Aula da Peloton: a instrução logo se transformará em um vídeo, acessível por meio de suas bicicletas e esteiras (Peloton/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 19 de agosto de 2018 às 08h00.
Última atualização em 19 de agosto de 2018 às 08h00.
São Paulo - As ideias de negócios mais lucrativas, por vezes, estão nas soluções mais óbvias - mas que ninguém resolveu executar até então. Que o diga a startup Peloton, do Vale do Silício. Ela resolveu trazer para o século XXI aquele hábito antigo de assistir a aulas de exercícios pela televisão. Para isso, uniu bicicletas de spinning e esteiras a telas com aulas streamadas de fitness, no maior estilo Netflix.
No começo da Peloton, poucos investidores entendiam os benefícios de combinar a venda de hardware (o próprio equipamento de academia) com software (o streaming das aulas). Seis anos e 250 mil bikes depois, o negócio cresce a passos cada vez mais largos. Em maio deste ano, o negócio chegou a um valuation de um bilhão de dólares e se tornou um unicórnio. Atualmente, a ideia já conquistou um milhão de dólares em investimentos e é avaliada em quatro bilhões de dólares.
O último investimento, de série F, foi o maior de todos: 550 milhões de dólares de fundos como TCV (investidor nos negócios Facebook, LinkedIn, Netflix e Spotify, por exemplo) e Tiger Global Management (negócios como Facebook e LinkedIn; no Brasil, 99 e Peixe Urbano).
A cobrança é feita tanto pelo equipamento em si - uma bicicleta sai por quase dois mil dólares, ou 7.850 mil reais, enquanto uma esteira sai pelo dobro - quanto pelas aulas, com uma mensalidade de 39 dólares (122 reais). O custo é alto e a falta de alguém acompanhando pode ser assustadora, mas a startup divulga uma taxa de retenção de 96% de seus usuários. A construção de um perfil próprio, como um Facebook ou o Instagram, e a competição com outros alunos são alguns aspectos que ajudam a Peloton a ter sua base de clientes apaixonados.
Há 8.500 vídeos nos arquivos da Peloton, que transmite 12 aulas por dia na tela de 22 polegadas dos equipamentos. Quem perdeu uma instrução pode acessá-la novamente, já que elas ficam armazenadas no próprio aparelho.
A mistura de hardware e software, antes tão temida, foi o que atraiu Jay Hoad, sócio do TCV. Ao New York Times, ele comparou o modelo de negócios da Peloton à relação entre o iPhone e a App Store.
Na época do aporte série F, a Peloton falou que usaria o dinheiro para continuar ampliando seus produtos e sua atuação, incluindo uma expansão internacional. A companhia afirmou ao veículo americano estar no caminho para um faturamento de 700 milhões de dólares neste ano fiscal, encerrado em fevereiro de 2019. Para o próximo ano, um IPO também está nos planos - um caminho natural para uma startup que já chegou a uma rodada tão avançada de aportes.
Ainda que o dinheiro venha rapidamente, a corrida da Peloton para o IPO parece mais uma trilha - obstáculos a toda hora.
O mercado de fitness estadunidense é gigantesco: o Crunchbase cita o Statista para dizer que a indústria global de fitness e de clubes de saúde gera 80 bilhões de dólares em receita todos os anos, sendo que 57,2% dos seus membros estão nos Estados Unidos.
Alguns concorrentes da Peloton são as startups Flywheel Sports e NordicTrack, que oferecem bicicletas de academia com aulas em vídeo. Ao mesmo tempo, a startup FightCamp foi chamada de “a Peloton do boxe”, enquanto o empreendimento Tonal foi chamado de “o Peloton da musculação”.
Contra tantos competidores, a Peloton acredita em sua capacidade de fidelizar e reter consumidores para se manter em destaque no mercado, a exemplo do que fez a academia de spinning SoulCycle e seus fãs tão devotos quanto os de um culto religioso.
Em um mercado tão efervescente de competidores e investidores, a Peloton precisa ter tanto a agilidade de um corredor de 100 metros quanto a resistência de um maratonista.