
“Empresas de diversos setores perceberam que uma forma de fidelizar o cliente é manter a gestão financeira dentro de casa, dando uma conta ou um cartão. Isso faz com que ele compre mais na sua loja e é mais um potencial de receita ao oferecer crédito, um meio de pagamento ou até mesmo investimento”, afirma Daniel Teixeira, diretor de novos negócios da Zoop.
A Zoop se monetiza por meio de taxas sobre as transações -- não há cobrança para instalar APIs ou softwares. O negócio trabalha com 500 empresas e processa “bilhões de reais” em transações por ano. O volume aumentou 40 vezes no último ano em comparação com 2017 e a fintech espera bater 20 bilhões de reais em operações em 2020.
A Zoop já obteve 20 milhões de dólares em investimentos -- a maior parte vinda da gigante de tecnologia Movile, dona do iFood, que realizou um aporte 18,3 milhões de dólares. Outros investidores são fundos internacionalmente conhecidos, como Qualcomm Ventures e Riverwood Capital.
Já a fintech Hash foi criada há apenas dois anos, no meio da explosão das startups de serviços financeiros. Os cofundadores João Miranda e Thiago Arnese eram funcionários da Pagar.me, fintech vendida para a Stone.
“Os clientes queriam consultorias para transacionar pagamentos. Estudei esse mercado, especialmente no mundo físico, e vi que era difícil construir uma solução personalizada de pagamentos, como uma maquininha”, diz Miranda.
A Hash mostra como as “fábricas de fintech” estão buscando especialização como forma de se diferenciar. Seu foco está na mediação de vendas entre empresas (B2B), com serviços de pagamento e de banking (carteiras virtuais e contas digitais, por exemplo). “No modelo para o consumidor, B2C, há uma disputa pesada pelas melhores taxas e o melhor marketing.”
A Hash atende tanto clientes regionais, que revendem suas maquininhas white label e dão suporte, quanto nacionais, que integram as maquininhas white label à sua cadeia de pagamento e oferecem soluções integradas. Um atacado que vende para varejos, por exemplo, pode fornecer sua maquininha acoplada a descontos nos produtos e uma conta digital para controlar o saldo de cada estabelecimento e fornecer benefícios como parcelamento de compras.
Oferecer vantagens específicas ao relacionamento B2B e custos menores do que os de desenvolvimento próprio são formas de competir no mar das maquininhas. Segundo Miranda, construir um sistema de subadquirência (intermediação entre processadoras de pagamento/adquirentes, bandeiras, meio de pagamento e clientes) próprio custaria de três a dez milhões de reais para as companhias.
A popularização das fintechs ajudou a Hash a crescer. “As empresas começaram a procurar como os serviços financeiros poderiam se aplicar a elas, ainda sem consciência do que exatamente construir”, afirma Almeida. Soluções da Hash estão em 15 mil estabelecimentos comerciais. A fintech atende seis clientes diretos, como MadeiraMadeira e Peixe Urbano. Em 2018, mediou 100 milhões de reais em operação. Para 2019, espera atingir 400 milhões de reais.
A Hash recebeu investimentos dos fundos Canary e KaszeK e dos empreendedores brasileiros Henrique Dugubras e Pedro Franceschi, criadores da fintech Brex (avaliação de 2,6 bilhões de dólares, com sede no Vale do Silício).
A depender das “fábricas de fintechs”, a lista das mais de 600 startups de serviços financeiros tende a ficar cada vez maior -- e, quem sabe, incluir algumas empresas que nem pensaram ser uma fintech quando foram concebidas.